tag:blogger.com,1999:blog-823377479682327772024-02-19T00:58:06.130-08:00FilosofiaChristiane Foricnitohttp://www.blogger.com/profile/15701277770166618026noreply@blogger.comBlogger24125tag:blogger.com,1999:blog-82337747968232777.post-76173464023147765952011-04-07T10:33:00.000-07:002011-04-07T10:33:27.706-07:00Nietzsche e a Arte<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhu4CDx8_KuNLtdfHBCrJDFcL6Y43WuyYRgxp9YjE8jnaYx2SMVstkzCK394pMMteoOSIwKZYVFP09wfSgiIhMmkrd-h2kGAfciZyMZfmm_Z6z-LKLp87KXjQ1_8fgCcVFUxB-7zX6oQkg/s1600/el-rapto-de-las-hijas-de-leucipo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhu4CDx8_KuNLtdfHBCrJDFcL6Y43WuyYRgxp9YjE8jnaYx2SMVstkzCK394pMMteoOSIwKZYVFP09wfSgiIhMmkrd-h2kGAfciZyMZfmm_Z6z-LKLp87KXjQ1_8fgCcVFUxB-7zX6oQkg/s320/el-rapto-de-las-hijas-de-leucipo.jpg" width="300" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Por Christiane Forcinito</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O primeiro livro em que Nietzsche escreve se refere a arte. Em "O nascimento da tragédia" ele explora a noção da dualidade de dois princípios artísticos: O "apolíneo" e o "dionisíaco". O fio condutor do tema é a música e ele tem como objetivo encontrar uma resolução sobre o surgimento e o desaparecimento da tragédia grega.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A arte para Nietzsche é algo inerente a vida, isto é, partindo do pressuposto por ele analisado sobre a noção central de vontade de poder , a arte significa o que é vida é. E ele tem um compromisso tanto com a arte como com a vida e a vontade como força motriz como demonstra no primeiro parágrafo da obra aqui citada:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><i>" Teremos ganhado muito a favor da ciência estética se chegarmos não apenas à intelecção lógica, mas à certeza imediata da introvisão de que o contínuo desenvolvimento da arte está ligado à duplicidade do "apolíneo" e do "dionisíaco", da mesma maneira como a procriação depende da dualidade dos sexos, em que a luta é incessante e onde intervém periódicas reconciliações. Tomamos estas denominações dos gregos, que tornaram perceptíveis à mente perspicaz os profundos ensinamentos secretos de sua visão da arte, não, a bem dizer, por meio de conceitos, mas nas figuras de clareza penetrante de seu mundo dos deuses."</i></div><div style="text-align: justify;"><i><br />
</i></div><div style="text-align: justify;">Como aqui se trata de um blog e não uma defesa acadêmica irei expor um em muitas breves linhas a idéia de Nietzsche e a arte não só para a simples compreensão do leitor aqui, mas para um resgistro meu a fim de que os textos aqui escritos contribuam para minha futura tese.</div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="border-collapse: collapse; font-family: Arial;"><br />
</span></div><div style="text-align: justify;">Nietzsche<span class="Apple-style-span" style="border-collapse: collapse; font-family: Arial;"> c</span><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"><span class="Apple-style-span" style="border-collapse: collapse;">omeça falando do drama musical grego, onde há a oposição do dionisíaco ao apolíneo. Viver o dionisíaco é experimentar o lado mais dramático da existência, ou seja, deixar-se viver pela exarcebação dos sentidos. O deus Dionísio é o deus do vinho e da festa. O dionisíaco é o lado apolíneo com o pulsar cósmico da vida. Nela não há fronteiras e limites para a vida. É o instinto, a inspiração e a ação.</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"><span class="Apple-style-span" style="border-collapse: collapse;"><br />
</span></span></div><div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: inherit;"><span class="Apple-style-span" style="border-collapse: collapse;">Segundo o filósofo, os deuses gregos eram necessários para os gregos, pois eles legitimava existência humana mostrando a vida sob uma ótica gloriosa. E com isso a arte grega cumpriria bem o seu papel ( como a arte deve ser segundo o autor) pois, transmitia ao receptor da arte a experiência estética do artista criador.</span></span></div><br />
<div style="text-align: justify;">O apolíneo e o dionisíaco faz parte da estética ativa nietzscheneana pois são observados como par fundamental de impulsos artísticos da natureza, o qual geram estados fisiológicos vitais, estados de sensibilidade tanto no artista quanto no que contempla a obra.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Uma questão que deve ser analisada é o fato do dionísíaco ser encarada apenas como o "lado bacanal" da vida e o apolíneo como o correto, certo, equilibrado. É aí que cometem-se erros na interpretação da filosofia da arte em Nietzsche, pois ambos andam de mãos dadas entre si como forças cósmicas que fazem parte da nossa vida e do nosso ser.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ambas forças se referem a própria vida, isto é, aos ciclos da vida, como nascer, crescer, se subsistir, reproduzir e morrer. Para fazê-los sentir o que Nietzsche quis dizer eis uma citação de Goethe que se enquadra bem no que quis explicar até aqui:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><i>"Nas ondas da vida, na tempestade das ações, subo e desço, teço aqui e ali, nascimento e morte, um mar eterno, uma vida de mudança! Assim crio no estrepitoso mar do tempo"</i></div><div style="text-align: justify;"><i><br />
</i></div><div style="text-align: justify;">Em suma, a principal questão da arte em Nietzsche conduz ao impulso (potência) que chama a arte à vida. A arte em Nietzsche nada mais é do que um ode à vida e as forças que nos conduz, que mais tarde pode ser analisada juntamente com a vontade de potência.</div>Christiane Foricnitohttp://www.blogger.com/profile/15701277770166618026noreply@blogger.com15tag:blogger.com,1999:blog-82337747968232777.post-81813338747045959472011-03-08T11:42:00.000-08:002011-03-08T11:43:32.291-08:00A invenção da verdade e do conhecimento: a importante crítica de Nietzsche em “A verdade e mentira no sentido extramoral”<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCO4CHnRg7Oj8Td5Yo9yfQiZeeSzncPJx2nJxWkQYnjJJ8za32zr9p1gRwuj28BA2CzlFniIPF2BMhyphenhyphene3apVQtJCDZzM8iPCoq81CotfEWfGI1gaA_L2T915jSAII6B_sFCxoz7aTpSio/s1600/Nietzsche1882.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" q6="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCO4CHnRg7Oj8Td5Yo9yfQiZeeSzncPJx2nJxWkQYnjJJ8za32zr9p1gRwuj28BA2CzlFniIPF2BMhyphenhyphene3apVQtJCDZzM8iPCoq81CotfEWfGI1gaA_L2T915jSAII6B_sFCxoz7aTpSio/s320/Nietzsche1882.jpg" width="239" /></a></div><br />
<div style="text-align: justify;">Por Arnaldo Vasconcelos</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><em>"O texto de Nietzsche intitulado “Sobre a verdade e mentira no sentido extramoral” inicialmente guarda em si uma crítica contundente à verdade e ao conhecimento, que vale ser salientado em nossas perspectivas epistemológicas; e que é interessante ter contato em qualquer altura de nossos estudos para refletirmos um pouco a respeito do que é o conhecimento.</em></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><em>A crítica que o texto supracitado guarda é de suma importância e é um tanto desconsertante, quando mergulhados estamos, pois, na rotineira tentativa de estabelecer a verdade, e não tão rotineira, porém já comum pergunta em saber o que é de fato a verdade.</em></div><div style="text-align: justify;"><em></em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>Os termos “verdade” e “conhecimento” são usados numa consonância semântica tênue (não há uma divisão clara a respeito) e o leitor precisa estar um pouco dissolvido da obsessão de tentar separá-las definitivamente. Isso pode soar um pouco esquisito a um analítico; mas se fizermos de tal forma poderemos notar o tom da crítica ácida e da revelação extraordinária que Nietzsche nos dá em seu texto: uma revelação acerca do engano que o conhecimento encerra sobre si.</em></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><em>Uma pequena anedota é contada no início, para que o leitor se mantenha alinhado à visão de que o conhecimento perante a história universal poderá ser pequena e uma invenção, acima de tudo.</em></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><em>A invenção do conhecimento, que já é uma expressão forte, é tomada como algo efêmero, mas cheio de “soberba”, cheio-de-si. E ao mesmo tempo enganadora. E é enganadora, mentirosa, pois seu lugar de um “rápido minuto” é posta como um centro universal; transmutando a pequenez do intelecto humano como se fosse o centro da razão do universo existir.</em></div><div style="text-align: justify;"><em></em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>A seguir Nietzsche informa que até mesmo uma mosca, inundada com um pouco deste intelecto sobrevoaria o mundo, envolvida num pathos ou seja, influenciada por se achar o centro do mundo. A razão, a verdade, o conhecimento, portanto, engana o homem, como se este fosse um detentor de algo, que não possui e que foi criado por ele mesmo.</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>É um pathos na medida em que é uma afetação do comportamento humano perante à grandiosidade da natureza. E é uma afetação que tornou-se, para o homem necessária, para que ele esqueça justamente a posição ínfima e efêmera que pode ter no universo natural, como um todo. É um instinto de sobrevivência, que Nietzsche coloca muito pontualmente.</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>Está então explicado o porque o intelecto faz este homem esquecer de sua origem, de sua pequenez: a infelicidade é mascarada, assim por uma invenção humana. É uma invenção mentirosa pois.</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>Assim o conhecimento o põe como centro de um universo, para que este sobreviva, no ínfimo minuto em que a invenção se põe em funcionamento. Assim o efeito geral deste conhecimento, e do intelecto, é portanto enganar. (p. 53-54).</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>O engano é portanto um mecanismo no qual o indivíduo humano, fraco, é capaz de conservar-se vivo, feliz. É um instinto tão intenso que, o próprio Nietzsche afirma que o que seria em animais a luta com chifres pela conservação no homem está presente sob o mascaramento, o mentir, a dissimulação (p. 53) e a verdade e o conhecimento não fogem deste instinto de dissimulação.</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>Em seguida, Nietzsche argumenta, e esta é uma das chaves de sua argumentação, que o homem não tem um impulso à verdade por honestidade, mas sim por conservação. Pergunta-se ele, então, como pode o homem ter um impulso honesto, efetivo, para a verdade?</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>O homem para Nietzsche está imerso na mentira, na ilusão, que o conhecimento encerra, para que sobreviva à imensidão da natureza que o circunda: assim, então como poderemos chegar a alguma verdade, mesmo não tendo acesso profundo das coisas? Ou ainda pior: não podemos encontrar na verdade nenhum impulso advindo da honestidade. É um impulso enganatório.</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>A consciência é, portanto, um invólucro que impede que trivialidades da natureza atinjam-nos a alma: é uma enganação, também, com um cunho moral (com aquele mesmo impulso de sobrevivência)</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>Assim o impulso à verdade é um instinto de sobrevivência, e também uma ilusão, pois nos coloca como um “centro” do mundo, sem que suspeitemos de sua enganação. Não é, portanto, um impulso dirigido a alguma suposta honestidade. (p. 54).</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>Necessitamos sobreviver, tanto sós e em conjunto (em rebanho, para Nietzsche) e assim esse impulso é para a sobrevivência. Seja em tratados de paz ou outros, como pressuposto de atingirmos uma verdade. Sugiro aqui sérias críticas de Nietzsche à Kant e seu ideário moral. Assim a verdade como instinto de sobrevivência tem um elo com a moralidade, também criada para a sobrevivência de seres fracos que somos.</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>A seguir Nietzsche faz uma reflexão sobre a linguagem, pois esta possui o poder de “legislar” sobre a verdade (p. 54).</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>A linguagem seria, então, para ele um fixador do que é a verdade e o que pode ser a mentira: e isto nasce na medida em que se busca sobreviver socialmente.</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>Argumenta que o homem não desgosta da ilusão, mas sim dos efeitos nefastos que a ilusão pode ocasionar, se ela chegar a ocasionar ao mesmo. E assim deseja as conseqüências agradáveis que a verdade poderia proporcionar (p. 55).