quarta-feira, 20 de janeiro de 2010


FONTE: http://edsongil.wordpress.com/2009/04/29/a-cama-onde-cresce-a-solidao-das-mulheres-livres/



"Debaixo dos cobertores"


por LUIZ FELIPE PONDÉ

SE VOCÊ for convidar uma colega de trabalho para sair, melhor pedir a seu advogado para ligar para o advogado dela, pois “desejo é poder”. Nos EUA, órgãos especializados em assédio sexual em universidades são tão comuns quanto baratas em casas sujas. Políticas públicas podem causar efeitos colaterais nefastos. E as coisas só pioram com a epidemia de políticas públicas, marca de uma democracia cada vez mais maníaca por regular a respiração de seus súditos.

Há uma relação invisível entre os mecanismos modernos de controle e a paranoia. Paranoicos detestam a liberdade porque ela é incontrolável e promíscua.

Desde o utilitarista Jeremy Bentham (século 18) e seu panóptico (máquina para vigiar prisioneiros), os governos sonham com o controle “benéfico” do comportamento moral da coisa pública (res publica) via mecanismos de vigilância contínua.

Dizia o sociólogo Robert Nisbet (século 20): é uma ilusão supor uma vocação evidente da república para a liberdade. Quanto mais moral ela for, mais totalitária ela será. Ainda Nisbet: os especialistas, com suas visões sectárias e pouco isentas, são agentes de destruição da liberdade quando se fazem oráculos. Nas ciências humanas, temperamentos e ressentimentos determinam a escolha de objetos e teorias.

Respiramos a “politização do amor”. Grande parte dos oráculos das políticas do amor é gay ou feminista. Os gays têm pouco interesse (por razões óbvias) nos efeitos colaterais de sua “ciência” do amor sobre o cotidiano miúdo dos homens que amam mulheres. Quanto as feministas, quando não são também homossexuais, se mostram, muitas vezes, rancorosas e repetitivas: do que trata “Hamlet”? Opressão da mulher. E a Bíblia? Idem. E adivinhe qual a questão no Pato Donald?

O argumento (feministas são rancorosas), nada científico, é usado pelas próprias mulheres cansadas das feministas neandertais que ignoram as agonias das mulheres já livres.

Já nos anos 70, feministas como as do grupo de Taipe afirmavam que apenas lésbicas seriam de fato mulheres emancipadas, porque as heterossexuais seriam oprimidas pelo desejo que sentem pelo macho.Para elas, o amor heterossexual flertaria com o “inimigo”. Eu, ao contrário, penso que este tema deveria ser tratado justamente por quem “ama o inimigo”.O impacto no cotidiano deste “antiamor” se dá via arte, leis, educação, enfim, os oráculos de Nisbet.

O resumo da ópera é o seguinte: a mulher ganhou dinheiro e com isso deu um pé no mau marido, que existem aos montes porque a regra geral é a insatisfação. As feministas acertam quando dizem que o homem teme a mulher (não por conta dessa bobagem de “inveja do útero”, ele tem mais é “medo da dor do útero”), mas sim pelo medo do fracasso sexual diante dela. As neandertais tratam dessa ferida com ácido.

Mas a vida real vem à tona, quando sai de cena a militância e entra em cena a cama onde cresce a solidão das mulheres livres.Não se trata de dizer que as mulheres “devam voltar para o tanque” -isso é idiota-, mas sim que as feministas neandertais só atrapalham quando levam a política para debaixo dos cobertores. Fiquem nas delegacias e sindicatos, lugares onde a vida é pobre e bruta.

Dizem as mulheres: queremos homens sensíveis, mas nem tanto, queremos ter sucesso profissional, mas jamais sustentar homens sem sucesso profissional (dividir contas sempre já seria sinal suficiente de pouco sucesso por parte do parceiro), queremos ser livres, mas não homens bananas.

Mulheres não suportam homens tristes. Seria, afinal, o sucesso profissional dos machos um critério definitivo do desejo das fêmeas por eles? Quando o homem deve começar a dizer “não” a suas mulheres livres?A noite vazia é o paraíso dos homens e mulheres livres. Nela, eles respiram a banalidade das conquistas repetidas. Uma infinidade de seduções insignificantes.

O acúmulo das experiências múltiplas gera uma consciência afetiva cínica. Assola-me o sentimento profético de que quanto mais experimento, menos sou capaz de experimentar. Na juventude a solidão é opção, com o tempo não passa de falta de opção. Ao mesmo tempo em que as rugas nascem o corpo cansa e a alma desespera.

As políticas do amor são um dos modos mais sofisticados de barbárie “científica”. Haveria uma relação invisível, como um fantasma obsessivo, entre ódio e políticas do amor?



Fonte do artigo : http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2704200917.htm

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