</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>Desta forma ele se pergunta “É a linguagem a expressão adequada para todas as realidades?”. E este seu questionamento está alinhado com a noção de que a realidade que tomamos é uma mera perda de metáforas sem a noção da genealogia que a cerca.</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>Além destes questionamentos, Nietzsche afirma o seguinte: que o homem esquece da verdade tautológica (que é vazia, portanto) e parte para manipulações fantasiadas do mundo que lhe causam uma sensação de que há um conhecimento, uma verdade. O que faz com que este homem “compre eternamente ilusões por verdades” (p. 55).</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>A partir deste ponto Nietzsche questiona acerca da linguagem esmiuçando por exemplo o que seria a palavra, como uma corruptela tautológica de termos criados por nós e que julgamos serem estojos de conhecimento. Diz que a cobra por exemplo (no alemão) vem de enrolar-se, e o termo é usado como se fosse uma descoberta a conexão entre uma e outra coisa: quando na verdade uma estará contida tautologicamente na outra.</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>O exemplo dado da palavra vem justamente para ilustrar o quão enganador é o esquecimento das categorias que nós mesmos criamos. E ainda a multiplicidade de línguas é usada por Nietzsche como argumento para endossar o quanto é arbitrária as nossas delimitações. E delimitações tais que são postas na linguagem.</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>Em seguida argumenta que a “coisa-em-si” é incaptável para a linguagem e nem importa para tal (isso se a coisa-em-si for uma verdade pura).</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>Demonstra a seguir o quanto se perde em representações desta coisa-em-si e o quanto esquecemos disto. A coisa é representada por um estímulo cerebral, que é representada por um som em seguida sucessivamente. Assim as representações se perdem. E o homem não nota-se desta perda, mas sim se alimenta desta perda, se enganando. E essa enganação gera uma sensação de verdade, de conhecimento. Assim acreditamos que sabemos das coisas, segundo Nietzsche. (p.55).</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>Portanto sem a gênese da linguagem e no esquecimento das perdas de sucessivas metáforas, nos distanciamos do que poderia ser realmente uma coisa-em-si.</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>Assim, é uma invenção, inclusive do filósofo que se põe a falar “telescopicamente” sobre o mundo, e sobre o que julga ser verdade.</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>Portanto, Nietzsche faz uma importante argumentação em que a generalização, a conceituação, as bases do conhecimento, além de serem uma sequência de perdas entre a coisa real e as nossas metáforas, também é uma generalização baseada na vivência, que despreza as desigualdades individuais entre objetos individuais, tornando-os iguais num conceito. Desta feita, a conceituação parte-se de um movimento de abandono arbitrário das características que individualizam objetos.</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>Da mesma forma a “honestidade” é encarada por ele como um conceito criado por base neste “abandono arbitrário de desigualdades particulares”, só que relacionada a atos e comportamentos, em prol de deixar ações que são individuais entre si a participar de um conceito, que é uma qualidade criada arbitrariamente, uma “qualitas occulta” (p.56) nas palavras do próprio Nietzsche. A “honestidade” é uma qualidade arbitrária e a moral é um senso enganador criado para a sobrevivência mentirosa de certos animais: humanos.</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>Portanto esse “impulso à verdade” é uma enganação, e a sensação de se atingir à verdade se dá no esquecimento que estamos a nos enganar quanto a isto tudo. O homem, portanto, forja verdades, e se sente, por meio do esquecimento, como se fosse um “grande habilidoso descobridor” (p. 58). As verdades são forjadas e nos esquecemos como estamos a mentir, isto é para Nietzsche um importante leitmotiv de seu escrito “Sobre verdade e mentira no sentido extramoral”.</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>Quanto a isso (ao esquecimento e ao forjar descobertas com base em categorias criadas arbitrariamente) as palavras de Nietzsche são claras:</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em><strong>“Como gênio construtivo o homem se eleva, nessa medida, muito acima da abelha: esta constrói com cera, que recolhe da natureza, ele com a matéria muito mais tênue dos conceitos, que antes tem de fabricar a partir de si mesmo. Ele é, aqui, muito admirável – só que não por seu impulso à verdade, ao conhecimento puro das coisas. (…) Se forjo a definição de animal mamífero e em seguida declaro, depois de inspecionar um camelo: ‘Vejam, um animal mamífero’, com isso decerto uma verdade é trazida à luz, mas ela é de valor limitado, quero dizer, é cabalmente antropomórfica e não contém um único ponto que seja ‘verdadeiro em si’, efetivo universalmente válido, sem levar em conta o homem. O pesquisador dessas verdades procura, no fundo, apenas a metamorfose do mundo em homem, luta por um entendimento do mundo como uma coisa à semelhança do homem e conquista, no melhor dos casos, o sentimento de uma assimilação.”</strong> (p. 58).</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>Portanto o homem cria verdades baseadas em si mesmo, são verdades, segundo já explicitado, criadas pelo abandono arbitrário das desigualdades e busca o entendimento do mundo com esse conceitual, com essas ferramentas: uma busca antropomórfica de entender o mundo como a si. Como se fosse o homem detentor dos “gonzos girantes” do universo (p.53). E a sensação, o sentimento de conquista intelectual, de entendimento, acontece com o esquecimento de que forjamos conceitos com base em abandonos arbitrários em prol de uma antropomorfização do universo.</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>E todo esse movimento que resulta num enganar-se a si mesmo, de centrar-se no universo e de pôr-se como criatura cujo intelecto perscruta todo universo, dá lugar a uma felicidade. Portanto a capacidade de se enganar encerra em si uma felicidade (p. 59).</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>Nietzsche argumenta que seja racional ou intuitivo, o homem almeja um domínio sobre a vida: e ao fazer isto o homem é feliz. O conhecimento e a verdade apenas torna o homem feliz por se centralizar num universo tão vasto; cuja felicidade, como já explicitado, dá-se pelo auto-engano e por um posterior esquecimento da invenção da verdade e do conhecimento que foi, inclusive, manutenida por uma mentira velada e constantemente esquecida. (p. 60).</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>E Nietzsche termina dizendo que na infelicidade de se dar conta do engano, é que o homem passa se dar conta de sua pequenez e da insignificância da invenção mentirosa, segundo o mesmo, que o homem perfilou em construir para a sua felicidade e esquecimento. E é agora que pode por-se no lugar natural em que a mentira pôde ser revelada. Mentira tal que a “soberba” invenção tentou pôr em esquecimento.</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>E é exatamente por estas razões que Nietzsche inicia seu artigo dizendo que há de soberbo e mentiroso na verdade e no conhecimento, inventado como uma mentira voluptuosa e velada, que esquecida, nos deu a sensação de centralidade num universo, sem se dar conta da fugacidade de nossa existência e de como seria tão irrelevante todo este movimento se este ínfimo momento de conhecimento acabasse por completo (perante a toda a natureza).</em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>É, pois, uma denúncia grave ao conhecimento e à verdade: de que são artimanhas enganadoras; o que contradiz o que pensamos constantemente acerca do que a verdade e o conhecimento pode representar.</em></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><em>Mesmo alguém que não esteja de acordo com a argumentação de Nietzsche, é interessante ler o artigo, pois desperta uma dúvida a respeito da obsessão pela verdade e nos deixa mais atentos ao dogma que assumimos a respeito do saber e do conhecer. Não é uma crítica que causa um questionamento trivial: é uma crítica que derruba e destrói a confiança, e consequentemente, a nossa posição confortável de seres pensantes sobre o universo; nos mostra o quanto podemos conformar nossa visão do universo em relação ao nosso antropomorfismo.</em></div><div style="text-align: justify;"><em></em></div><em><div style="text-align: justify;"><br />
</div></em><div style="text-align: justify;"><em>É perturbador para o leitor, na melhor dos significados da palavra. E esta perturbação não é ruim. Assim torna-se claro o título que soa um tanto enigmático no início. Torna-se claro do porquê da verdade e mentira posta num sentido extramoral."</em></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">COMPARTILHANDO SOMENTE... EXCELENTE ANÁLISE!</div><div style="text-align: justify;">Fonte: <a href="http://arnaldo.networkcore.eti.br/2026-a-invencao-da-verdade-e-do-conhecimento-a-importante-critica-de-nietzsche-em-%E2%80%9Ca-verdade-e-mentira-no-sentido-extramoral%E2%80%9D.html">http://arnaldo.networkcore.eti.br/2026-a-invencao-da-verdade-e-do-conhecimento-a-importante-critica-de-nietzsche-em-%E2%80%9Ca-verdade-e-mentira-no-sentido-extramoral%E2%80%9D.html</a></div>Christiane Foricnitohttp://www.blogger.com/profile/15701277770166618026noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-82337747968232777.post-87339046609815614902011-01-14T19:36:00.000-08:002011-01-14T19:39:11.687-08:00A Tigela - Uma lição sobre a Impermanência<div style="text-align: justify;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_uV01mGBZXnE0ayjXm1iKLyePkP7IUWTgKB-e2kpM4vYST6BtpCj1Rk11WKb7tMQWI-3GxAy_zdjUU6iNmKXA22cfod9iBMLzvjX-m6UwbZF0JoriBBJ-mZj0BIsKpt93XviGnelDBt0/s1600/2585275585_2ba7048841.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" n4="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi_uV01mGBZXnE0ayjXm1iKLyePkP7IUWTgKB-e2kpM4vYST6BtpCj1Rk11WKb7tMQWI-3GxAy_zdjUU6iNmKXA22cfod9iBMLzvjX-m6UwbZF0JoriBBJ-mZj0BIsKpt93XviGnelDBt0/s320/2585275585_2ba7048841.jpg" width="320" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Segue uma anedota famosa concernente ao mestre rinzai Ikkyu, que viveu, aproximadamente, há 03 ou 04 séculos.</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ikkyu era, então, um monge muito jovem que vivia num templo zen, onde vivia também seu irmão. Um belo dia, esse último deixou cair no chão uma tigela da cerimônia do chá, que se quebrou; a tigela era ainda ais preciosa porque fora presente do imperador. O chefe do templo admoestou-o severamente, fazendo chorar o mongezinho.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ikkyu, todavia, recomendou-lhe que não se preocupasse:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Tenho sabedoria. Posso encontrar uma solução.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Juntou os pedaços da cerâmica, colocou-os na manga do seu kolomo e foi descansar no jardim do templo, enquanto esperava, pachorrento, o regresso do mestre. Tanto que o avistou, foi ao seu encontro e propôs-lhe um mondo:</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Mestre, os homens nascidos neste mundo morrem ou não morrem?</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Morrem, decerto - respondeu o mestre. - O próprio Buda morreu.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Compreendo - volveu Ikkyu - , mas no que respeita às outras existências, os minerais ou objetos também estão destinados a morrer?</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- É claro! - reponde o mestre - Todas as coisas que têm forma devem morrer necessariamente, quando surge o momento.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Compreendo - disse Ikkyu. - Em suma, como tudo é perecível, não deveríamos precisar chorar nem lastimar o que já não existe, nem sequer zangar-nos com o destino.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">- Está visto que não! Aonde queres chegar? - inquiriu o mestre.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ikkyu tirou da manga do kolomo os destroços da tigela, que apresentou ao mestre. Este ficou boquiaberto.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">(conto retirado de Contos Zen)</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Não há duvidas que uma das maiores frases de todos os tempos foi aquela proferida por Sócrates: “Tudo o que sei é que nada sei”.</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Em uma única tacada, o filósofo grego passou várias mensagens. A primeira é que a vida, na maior parte do tempo, é incerta. A segunda é que o conhecimento aumenta em larga escala, e quanto mais aprendemos mais percebemos o quanto falta aprender. E a terceira é um enorme exemplo de humildade, pois ele era o homem mais sábio de sua época.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Ele construiu a metáfora de que o conhecimento forma uma espécie de halo luminoso em torno da cabeça da pessoa. Quanto mais aprendemos mais este halo cresce, o que é bom, mas, por outro lado, mais aumenta sua superfície de contato com a escuridão, que simboliza a ignorância. Então, quanto mais aprendemos mais percebemos o quanto há, ainda, para se aprender. É uma bela imagem simbólica, que me faz pensar naqueles que acham que já sabem tudo. Você conhece alguém assim, dono das verdades e das certezas? O mundo anda cheio deles. Nos dois sentidos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Voltando a Sócrates, vale a pena lembrar que ele viveu no século cinco antes de cristo. Imagine o que ele diria hoje, em plena sociedade do conhecimento, da informação, da velocidade e da transformação. Pena que Sócrates não conheceu as universidades, as bibliotecas e a Internet. Ponho-me a imaginar como seria seu blog. Provavelmente cheio de perguntas, pois ele odiava as respostas e sempre respondia uma pergunta com outra, criando uma espiral crescente de construção do conhecimento.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Digamos que você lhe perguntasse, através de e-mail: “Sábio Sócrates, o que fazer para conviver com essa sensação de insegurança neste mundo tão cheio de incertezas?” Ele provavelmente responderia algo como: “Meu jovem, você devia perguntar ao velho Heráclito. Por que você acha que ele disse que não dá para tomar banho no mesmo rio duas vezes? E não me chame de sábio, pois só sei que nada sei”. E daria um send certo de que tinha te oferecido elementos para reflexão. Não deu a resposta, mas sinalizou o caminho para encontrá-la, o que é muito melhor.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Heráclito, que morreu um ano antes de Sócrates nascer, é considerado um filosofo obscuro, enigmático. Dele sabemos que desprezava a política e a religião, e acabou por isolar-se da sociedade para viver como um eremita. Antes, porém, ele nos legou sua mais famosa frase: “Tudo flui”, disse ele, e arrematou: “Não é possível banhar-se duas vezes no mesmo rio”. Faz sentido. Se você toma banho em um rio hoje, amanhã notará que aquela água já passou, agora é outra. E você também mudou, é outra pessoa. Dizem que essa frase representava a angustia do filósofo diante da velocidade das mudanças. Imagine o que ele diria hoje…</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O princípio da incerteza</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Sim, vivemos em um mundo paradoxal. Se, por um lado, pertencemos a uma sociedade que usufrui dos confortos da ciência e da tecnologia, por outro nos sentimos desconfortáveis com a sensação de impermanência. Tudo muda e com velocidade crescente, já sabemos disso. E não temos o que fazer a não ser acompanhar as mudanças e nos adaptarmos a elas. OK, até aqui, tudo bem. Já nos acostumamos às guinadas da economia, da política, dos modelos de negócio e das tecnologias emergentes. Mas há algo neste admirável mundo novo que incomoda um pouco: a incerteza e a sensação de insegurança que ela causa.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Nosso instinto pede segurança. É a segunda necessidade, só antecedida pelas necessidades fisiológicas. Depois nos preocuparemos com outras necessidades, como as emocionais e as intelectuais. Queremos nos manter vivos, por isso a opção pelo lugar seguro, sem surpresas. Sim, mas o que não podemos fazer é fingir que vivemos na época de nossos avós, quando as notícias vinham pelo Repórter Esso, ligações interurbanas só podiam ser feitas da companhia telefônica e andava-se de bonde pela Avenida Paulista. Era um tempo sem sobressaltos, mas que para qualquer um de nós que conhecemos o século XXI seria de uma monotonia mortal.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Hoje vivemos o mundo das possibilidades. Acelerado, inconstante, estressante, sim, mas continua sendo o mundo das possibilidades, basta que estejamos atentos. Em cada mudança há um lado favorável, só que nosso instinto de preservação vê, em primeiro lugar, o perigo. Portanto, muita calma nessa hora. É preciso colocar a bola no chão e avaliar os melhores lances.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O que não dá é para ter tudo sob controle. No começo do século passado o cientista alemão Werner Heisenberg enunciou seu Principio da incerteza, um conceito da física quântica que diz que “É impossível conhecer-se a velocidade e a posição de uma partícula atômica ao mesmo tempo”. Ele tinha que optar pela informação que lhe parecia mais relevante naquele momento, e mesmo assim ele ajudou a construir a física quântica.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Assim é a vida como ela é. Incerta. E será cada vez mais. O que nos resta é encontrar os meios de sobrevivência, e estes são fornecidos pelo encontro de competências pesadas com espírito leve. Como assim? Ora, temos que nos preparar cada vez mais, investindo em novos conhecimentos, habilidades crescentes e atitudes adequadas, tudo isso embrulhado no fino papel da tranqüilidade.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Resistência e flexibilidade</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Sobre esse assunto, minha estagiária Celeste, que tem uma sabedoria emergente porque é uma jovem perspicaz que não se contenta com o superficial, me contou uma história de sua vida de estudante quando estava no ensino médio. No laboratório de biologia, os alunos fizeram a seguinte experiência: colocaram um osso de galinha no vinagre e outro no fogo. A conseqüência foi que o osso colocado no vinagre perdeu cálcio, e com isso ficou mole, incapaz de se sustentar. O que foi levado ao fogo perdeu colágeno, e se quebrou com facilidade. Os jovens então perceberam que o osso é feito para ser flexível e resistente ao mesmo tempo, por isso nos dá proteção e movimento. Assim temos que ser, para suportar o calor das exigências crescentes e a corrosão das mudanças freqüentes.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Talvez em outro e-mail, Sócrates nos dissesse: “Conhece-te a ti mesmo, meu filho”, mas como um filósofo agora pós-moderno, é provável que ele acrescentasse: “E aproveita para fazer um SWOT pessoal, analisando as ameaças e a oportunidades deste momento, e também tuas forças e fraquezas. Controla as ameaças, aproveita as oportunidades, corrige tuas fraquezas e aumenta ainda mais teus pontos fortes, pois é a partir deles que você vai se diferenciar”. E, dito isso, provavelmente ele voltasse a fazer o que o tornou singular: ser o grande crítico de sua época, sem revolta, mas com sabedoria e atitude.</div><br />
FONTE: Revista Nextel nº31, 01/05/2009, por Eugênio Mussak ; Um mundo impermanente<br />
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<a href="http://www.sapiensapiens.com.br/um-mundo-impermanente/">http://www.sapiensapiens.com.br/um-mundo-impermanente/</a>Christiane Foricnitohttp://www.blogger.com/profile/15701277770166618026noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-82337747968232777.post-9848546532159206682010-09-28T16:50:00.000-07:002010-09-28T16:50:26.260-07:00As Figuras Da Razão No Pensamento De Arthur Schopenhauer<div align="justify"></div><div align="justify"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwcB83RgV4h3W58lBav9FuG6uVIF8hgLtH1vHJjcre3RjCfyrFMNuDozPS99zr2eDJ5tdoOv5AoljSdkzHn-LLl9Ws4QlFGTP55kBpISBd6MSS0s_Fv7veBJdzwwBXOL-6qG9pIEpRX7c/s1600/schopenhauer3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" px="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgwcB83RgV4h3W58lBav9FuG6uVIF8hgLtH1vHJjcre3RjCfyrFMNuDozPS99zr2eDJ5tdoOv5AoljSdkzHn-LLl9Ws4QlFGTP55kBpISBd6MSS0s_Fv7veBJdzwwBXOL-6qG9pIEpRX7c/s1600/schopenhauer3.jpg" /></a></div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Por David Camilo</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify" style="text-align: justify;">O presente estudo tem como objetivo analisar as formas do conceito razão no âmbito do pensamento de Arthur Schopenhauer (1788-1860).Tendo em vista que o conceito de razão no pensamento de Schopenhauer consiste, em primeira estância, em dois aspectos, quais sejam, o teórico (epistemológico) e o prático. Contudo, a partir de uma leitura aprofundada do tema, salta-se aos olhos um possível terceiro aspecto desse conceito de razão. A originalidade desta pesquisa consiste justamente na análise desta terceira forma de razão que tem como cerne a dimensão ascética inserida na ética schopenhaueriana.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">A primeira forma de razão – a razão teórica – está em vista de uma finalidade: o conhecimento. Já a segunda forma – a razão prática – visa proporcionar ao homem uma sabedoria de vida. Num terceiro momento, alguns conceitos, como o de Vontade, negação da vontade, ascetismo e o de mística, remetem-nos a um terceiro nível dessa razão. Tal razão é o que poderíamos designar como razão mística. A peculiaridade desta ultima é, acima de tudo, a ausência de finalidade, o que faz com que ela se diferencie das demais.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Desse modo, quando se toma o conceito razão na filosofia de Schopenhauer, evidencia-se a importância de aprofundar na interpretação de seu conjunto filosófico a fim de perceber sua completude. </div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">O objetivo principal desta pesquisa é analisar a abordagem e o papel da razão no pensamento de Schopenhauer, sobretudo, seu caráter mutável, ao passo que ela muda de aspecto e de natureza de acordo com o desenvolvimento das obras do filósofo. A partir disso, quais são as figuras e o percurso de tal razão?</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Sendo assim, propõe-se como objetivos específicos: a) analisar como o primeiro sentido do termo razão em Schopenhauer passa a ser determinante na elaboração da parte epistemológica de sua filosofia; b)Verificar o procedimento e a alteração do emprego do termo razão a partir do primeiro livro de O Mundo como Vontade e como Representação e dos Aforismos para a sabedoria de vida, a fim de melhor vislumbrar como se dá essa mudança; c) e analisar o terceiro sentido do termo razão schopenhaueriana que se volta para a negação da Vontade e que culmina no ascetismo.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Os materiais utilizados foram as obras de Arthur Schopenhauer. Sobretudo, considerou-se importante o aprofundamento na leitura e nos fichamentos da obra O Mundo como Vontade e como Representação (2005 – tradução da Editora Unesp – São Paulo). Dado que o livropossui quatro partes reconheceu-se a importância e a necessidade de saber do que trata cada uma das partes em suas especificidades, sobretudo, o que concerne ao conceito razão.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Quanto as leituras, além da principal obra do filósofo, O Mundo como Vontade e como Representação, valeu-se da leitura e fichamento da obra de 1851, qual seja, os Aforismos para a sabedoria de vida.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">O método utilizado para esta pesquisa constitui em fazer a distinção entre as duas primeiras formas de razão para, em seguida, melhor compreender o que propomos no terceiro objetivo deste estudo, qual seja, a análise da possibilidade de uma outra forma de razão nopensamento de Schopenhauer que não fora apontada diretamente pelo filósofo, contrariamenteao caso das duas anteriores, e pode ser tomada como uma razão ético-mística, esta se diferencia das outras por não visar um fim, podendo assim, ser designada também, e por isso mesmo, de desinteressada.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">A maior dificuldade, em um primeiro momento, foi a de fazer uma distinção mais precisa das particularidades entre os conceitos que permeiam a razão schopenhaueriana.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Da mesma forma que fora afirmado no Relatório Parcial, as observações feitas pelo professor a partir dos encontros, foram fundamentais para esclarecimentos e a melhor compreensão do tema, além das correções e indicações de leitura. Após a elaboração dos textos eram feitas as leituras junto ao professor orientador que orientava onde se devia melhorar e, a partir daí, seguiam-se as correções em vista de uma leitura mais aprofundada.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Os resultados alcançados correspondem às leituras e fichamentos levados a termo durante o desenvolvimento da pesquisa. Como fora mencionado no Relatório Parcial, parte-se da exposição e análise das duas figuras de razão apontadas no pensamento schopenhaueriano -razão epistemológica e razão prática- para, em seguida, apontar uma terceira figura de razão, qual seja, o que poderíamos designar como razão mística,isto é, a razão propriamente ética na filosofia de Schopenhauer. A partir dessas análises, torna-se possível a verificação e o entendimento de como, na ética desinteressada de Schopenhauer, a razão não mais opera como um mero mecanismo em vista de uma finalidade, daí o seu caráter propriamente desinteressado.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">4.1. Do entendimento aos conceitos</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Arthur Schopenhauer referindo-se ao mundo diz: "Pois assim como este é, de um lado, inteiramente REPRESENTAÇÃO, é, de outro, inteiramente VONTADE" (SCHOPENHAUER, 2005, p. 45, grifos do tradutor).Com o presente fragmento, extraído do primeiro capítulo da obra O mundo como Vontade e como Representação, o autor menciona as duas principais divisões de toda sua filosofia, a saber, a do mundo como mera Representação e a do mundo como mera Vontade. É em torno do conceitoRepresentação, que Schopenhauer desenvolverá toda sua construção filosófica. </div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">4.1.1. o universo do entedimento</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Detendo-se no aspecto designado como entendimento, considerado por Schopenhauer como um fim para o conhecimento, toma-se então o primeiro livro deO Mundo como Vontade e como Representação, no qual o filósofo faz uma exposição detalhada acerca dos itinerários - as vias - que devem ser traçados para se chegar a um conhecimento. É sua epistemologia. A obra de 1818 é aberta por Schopenhauer com a afirmação: "O mundo é minha representação. Esta é uma verdade que vale em relação a cada ser que vive e conhece, embora apenas ohomem possa trazê-la à consciência refletida e abstrata" (SCHOPENHAUER,2005,p.43).</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">O elemento norteador para Arthur Schopenhauer, ou seja, seu ponto de partida, é o de que não há verdade alguma mais certa e mais independente a não ser a de que todo o mundo existe para o conhecimento, sendo este o motivo que determina sua existência; e é tão somente objeto em ralação ao sujeito, ou seja, representação. Quando, pois, o homem conscientiza-se dessa realidade, "torna-se claro e certo que não conhece sol e terra alguma, mas sempre um olho que vê um sol, uma mão que toca a terra" (SCHOPENHAUER,2005,p.43). Desse modo, tudo o que tem sua existência no mundo está condicionado pelo sujeito e, desta forma, existe apenas para este. É este o "lado do mundo" do qual parte Schopenhauer. Veja-se nas palavras do próprio autor:</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Verdade alguma é, portanto, mais certa, mais independente de todas as outras e menos necessitada de uma prova do que esta: o que existe para o conhecimento, portanto o mundo inteiro, é tão somente objeto em relação ao sujeito, intuição de quem intui, numa palavra representação. (SCHOPENHAUER, 2005, p.43).</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Situando-se nessa condição, pode-se admitir duas metades do mundo como representação: a do objeto e a do sujeito. Essas partes são consideradas inseparáveis, uma vez que cada uma delas existe com a outra e também pode desaparecer com ela. A primeira dessas metades - a do objeto - tem como forma o espaço, o tempo, e a causalidade. A segunda, no entanto - a do sujeito – não se encontra em nenhuma dessas formas; ela se faz inteiramente presente em cada serque representa.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Mediante estas primeiras considerações verifica-se que a razão analisada como sendo teórica tem um fim evidente e específico: o conhecimento. Schopenhauer, para expor seu processo de elaboração desse conhecimento – representação – parte do pressuposto de que há um princípio de razão suficiente[1]. Contudo, antes de se ater a tal princípio, é necessário compreender que, para a aplicabilidade do mesmo, deve haver um mundo que é o objeto do conhecimento e um sujeito constituído de corpo (sentidos) e de intelecto, no qual está o que se diz Entendimento[2].</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Contudo, para poder considerar com profundidade a dimensão conceitual na qual Schopenhauer expõe sua teoria do mundo como Representação e, por conseguinte, desenvolver uma análise do comportamento da razão no interior desse mundo, é necessário que se tenha em mente algumas noções introdutórias quanto ao termo representação.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Em Schopenhauer, representação refere-se a uma "complexa atividade fisiológica no cérebro de um animal ao fim da qual se tem a consciência de uma imagem" (BARBOZA, 1997, p.30). Mas, ao que concerne a possibilidade da efetivação de um processo mental que leve a formação de imagens e, por conseguinte de conceitos, é o que agora será abordado.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">De modo geral, o mundo é representado a partir de tudo aquilo que aparece como figura (forma) para o entendimento. Através dos órgãos dos sentidos, os primeiros dados fornecidos pela experiência conduzem à representação. No processo de "elaboração mental" para a definição de uma imagem o sujeito é ativo, e possui três formas puras e inatas de conhecimento para poder conceber o mundo que o envolve, quais sejam: o tempo, cuja essência é a sucessão; o espaço, cuja essência é somente a posição; e, por fim, a causalidade, que está sempre buscando as origens dos fenômenos. Essas formas constituem o denominado princípio de razão suficiente. Contudo, numa perspectiva kantiana, o mundo no qual se dá o conhecimento é o dos fenômenos, isto é, o que é visível.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">No primeiro livro de O Mundo como Vontade e como Representação encontra-se a aplicabilidade do Entendimento. Por isso, sua natureza está ligada a epistemologia. Mediante as formas de entendimento se dão as intuições imediatas das coisas. O mundo, especificamente com esse viés, é uma conclusão do Entendimento. É preciso um trabalho intelectual de construção das coisas; é por isso que se pode afirmar que a realidade é um produto originado a partir de um efetivar do sujeito. Caso contrário, a teoria da representação não se fundamentaria. </div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Levando em consideração a relação sujeito-objeto no âmbito do conhecimento, a filosofia que Schopenhauer concebeu ainda em sua juventude é marcada por não pactuar com duas correntes filosóficas: o idealismo e o realismo. Quando Schopenhauer não toma o sujeito como ponto de partida não quer dizer que ele se coloca no plano de uma filosofia realista. Isso porque nem o objeto é tomado como ponto de partida. Por outro lado, não partindo do objeto, Schopenhauer não cai na dinâmica do idealismo que considera o sujeito como referência.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Deste modo, Schopenhauer não parte nem do sujeito nem do objeto, mas, ele toma a representação como seu ponto inicial, o ponto de partida. Isso é fundamental para a presente análise, pois, tudo no mundo é e somente é por um fundamento pelo qual é. E, todavia, é este o papel do entendimento abordado nesse primeiro sentido, ou seja, um papel cognoscitivo que fundamenta o mundo.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">É imprescindível ter em mente que toda consideração de Schopenhauer em relação ao mundo como representação remete à realidade externa de tal mundo. Trata-se da realidade empírica. Mas realidade empírica, no sentido schopenhaueriano, é o fazer-efeito do sujeito. É a efetividade.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Com posicionamento contrário ao dogmatismo-realista e ao ceticismo, e referindo-se a eles, Schopenhauer afirma:</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">(...) tem-se de fazer uma correção de ambos, primeiro com o ensinamento de que objeto e representação são uma única e mesma coisa; em seguida, que o ser do s objetos intuíveis é precisamente o seu FAZER-EFEITO, exatamente neste consistindo a efetividade das coisas, e que exigir a existência do objeto exteriormente à representação do sujeito, bem como um ser da coisa efetiva diferente do seu fazer-efeito, não possui sentido algum e constitui uma contradição (SCHOPENHAUER, 2005, p.57, grifo do tradutor).</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Nisso se fundamenta a tese de Schopenhauer que toma o conhecimento sobre a maneira de fazer efeito de um objeto intuído como condição que o esgota como objeto mesmo, ou seja, como representação fenomênica. Caso esteja foradessa representação, o objeto não oferece nada para o conhecimento. Por isso se pode dizer que o mundo, quando dá sinal de si como causalidade pura, é perfeitamente real, pois é intuído no espaço e no tempo. Desse modo, o mundo que faz efeito é condicionado pelo entendimento e nada é sem ele. A causalidade, como categoria presente no entendimento, é também somente para o entendimento. Sendo assim,o mundo inteiro dos objetos é e permanece representação, e precisamente por isso é, sem exceção em toda a eternidade, condicionado pelo sujeito, ou seja, possui idealidade transcendental. Desta perspectiva não é uma mentira nem uma alusão. Ele se oferece como é, como representação, e em verdade como uma série de representações cujo vínculo comum é o princípio de razão (SCHOPENHAUER, 2005, p. 57). </div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Dessa forma e com as palavras do próprio filósofo, o que mais acentuadamente caracteriza uma representação. Assim, passa-se à consideração do que é uma das "raízes" que fundamentam o mundo e fora inserida por Schopenhauer em sua tese doutoral intitulada Da quádrupla raiz do princípio de razão suficiente de 1813, qual seja, a da noção do princípio de razão do devir. </div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">4.1.2. O corpo como caminho para o conhecimento</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Atuando no campo da cognoscibilidade humana, a noção de corpo em Schopenhauer apresenta-se como um recorte específico e inovador. Justamente devido ao corpo ser possuidor de órgãos de sentidos, ou seja, atuar no mundo fenomênico, é possível o trabalho do entendimento em vista da elaboração de intuições, pois somente nele (corpo) e com ele pode-se dar a intuição de cada indivíduo. Como afirma Schopenhauer, o corpo é um "objeto imediato, vale dizer, é um conjunto de sensações" (BARBOZA, 1997, p. 33). É importante ressaltar que, o corpo também é meramente representação, uma vez que, como todo o mundo, ele é visto só do ponto de vista da cognoscibilidade humana. </div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Em linhas gerais, o que se apresentou nesta primeira parte como a concepção do mundo intuitivo schopenhaueriano não é de nenhuma maneira transferido para um segundo plano ao inserir a análise referente aos conceitos abstratos, ficando assim evidente, a dimensão que abrange cada uma dessas vertentes. Isso faz com que fique claro que o conceito razão em Schopenhauer, sob um primeiro aspecto, é essencialmente instrumento para a possibilidade do conhecimento.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">4.2. SOBRE A RAZÃO PRÁTICA E A SABEDORIA DE VIDA</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Toda leitura precisa da principal obra de Schopenhauer, O Mundo como Vontade e como Representação, faz tornar-se perceptível que, a análise do conceito razão, que se apresenta como instável e, por isso, mutável devido à sua passagem do âmbito teórico para o nível prático, tem a partir do capítulo 16 do primeiro livro de O Mundo... seu fundamento essencial. É notório que o Schopenhauer de 1851 em Parerga und Paralipomena já não é o mesmo que o de 1818 em O Mundo como Vontade e como Representação. A filosofia de 1851 apresenta um Schopenhauer adulto e portador da consciência de que seus escritos já arrebanhavam discípulos, como Frauenstadt e Gwinner. Por isso, a filosofia outrora apresentada em 1818 não é em todos os sentidos concernente com esta última mencionada.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Quando se toma o livro O Mundo como Vontade e como Representação é possível notar que o conceito razão, e com ele todo o enfoque da obra, adquire matizes diversos e em cada momento apresenta-se como uma estrutura peculiar. Provavelmente seja esse o alerta principal que abre caminho para afirmar que é possível o resgate de um otimismo prático eclodindo de um pessimismo teórico.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">O que, todavia, acontece com a passagem da primeira "fase" para esta segunda é tão somente a diferenciação com relação à finalidade e o papel próprios da razão, mas não que ela tenha deixado de tê-los. E essa outra ocupação da razão, ao invés de ser da elaboração e da construção do conhecimento humano, é a da conduta de vida das pessoas.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">É somente na abertura do capítulo 16 de O Mundo... que a razão tida como prática é enunciada, sendo dita desse modo: "Após as considerações sobre a razão enquanto faculdade especial e exclusiva do homem, e sobre a que fenômenos e realizações próprios da natureza humana, falta ainda falar da // razão na medida em que conduz a ação das pessoas[...]" (SCHOPENHAUER, 2005, p. 138).</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">A transferência do papel primordial da razão humana para o plano da prática está diretamente ligada com a consideração já feita de que mesmo sendo capacitado para a arte da formação de conceitos abstratos, o homem sempre se baseia em atributos conhecidos imediata e intuitivamente. A partir dessa consideração faz-se uma inferência do que fica mais perceptível: o homem natural sempre atribui mais valor àquilo que é conhecido in concreto, imediatamente. Os conceitos tidos como frutos da abstração são meramente pensados. Procedendo assim, Schopenhauer vai contra a afirmação de que o homem prefere o conhecimento empírico ao lógico (SCHOPENHAUER, 2005, p. 140).</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">É, pois, justamente o caráter prático da vida humana que o filósofo almeja defender como o modo mais correto. Schopenhauer afirma que "O contrário pensam as pessoas que vivem mais nas palavras que nos atos. Que enxergam mais no papel e nos livros que no mundo efetivo, e que, ao degenerarem, tornam-se pedantes e apegados à letra" (SCHOPENHAUER, 2005, p. 140).</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Há, no entanto, uma necessidade de se abordar, diante do fato do vasto e incerto horizonte de possibilidades da ação humana, uma maneira adequada de se viver. Eis aí, a esfera que motiva o tratamento desse estudo como um segundo sentido de averiguação do comportamento da razão.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Na filosofia schopenhaueriana falar de uma "sabedoria de vida" é, primeiramente, efetuar um recorte na estrutura geral de seus escritos. Na introdução de seus Aforismos para a Sabedoria de Vida (1851), Schopenhauer deixa claro que é preferível procurar o modo mais agradável possível de se viver invés da não-existência. Ao estudo concernente a esse "modo de viver" e pode-se também denominá-lo eudemonologia.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">O relato acima mencionado pode ser tomado como um destacamento do pensamento de Schopenhauer e consiste na consideração da concepção de vida – sobretudo a partir dos livros I e II de O Mundo como Vontade e como Representação – como objetivação da Vontade que traz consigo a autodiscórdia que, por sua vez, se espalha na guerra de todos os indivíduos pela matéria constante do mundo. A fim de ver a afirmação de sua espécie, cada indivíduo porta consigo uma vontade de aniquilação do outro. Este é o elemento que gera sofrimento e dor em todo lugar onde houver vida. Tal é o motivo principal que permite a verificação de um pessimismo exacerbado na filosofia de Schopenhauer. Além do caráter pessimista advindo da autodiscórdia vital, o que se tem como conseqüência é o conceito de Negação da Vontade que, por sua vez, tem como ponto culminante o ascetismo. Ora , se a vida é sofrimento e tédio, o que há de mais valoroso é a negação dela mesma. Ademais, é nisso que consiste, em suma, o último livro de O Mundo...</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Contudo, o conteúdo das páginas que se seguem consiste na análise de uma possível saída dessa realidade pessimista, ao que Schopenhauer também chamou de "uma acomodação", desviando-se desta forma, do ponto de vista ético-metafísico que se dá no campo prático e que se chama "sabedoria de vida" a qual, acredita-se, tem por base e fundamento a razão prática, já antes indicada na obra de 1818.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">A sabedoria prática juntamente com a razão encontra seu desfecho numa meta de precaução: para quem toma a sabedoria de vida como norte cabe não ceder às adversidades, mas evitar as dores. Devido a isso, é possível afirmar que é mais sábio compactuar com o justo meio e não estritamente com os prazeres do mundo. É, portanto, mais digno avaliar uma pessoa pela quantidade de males que evitou do que pelos prazeres que fruiu. Ora, a sabedoria de vida é o meio e também a condição para se evitar a atração das desgraças e, com isso, alcançar uma vida sábia e com boa qualidade. O ponto máximo do uso da razão prática consiste, portanto, num equilíbrio entre luz e sombra, ou seja, entre felicidade e sofrimento, sendo que ambas levam a musa desconhecida, a morte. Para Arthur Schopenhauer, esse é um método filosófico que não pactua com o mero eufemismo.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Para construir e solidificar seu tratado da "sabedoria de vida" Schopenhauer toma o modelo aristotélico que divide os bens da vida humana em três classes que constam na obra do autor, a saber, Aforismos para a sabedoria de Vida, quais sejam: os exteriores, os da alma e os do corpo. Ele demonstra, a partir destes, que os homens podem ser diferenciados de acordo com três determinações fundamentais, sejam elas, o que alguém é, o que alguém tem, e o que alguém representa.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Nas palavras do próprio Schopenhauer:</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">1) O que alguém é: portanto, a personalidade no sentido mais amplo. Nessa categoria incluem-se a saúde, a força, a beleza, o temperamento, o caráter moral, a inteligência e o seu cultivo. 2) o que alguém tem: portanto, propriedade e posse em qualquer sentido.3) o que alguém representa: por essa expressão, como se sabe, compreende-se o que alguém é na representação dos outros, portanto, propriamente como vem a ser representado por eles. Consiste, por conseguinte, nas opiniões deles a seu respeito, e divide-se em honra, posição glória (SCHOPENHAUER, 2005, p. 3).</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Como visto na citação acima, claro e evidente fica que é esta a divisão que constitui parte dos Aforismos para a Sabedoria de Vida. É com o apontamento de cada uma destas três divisões – embora não se atendo muito a detalhes – que, acredita-se, fica evidente a passagem de uma razão teórica do campo do conhecimento para outra prática do campo da sabedoria de vida.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">4.3. A ÉTICA DE SCHOPENHAUER: RAZÃO ÉTICO-MÍSTICA</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Para que se chegue a uma demonstração de que em Schopenhauer o papel da razão não fica restrito à simples efetivação de objetivos, é, todavia, necessário ter em mente que o conceito base do filósofo é a Vontade. A partir do momento em que já se possui noção do que trata este conceito norteador, outro aspecto de suma importância é ter em mente que na filosofia schopenhaueriana há também o que se denomina como Negação da Vontade, noção que se pode tomar como pressuposto básico a partir do qual a ética de Schopenhauer pode ser adjetivada de desinteressada.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Quando, porém, se considera a razão de acordo com o terceiro aspecto apontado nesta pesquisa, ou seja, a razão ética da filosofia schopenhaueriana, é preciso que se considere que ela toma outro sentido e uma outra finalidade que não o do conhecimento. Nesse sentido, a razão prepondera sobre a Vontade que se faz presente mais intensamente no asceta.A Vontade, em Schopenhauer, é a essência íntima do mundo, irracional e cega, a coisa-em-si kantiana que se manifesta em seu ponto culminante no ser humano através de seu próprio corpo. Quando se dá a negação de tal Vontade ocorre que, como afirma Schopenhauer, "a coisa individual se torna a idéia de sua espécie, e o indivíduo que intui, o sujeito do conhecimento".</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Esta negação, por conseguinte, acontece estritamente de três modos: através da contemplação do belo (no âmbito da estética), por meio da boa ação por compaixão (ética) e, por fim, como máximo grau, através da ascese. Verifica-se, então, o outro papel da razão em Schopenhauer: o místico.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Para tratar de algo tão essencial e peculiar nesta pesquisa como o é o conceito de uma razão ético-mística na filosofia de Schopenhauer , ésobremaneira imprescindível que antes abordemos, de forma breve, sobreum conceitointimamente ligado a este,a saber : a Vontade. </div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">4.4. A VONTADE</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Ao que tange a conceituação da Vontade feita por Schopenhauer, seria aqui, reduzir a definição do filósofo se suas palavras não fossem citadas. Em uma das passagens de tal conceituação encontra-se o seguinte:</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Reconhecerá a mesma vontade como essência mais íntima não apenas dos fenômenos inteiramente semelhantes ao seu, ou seja, homens e animais, porém, a reflexão continuada o levará a reconhecer que também a força que vegeta e palpita na planta, sim, a força que forma o cristal, que gira a agulha magnética para o pólo norte, que irrompe do choque de dois metais heterogêneos, que aparece nas afinidades eletivas dos materiais como atração e repulsão, sim, a própria gravidade que atua poderosamente em toda matéria, atraindo a pedra para a terra e a terra para o sol, - tudo isso é diferente apenas no fenômeno, mas conforme sua essência em si[...] chama-se VONTADE (SCHOPENHAUER, 2005, p. 168).</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Perceba-se como no presente fragmento extraído do primeiro livro de O Mundo... o filósofo expõe de forma assertiva no que consiste o conceito Vontade. E como o mundo inteiro é revelador desta Vontade, o homem, por sua vez, é oseu principal meio para isso, uma vez que este é a forma mais visível e mais perfeita de sua manifestação. Pelo fato do homem ser dotado de inteligência, nele a Vontade chega à consciência de si mesma.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Na manifestação da Vontade ocorre a afirmação da vida. Por esse fator, no pensamento schopenhaueriano, é um pleonasmo falar numa Vontade de vida, dado que uma subtende a outra. No entanto, o filósofo postula uma Vontade em geral que por sua vez se desdobra em vontades particulares. Com isso, salta-se aos olhos uma Vontade meta-física que tem as Idéias por seus atos originários. Aqui não se quer afirmar uma realidade "a parte" ao mundo, ou seja, fora dele, mas apenas além do visível.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Verifica-se que, o que Schopenhauer denomina como Vontade pode ser concebido como análogo ao conceito kantiano de coisa-em-si, uma vez que ela não pode ser vislumbrada no mundo fenomênico, sendo ela mesma o próprio noumenon. O conceito Vontade está associado ao fundo íntimo de todo fenômeno, à substância íntima, núcleo de toda coisa particular e do todo. Outros adjetivos que não podem ser excluídos numa tentativa de definição da Vontade em Schopenhauer são os de irracional e de cega. Ademais, com todo o risco do reducionismo, pode-se afirmar que quando se pensa em Vontade na filosofia de Schopenhauer, necessariamente, pensa-se em uma Vontade que quer vida a todo instante, a todo custo e, por isso fica constatado e "justificado" o pleonasmo em se falar de uma Vontade de vida.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Contudo, essa Vontade cega, infundada, que impulsiona o homem a um querer viver a todo custo, uma Vontade de vida que conduz ao sofrimento através da dor e do tédio, segundo Schopenhauer, não pode visar outro fim senão o de ser negada. A Negação da Vontade, por conseguinte, acontece estritamente de três modos: através da contemplação do belo (no âmbito da estética), por meio da boa ação por compaixão (ética) e, por fim, como máximo grau, através da ascese. Verifica-se, então, o outro papel da razão em Schopenhauer: o místico. Com base nisso, eis o motivo de uma possível terceira forma de razão no pensamento de Arthur Schopenhauer, qual seja, a ético-mística, mote central do presente estudo.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">É, pois, importante que seja relatado sobre as duas principais formas de aniquilação ou negação da Vontade, quais sejam, a ética e a estética e, por conseguinte, sobre a negação total da Vontade sob o caráter ético-místico.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">4.4.1. Negação da Vontade na estética</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Schopenhauer, apesar do carregado pessimismo presente em sua filosofia, refletiu alguns caminhos que direcionam para a "anulação" da dor. Um destescaminhos foram encontrados na contemplação estética, visto que esta proporciona ao sujeito um "perder-se" no objeto, fazendo assim ocorrer a anulação das dores do mundo. Não de maneira definitiva, mas sim momentânea.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Ao conceber o belo desinteressado como um movimento de afastamento da Vontade, o filósofo aponta um caminho que neutraliza o impulso do querer-viver, pelo menos por instantes. Tal desinteresse, que acompanha a arte ou o prazer negativo, é o que faz interromper o ciclo das carências que expressa o sofrimento do mundo. Tendo em vista que a Vontade é a substância íntima, o núcleo de toda coisa particular e do todo, ela se manifesta na força da natureza e no homem. Nessa manifestação ocorre a afirmação da vida; e, para tanto, permanece inalterável. Após ter-se manifestado e afirmado no mundo, ela pode ser negada. Justamente neste ponto, ao contemplar o belo a partir de uma experiência estética, a existência do indivíduo pode ser neutralizada de seus interesses e desejos. Como afirma Schopenhauer:</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Em tal contemplação, tanto o artista na qualidade de gênio quanto o sujeito que contempla são levados a um ascetismo momentâneo na sua atitude contemplativa diante do belo. </div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Desta forma, em meio à contemplação, não se separa o sujeito que INTUI da INTUIÇÃO, mas ambos se tornam UNOS na medida em que toda a consciência é integralmente preenchida e assaltada por uma única imagem intuitiva e, sendo assim, aquele que concebe na intuição não é mais indivíduo, visto que o indivíduo se perdeu nessa intuição, e sim o atemporal / PURO SUJEITO DO CONHECIMENTO destituído de Vontade e sofrimento (SCHOPENHAUER, 2005, p. 246).</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Na contemplação estética, a vontade contempla-se de maneira desinteressada, não sofre mais consigo, é puro olhar. Essa liberação do conhecimento da escravidão da vontade, esse esquecimento do eu individual e de seu interesse material, essa elevação da mente à contemplação da verdade sem influência da vontade são funções do gênio artístico e do asceta. Ou seja, a arte atenua os sofrimentos da vida quando nos apresenta o eterno e o universal por detrás do transitório e do particular. O espírito das aparências fenomenais, através da contemplação estética, se eleva à intuição dos modelos ideais, isto é, à primeira manifestação da essência do em-si.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">A arte nos faz ir ao "lugar de origem" das coisas onde elas realmente "são". Remetendo-nos a este lugar pela contemplação desinteressada anulamos o querer-viver. O filósofo observa que, através da contemplação do belo numa experiência estética, a existência do indivíduo pode ser neutralizada de seus interesses e desejos.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Na contemplação do belo nos desvencilhamos de nós mesmos a ponto de atingir um "perder-se" totalmente, mesmo que momentâneo. Enfim, o homem se liberta da vontade e com ela da dor através da atividade da arte na qual as coisas não são mais vistas na sua conexão causal, mas na universalidade da idéia. </div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">4.4.2. Negação da Vontade na ética</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">A ética propriamente schopenhaueriana está embasada na compaixão. Compaixão entenda-se as ações virtuosas e desinteressadas presente em pessoas que atingiram tal grau de despojamento que passam a ter como suas as dores dos que a circundam. Com isso, a compaixão é também, pode-se dizer, sinônimo de de ações não-egoísticas.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Por compaixão, pode ser também entendido como o ato do despojamento. O fazer algo em busca de benefício está caracterizado como seu oposto, isto é, a não-compaixão.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Sendo assim, podemos destacar no ascetismo, uma forma para o efetivar da compaixão.Na Negação da Vontade, este é considerado o grau máximo, o ponto culminante para se atingir a mesma, sendo a outra forma encontrada na figura do gênio. Porém, o que diferencia estes dois estágios – a saber que a genialidade está associada à arte e o ascetismo a beatitude – é que na figura do gênio não há consciência, ou seja (ele não sabe) que está negando a vontade e todo seu impulso "instintivo-destrutivo". O asceta, por sua vez, sabe.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Mesmo estando agindo dentro de uma ética, o gênio, cujo é dotado de um auto grau de inteligência, age sem a necessidade de uma finalidade, uma meta a chegar. Já no asceta, percebe-se o grau em que, no início, do mesmo modo que o gênio, não se tem consciência, contudo, mais adiante, com a "tomada da consciência" via conhecimento, há um progresso notório e esforçado em busca de uma maior negação, culminando destarte, numa libertação final.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">4.4.3. Negação da Vontade: razão mística</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Destarte, para Schopenhauer, a negação total da Vontade está presente em maior grau no ascetismo. Pois, é no asceta que com maior vigor, nota-se uma razão mística por excelência, uma vez que, com a efetivação do ideal ascético atingi-se, necessariamente, à noção de nada. </div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">O asceta apresenta seu caráter no despojamento voluntário e intencional,desprendendo-se das coisas passageiras e tem a negação com um fim em si mesma. Para esta última, tudo o que ela quer énão querer. Este presente autoconhecimento que ora está presente no asceta passa a gerar a repugna em lugar do desejo (da Vontade). Não se pode, é claro, dizer que há uma supressão de todo desejo, uma vez que o corpo ainda é fenômeno da Vontade, contudo, passa a ocorrer um refreio intencional à volição. </div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">A partir disso, percebe-se como Schopenhauer parece apontar o perfil do asceta ao expor as características do mesmo. Para a presente pesquisa, isso enriquece a argumentativa do texto no sentido do apontamento de uma razão mística no pensamento do autor.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Veja-se com as palavras do próprio Schopenhauer, alguns adjetivos para o caráter passivo do santo:</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Como ele mesmo nega a Vontade, que aparece em sua pessoa, não reagirá quando um outro fizer o mesmo.[...] Nesse sentido, todo sofrimento exterior trazido por acaso ou maldade, cada injúria, cada ignomínia, cada dano são-lhe bem-vindos. Recebe-os alegremente como ocasião para dar a si mesmo a certeza de que não mais afirma a Vontade. [...] Suporta os danos e sofrimentos com paciência inesgotável e ânimo brando. Paga o mal com o bem, sem ostenção, [...] mortifica sua visibilidade, a sua objetidade, o corpo: alimenta-o de maneira módica para evitar que seu florescimento exuberante e prosperidade novamente animem e estimulem fortemente a Vontade. [...] (SCHOPENHAUER, 2005) </div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Com isso, Schopenhauer apresenta ao traçar o perfil do asceta, o estilo de vida que é almejado por muitos cristãos, hindus e budistas. Para Schopenhauer, é irrelevante o tipo de dogma professo por tais ascetas, de modo que o autor é tido como um "desertor do Ocidente". Em suma, pode-se dizer que é propriamente em função deste "conhecimento íntimo e imediato" que é nesta pesquisa postulada a tese da possibilidade de uma terceira forma de razão na filosofia de Schopenhauer. Eis até aqui, os elementos básicos para o entendimento de uma possível razão ético-mística no pensamento do autor de O Mundo como Vontade e como representação.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">5.DISCUSSÃO</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Todo o conteúdo presente neste estudo faz com que se perceba o domínio que se possuí sobre o tema trabalhado. Sobretudo, percebemos esse mencionado domínio na apreensão de conceitos schopenhauerianos como razão, Princípio de razão suficiente, Vontade, Negação da Vontade etc. Em um segundo momento, a leitura do livro quarto de O Mundo..., intitulado Do mundo como vontade (segunda consideração) constituiu um horizonte mais amplo para explorar e ir em busca da essência dos conceitos abarcados no livro.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">O desenvolvimento de raciocínio levado a termo durante a pesquisa consistiu primeiro na compreensão dos conceitos de razão já apontados por Schopenhauer, quais sejam, a razão epistemológica e a razão prática, num segundo momento analisar o caráter mutável da razão no pensamento do autor e, por fim, o apontamento de um terceiro nível da razão não conceitualmente apontado por Schopenhauer, o mote da presente pesquisa, a saber: a razão mística.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">6.CONCLUSÃO</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">O principal motivo da presente pesquisa pautou-se em analisar, na filosofia de Arthur Schopenhauer, o comportamento da razão e algumas características de seu caráter mutável. Para que isso fosse possível foi imprescindível a consideração de conceitos como Vontade e Negação. Doravante, somente a partir da análise de tais conceitos que foi possível interpretar um terceiro momento do conceito razão, que, em linhas gerais, não foi indicada conceitualmente pelo filósofo alemão, sendo descrita então sob as noções de Negação da Vontade, compaixão e ascetismo. É sob este viés, que se pode detectar a razão mística como um terceiro nível interiorizado nos argumentos da filosofia schopenhaueriana.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">Em Schopenhauer, o primeiro sentido do termo razão está centrado na preocupação de solidificar sua tese de que o mundo no qual vivemos é tão somente de um lado Vontade e de outro Representação. Para está consideração foi necessário analisar, na filosofia do autor, o mundo dos fenômenos no qual semanifesta a Vontade. Destarte, a razão epistemológica, faz-se presente na fundamentação da concepção de mundo schopenhauerianamente falando. Pelo fato de portar consigo conceitos como o de entendimento, princípio de razão suficiente e intuição, este aspecto da razão envolve uma finalidade, e por este fator, é interessada, sendo meio para haver um conhecimento de mundo.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">A razão nos escritos de Schopenhauer toma outra direção ao que concerne a uma preocupação com a conduta de vida do homem. O que se denomina razão prática é construída do décimo capítulo em diante da obra O Mundo como Vontade e Como Representação e assim como a anterior é também interessada já que está em vista da possibilidade de uma vida menos infeliz. Sob esse prisma, pode ser considerada prática e eudemonológica.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">No terceiro e último aspecto da razão apontado na presente pesquisa, observa-se que ela toma outro sentido na filosofia de Schopenhauer e apresenta-se, diferente das outras, com um caráter desinteressado, isto é, totalmente desprovido de interesses. Esta última forma encontra seu ponto culminante no ascetismo. </div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">SCHOPENHAUER, Arthur. O Mundo como Vontade e como Representação. Trad. Jair Barboza. São Paulo: UNESP, 2005.</div><div align="justify">SCHOPENHAUER, Arthur.Aforismos sobre Filosofia de Vida. Trad. Gilza Martins Saldanha da Gama. Rio de Janeiro: EDIOURO, 1991.</div><div align="justify">BARBOZA, Jair. Infinitude subjetiva e estética: natureza e arte em Schelling e Schopenhauer. São Paulo: Ed. UNESP, 2005.</div><div align="justify">SCHOPENHAUER, Arthur; BARBOZA, Jair. Metafísica do belo. São Paulo: Ed. UNESP, 2003.</div><div align="justify">--------------------------------------------------------------------------------</div><div align="justify">[1]Este termo é um conceito de Schopenhauer ligado ao entendimento que se corresponde, numa perspectiva Kantiana, ao tempo, ao espaço e a causalidade, os quais são elementos constituintes do próprio princípio de razão suficiente e que existem na consciência, independente dos objetos que aparecem nessas formas, e que encerram todo o seu conteúdo.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">[2]O termo é tomado propriamente como sendo um lugar onde o princípio de razão atua e numa perspectiva fisiológica, entendimento pode desgnar cérebro, crânio ou cabeça.</div><div align="justify"><br />
</div><div align="justify">FONTE: <a href="http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_6749/artigo_sobre_as_figuras_da_razao_no_pensamento_de_arthur_schopenhauer">http://artigos.netsaber.com.br/resumo_artigo_6749/artigo_sobre_as_figuras_da_razao_no_pensamento_de_arthur_schopenhauer</a></div><div align="justify"><br />
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</div><div align="justify"></div>Christiane Foricnitohttp://www.blogger.com/profile/15701277770166618026noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-82337747968232777.post-4898591062844504522010-09-05T18:31:00.000-07:002010-09-05T18:31:25.534-07:00O que é Arte ?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgW6vSCuF5zocUGAYUNiE8Kx6yGOWWqcL9D9uJodpqJQrmLmNtxega017mB5UuHJVFVvucSpLBgh8ZGVCZWgyrzOg-FyWaTszN_2KMmVGzYpXxXtPIp-dQWZnTgM8RRciHCwyOFr5IgdJs/s1600/number1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" ox="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgW6vSCuF5zocUGAYUNiE8Kx6yGOWWqcL9D9uJodpqJQrmLmNtxega017mB5UuHJVFVvucSpLBgh8ZGVCZWgyrzOg-FyWaTszN_2KMmVGzYpXxXtPIp-dQWZnTgM8RRciHCwyOFr5IgdJs/s320/number1.jpg" /></a></div><br />
Por Christiane Forcinito<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">Nietzsche dizia : "Temos a arte para que a verdade não nos destrua" e eu, sinceramente concordo com ele, pois, diante de tanta realidade muitas vezes "nua e crua" é esta que alimenta nossa alma e que muitas vezes apazigua nosso espírito.</div><br />
<div style="text-align: justify;">A afirmação que fiz acima pode ser uma colocação muito estrita e subjetiva da arte, pois não há uma definição sobre o que é a arte visto que possa ter várias definições dependendo do foco ao qual esta pode ser interpretada, ou seja, a arte pode ter várias definições desde a etmológica, a psicanalítica, a instrumentalista e a estética.</div><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">A definição etmológica pode ser encontrada em muitos manuais consiste em dizer que a arte é uma extensão da religião, pois ela teve um caráter mágico, religioso e mítico que surgiu com os homens primitivos. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Já a definição psicanalítica é um tanto polêmica pois ela afirma que a arte é uma "válvula de escape" tanto para o artista (que possui emoções) quanto para o espectador, ou seja ambos podem mostrar facetas de ambos tanto como uma fuga do real para o belo quanto mostrar um lado mais sombrio.</div><br />
<br />
<div style="text-align: justify;">A definição instrumentalista já nos remonta também ao aspecto religioso e político, assim como o pedagógico e moral, ou seja a arte utilizada para um determinado fim. E a estética que define a arte como sendo a arte pela arte, em outras palavras é o simples prazer gratuito que esta nos proporciona sem importar a psicanálise, a finalidade, a história, a filosofia, a concepção que a trouxe, enfim, nada importa é simplesmente se "sinto prazer".</div><br />
<br />
A "estética" é uma arte das sutilezas eu diria, pois para apreciar a arte pela arte é necessário ter um espírito extremamente preparado e "refinado" ( Harold Osborne tb disse isso) para isso. <br />
<br />
Enfim, diante destas várias defnições do que vem a ser arte, ainda sim penso de ela é necessária para o bem da nossa alma, afinal a nossa prórpia existência deve ser vivida como se fizéssemos dela uma eterna obra de arte. <br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnp9KnEl_JtOMG2HyywjWNEUWlaAhDHwuNzDRFJIDIT1RkLTt7uG54dB5eXnJGOYd9qx7wNwxsGUNthLfXvvoW-KzRIo5sZ3DW8c8Vx2-nYpjyF90fd2UFCr-QCOIP47tI9LR1yRJOPzI/s1600/spirit_flight.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" ox="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnp9KnEl_JtOMG2HyywjWNEUWlaAhDHwuNzDRFJIDIT1RkLTt7uG54dB5eXnJGOYd9qx7wNwxsGUNthLfXvvoW-KzRIo5sZ3DW8c8Vx2-nYpjyF90fd2UFCr-QCOIP47tI9LR1yRJOPzI/s320/spirit_flight.jpg" /></a></div> <br />
Sei que poderia ter desenvolvido mais este texto, porém o horário e os afazeres não me permitiram a aqui é um blog não uma revista especializada... (risos). <br />
<br />
Christiane Forcinito.Christiane Foricnitohttp://www.blogger.com/profile/15701277770166618026noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-82337747968232777.post-25958624213499224132010-07-10T07:31:00.000-07:002010-07-10T07:31:00.042-07:00O simbólico na Teodicéia: O Eros<h3 class="post-title entry-title">Por Christiane Forcinito<br />
</h3><div class="post-body entry-content"> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGJqrCt6bnDysW1F6LPC_Kilnn8ylbVvTrVd9Sl8gPzoNpgCyuApjaxfvlkJs_IgelV_Fnb6tG-IIyGlZDaB_PHUaGXK008LsFQsn9_cV38zt_AR5vfd7KCPFJ-iGBt-4SaAzUa1GFvXw/s1600-h/SuperStock_1158-859~Amour-Et-Psyche-Posters.jpg"><img alt="" border="0" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5345048903998604210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhGJqrCt6bnDysW1F6LPC_Kilnn8ylbVvTrVd9Sl8gPzoNpgCyuApjaxfvlkJs_IgelV_Fnb6tG-IIyGlZDaB_PHUaGXK008LsFQsn9_cV38zt_AR5vfd7KCPFJ-iGBt-4SaAzUa1GFvXw/s320/SuperStock_1158-859~Amour-Et-Psyche-Posters.jpg" style="display: block; height: 320px; margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 240px;" /></a><br />
<div align="justify">O que é a "Teodicéia"?</div><br />
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<div align="justify">Talvés esta seja a primeira pergunta quando se depara com um texto com esse título e isso é totalmente normal para quem nunca teve acesso a nenhum estudo filosófico ou se teve foi um estudo de nível básico e nada que tenha que se envergonhar por isso.</div><br />
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<div align="justify">Teodicéia é o estudo da uma abordagem da questão de Deus a partir de um pensamento filosófico -religioso (na faculdade geralmente estudamos o pensamento ocidental) estabelecendo diálogo com o contexto sócio -cultural e político da época e atual. Se alguém discordar desta definição sinta-se a vontade para escrever, afinal ainda sou uma filósofa em construção.</div><br />
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<div align="justify">A teodicéia possui bases antropológicas, estuda por exemplo a experiência humana do divino, a experiência religiosa no mundo grego onde podemos fazer várias releituras sobre a questão do mito, e se formos estudarmos este mesmo foco no mundo semítico poderemos fazer a mesma releitura nos elementos da crítica bíblica por exemplo. </div><br />
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<div align="justify">A teodicéia estuda a questão do ser humano na busca do absoluto e o problema da "arché" em oposição ao mito e assim entrando em Platão com o mundo das idéias e a questão do "demiurgo", na metafísica de Aristóteles. Na questão do "Sumo bem" de Santo Agostinho e nas "Provas da existência de Deus" de Santo Tomás de Aquino.</div><br />
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<div align="justify">Emfim é mais uma disciplina que se entrelaça com outras próprias da filosofia e que aqui vou me fixar neste texto nela e a questão do simbólico, mesmo porque amanhã farei uma prova sobre isso e aproveito não só para postar um novo texto no blog como estudá-lo e o clima propenso visto que muitos por aqui estão dando ênfase no Eros... e que tem muito haver com a questão do simbólico...</div><br />
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<div align="justify">Na Natureza há um predomínio no simbólico isto é o Eros... </div><br />
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<div align="justify"><strong>O Eros na mitologia Grega</strong><br />
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O mundo era árido e sem vida e assim Eros “tomou suas flechas doadoras de vida, penetrando o frio seio da terra” e “imediatamente a superfície castanha ficou recoberta de luxuriante verdura”. Cria a vida.<br />
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Eros é a vivência das intenções pessoais e o significado do ato. É um estado do ser. Agarramos-nos a excitação e queremos que continue sempre, pois o Eros é a ânsia, a eterna procura de expansão.<br />
<br />
Eros é a força que nos atrai, é a força que nos impele ao que pertencemos. União com nossas próprias possibilidades, união com pessoas significativas do nosso mundo, em relação a quem descobrimos nossa auto realização... “Areté” (existência boa e nobre que todos buscamos).<br />
<br />
O Eros quer sempre estar desperto, pensando no amado, como os chineses dizem “experiência de múltiplo esplendor”, recordando, saboreando...<br />
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Eros é a busca da ampliação do estímulo, a fonte de ternura, a genuína união, na qual a finalidade do desejo não é a satisfação e sim seu prolongamento...O Eros é o desejo ardente, a ânsia , o desejo de amar. Resumindo: “Todo o começo é encantador”... </div><br />
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<div align="justify"><strong>Eros e Sexo são diferentes para os gregos.</strong><br />
Sexo é redução de tensão, excitação fisiológica, a gratificação e a satisfação do desejo para depois de um ritmo e resposta vir a redução desta tensão e alívio.<br />
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O sexo vem do latim “sexus” que significa separação, como que distinguir funções fisiológicas, isto é o caráter macho e fêmea. É um termo zoológico, um padrão das funções neurofisiológicas. </div><br />
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<div align="justify">O sexo é caracterizado pelo entumescimento dos órgãos e enchimento das gônadas (onde se necessita um alívio satisfatório). Sexo é necessidade, onde a finalidade do sexo é o orgasmo, mas não para o Eros.<br />
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Depois do sexo há o sono, o descanso e o alívio que o corpo responde.</div><br />
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<div align="justify"><strong>Eros em Platão</strong><br />
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“Lembrar do Eros deve-se voltar ao “Banquete”, onde Platão descreve o amor:” Não é mortal, nem imortal, mas fica entre os dois... É um grande espírito (demônio) e como todos os espíritos um intermediário entre o divino e o mortal... “É o medianeiro unindo o abismo que separa os homens e os deuses e, portanto nele tudo se reúne...”.<br />
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O amor significa dar forma interior da pessoa e buscar esta forma unindo-se á ela. O Eros é o impulso que o leva a unir-se com outra pessoa.<br />
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No caso de Platão é também a ânsia pelo conhecimento fazendo com que impila o homem ao encontro com a verdade.<br />
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Eros é a força geradora, isto é ela é eterna e imortal e esta criação é o ponto mais “Divino e imortal” que o homem pode chegar.<br />
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O Eros também pode ser o impulso para procriação mas no sentido de unir-se, assim como nos animais, mas os humanos estão em perene mutação, onde há uma dimensão de experiência psicológica e emocional quanto biológica.<br />
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No caso da psicologia o Eros se manifesta nesta procura do auto-conhecimento, expansão do “self”, no impulso do indivíduo se dedicar a busca da verdade. Eros tornando-se ponte do ser no vir - a – ser.<br />
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Santo Agostinho diz que o Eros é a força que nos impele para Deus. Nietzsche diz que está no amor fati. Camus o Eros nos impele para a auto - realização e nós, nossa natureza humana dificilmente encontrará melhor auxiliar que o “Eros” para nos impelis para o verdadeiro.</div><br />
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<div align="justify"><strong></strong></div><br />
<div align="justify"><strong>Uma Reflexão... A RUPTURA ENTRE AMOR E SEXO</strong></div><br />
<div align="justify">Hoje vivemos numa sociedade onde há por um lado a banalização do sexo e do amor, onde o sexo é usado como instrumento para prova de sua própria identidade, isto é, usamos a sensualidade para ocultar a sensibilidade e assim castrando o sexo tornamo-os vazio e sem ligação com o amor.</div><br />
<div align="justify">A sexualidade sofreu transformações significativas inclusive no âmbito sociocultural, isto é, hoje é mais um objeto de mercado. A liberação sexual que a priori era uma tentativa de buscar uma expressão humana acabou tornando-se uma mudança de perspectiva na qual tornou o sexo mais uma ferramenta levando a separação de teorias como Eros e o sexo, ou seja, em toda essa abertura e questões subjetivas que foram se abrindo depois disso como por exemplo, gays, héteros, homens, mulheres que às vezes estão em um campo de batalha numa luta pelo poder a cisão ficou maior ainda na qual Eros e sexo não precisavam nem sequer existir, um não necessitava nem um pouco da existência do outro.<br />
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Hoje o sexo está mercantilizado também de tal forma que o “desempenho” se tornou palavra de ordem. Todos estão preocupados com sua forma, culto ao corpo e seu desempenho sexual. A pessoa se tornou um objeto de tal forma que perdeu totalmente sua subjetividade. E o que na época se procurava libertar (Anos 60) hoje se tornou alienação.<br />
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O capitalismo também lucra muito e com isso a sexualidade além de gerar prazer proporciona um incentivo para um comércio na qual fica evidente que a compulsão do comportamento atual está longe do amor der o “Eros” dos gregos.<br />
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Nesta grande inversão de valores há a instabilidade onde a cisão entre Eros e sexo se faz presente e abala as bases da sociedade, isto é a família, surge na sociedade a pressão também do capitalismo materialista com o nascimento de um herdeiro o que torna o casamento o sexo meio impositivo e obrigatório. Há também a ligação entre sensualidade e dinheiro na qual o desejo é inserido e o matrimônio começa a ser degradado, os problemas não são resolvidos entre o casal e acabam sendo despejados nos filhos e com isso divórcios e separações.<br />
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E com o culto ao orgasmo, expressão da mecanização do amor, hoje está tudo extremamente distorcido e os paradigmas rompidos. Hoje se procura alguém para não ficar sozinho, para aliviar suas tensões, enfim, se procura alguém por diversos motivos exceto pelos verdadeiros.<br />
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O amor, o que vem a ser o amor?<br />
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Hoje se perdeu a dimensão do que é o amor, do que é o corpo e a sexualidade... Não estou nem querendo parecer puritana, moralista, longe disso, bem longe disso... Quem me conhece bem sabe que não tenho nada de puritana e nem moralista.... Mas profundamente o que meus amigos e leitores acham? </div><br />
<div align="justify">Grande abraço!</div></div>Christiane Foricnitohttp://www.blogger.com/profile/15701277770166618026noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-82337747968232777.post-25266193488883854292010-02-02T09:20:00.000-08:002010-02-02T09:21:18.296-08:00Ser e Tempo de Heidegger.... Algumas reflexões...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="http://i.s8.com.br/images/books/cover/img2/59302.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="http://i.s8.com.br/images/books/cover/img2/59302.jpg" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Tão poucos filósofos são possíveis de se deparar como sendo de tão difícil compreensão como <span style="text-decoration: underline;">Heidegger</span>. Embora esse pensador alemão seja sistemático, os termos encontrados em sua complexa obra capital, <span style="text-decoration: underline;">Ser e Tempo</span> (o próprio Heidegger definia como confusa [Safranski, 2001]), e todos seus escritos, exigem uma constante atenção no sentido de desvelar os termos que Heidegger utilizou – foi também um grande inventor da linguagem, com influências sobretudo de <u>Hölderlin</u>, o poeta que ao seu ver exercia a comunicação mais íntima com o <i>ser</i> -, do contrário caímos no sem-sentido. É ao lado de <span style="text-decoration: underline;">Sartre</span> um dos maiores filósofos do <span style="text-decoration: underline;">existencialismo moderno</span>, porém muito questionado por estar preocupado com uma ontologia do Ser, o que descaracterizaria a corrente filosófica dos existentes singulares, contudo, é sem dúvidas um grande nome que também permite a apreensão do homem singular. A questão fundamental é saber usar as determinadas contribuições de Heidegger, sem descaracterizá-las, e não simplesmente recusá-las somente porque podem apresentar pressupostos que soam contrários a um determinado modo de pensamento – fadado ao fracasso se a hermenêutica for um dos princípios desse “modo” de pensar. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Sua obra, embora tenha o realce pautado no sentido ontológico do Ser, atravessa, necessariamente, os caracteres ônticos. Lembrando que o próprio Heidegger recusava o termo existencialista para si, e que a sua vasta obra é fonte inesgotável para estudos, o que apresento abaixo é um breviário do conceito central de Heidegger, o <i>Dasein</i>, onde aí, a meu ver, revelam-se as múltiplas possibilidades do pensamento heideggeriano enquanto contribuições fundamentais para o existencialismo.</div><div></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O homem não é um ente, não é uma coisa aí, estática, congelada. Diante da impossibilidade de um <a href="http://www.eternoretorno.com/2009/04/08/ser-e-tempo-de-heidegger-pontuacoes/#" onclick="hwClick099257(undefined);return false;" oncontextmenu="return false;" onmouseout="hideMaybe('HOTWordsTitle'); this.style.cursor='hand'; this.style.textDecoration='underline'; this.style.borderBottom='dotted 1px'; " onmouseover="hw099257(event, this, 'undefined'); this.style.cursor='hand'; this.style.textDecoration='underline'; this.style.borderBottom='solid';" style="border-bottom: 1px dotted; color: #ff6633; text-decoration: underline;">conhecimento</a> do Ser como objeto, com determinados princípios característicos, Heidegger cria o conceito de dasein para buscar apreender o “ente”, o <i>ser</i>. Mas é lógico que o dasein não é mais do que um modo de ser, é ontológico como sendo um ente para o qual, em seu ser está em jogo o seu próprio ser, mas o dasein só pode ser o “meu” quando penso em compreendê-lo. Nesse sentido, os demais entes são ônticos. O dasein não pode ser apreendido como essência, pois nele reside a existência e existir é estar aí, lançado no mundo com todos os seus possíveis e impossíveis. Podemos buscar uma “compreensão existencial”, mas nunca um fechamento do dasein como sendo algo da ordem do é.</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O dasein já está no mundo, portanto, não pode ser constituído como isolado senão como <i>ser-no-mundo</i> que já é o seu próprio aí, seu ser. Assim, possui caráter aberto. Sua abertura não significa conhecimento, mas um “existencial” que fundamenta e cria o conhecimento. Para o ser-no-mundo, há 3 elementos fundamentais:</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">a) situação original: o sentimento, literalmente, de estar aí, uma estado de “espírito” que se percebe como existente em sua facticidade. Chama-se <i>abandono</i> esse fato de estar lançado no mundo: jogado e abandonado no mundo para existir – o que não significa que o foi jogado por uma entidade divina para poder existir</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">b) <i>compreensão</i>: não enquanto conhecimento, mas no sentido de “estar diante de [alguma coisa]“, é na compreensão, nas múltiplas interpretações que reside o dasein como nunca sendo algo dado para sempre, mas aquilo que ele pode ser. Aqui está presente um conceito que Heidegger chama de <i>projeto</i> (não enquanto um planejamento de se ser!), que diz respeito à forma existenciária de poder-ser.</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">c) <i>discursividade</i>: Heidegger foi um grande estudioso da linguagem. “O homem habita a linguagem”. A discursividade diz respeito à linguagem, mas não somente. Ela é a articulação do ser-no-mundo com a sua inteligibilidade de ser.</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O dasein se revela na <i>angústia</i>. A angústia não é medo, pois não se encontra em lugar algum, não está em um objeto embora eu possa nomear ou representar algo como sendo uma fonte de angústia. A angústia na obra de Heidegger é ontológica, sua fonte é o mundo como tal. Como não estando em parte alguma, a angústia é a própria <i>possibilidade-de-ser-no-mundo</i>. É na angústia que o dasein se revela como uma facticidade em seu ser-no-mundo.</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Esses elementos aqui colocados foram os que utilizei como primeiras <a href="http://www.eternoretorno.com/2009/04/08/ser-e-tempo-de-heidegger-pontuacoes/#" onclick="hwClick299257(undefined);return false;" oncontextmenu="return false;" onmouseout="hideMaybe('HOTWordsTitle'); this.style.cursor='hand'; this.style.textDecoration='underline'; this.style.borderBottom='dotted 1px'; " onmouseover="hw299257(event, this, 'undefined'); this.style.cursor='hand'; this.style.textDecoration='underline'; this.style.borderBottom='solid';" style="border-bottom: 1px dotted; color: #ff6633; text-decoration: underline;">reflexões</a> antes de partir para a obra do próprio Heidegger, que estou longe de ser um profundo conhecedor. Outro elemento que utilizo como “fechamento” para esse resumo inicial é o de <i>cuidado</i>, que diz respeito ao dasein estar sempre transcendendo a si mesmo, na medida em que nunca se fixará em um <i>é</i> como sendo algo pronto e acabado. Em torno desse conceito está presente uma série de elementos a ser conhecidos como características do dasein, tais como todo o seu fazer, desejar, teorizar, explicar, etc.</div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Com muitas ressalvas do caráter resumido do exposto acima, que não aborda outros elementos centrais na obra de Heidegger que são o <i>tempo</i> e a <i>morte (</i>o dasein é também <i>ser-para-a-morte),</i> creio que talvez possa ser útil para aqueles que se interessam pelos pensamentos de um dos espíritos mais férteis da modernidade e diferenciado na história da filosofia. Certamente que o leitor interessado, diante da complexidade do assunto, não ficará preso a um só resumo.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Fonte: </div><div style="text-align: justify;"></div><div style="color: yellow; text-align: justify;">Safranski. R. <i>Heidegger: um mestre da Alemanha entre o bem e o mal.</i> Ed.: Geração Editorial, 2001.</div>Christiane Foricnitohttp://www.blogger.com/profile/15701277770166618026noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-82337747968232777.post-20832155440524126522010-01-28T12:05:00.000-08:002010-01-28T12:29:03.651-08:00As vidas múltiplas do Padre Maciel - Mais uma bomba para a Igreja e para a Beatificação de João Paulo II<p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj54ZGRqB80Ilw0Uufm8_p7DnYQGvEjoxxvMKaeEJxTvsMAbjSxl9uBFcg_17W8HB3eyX6-aMC0TBKmCY8VorjK_QFSkHGLcyvWE4XPOp878aUnuZUgRH06BCiQCSkH1BikaegestOZkMzp/s1600-h/05maciel560.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5423269273143037250" style="margin: 0px auto 10px; display: block; width: 320px; height: 211px; text-align: center;" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj54ZGRqB80Ilw0Uufm8_p7DnYQGvEjoxxvMKaeEJxTvsMAbjSxl9uBFcg_17W8HB3eyX6-aMC0TBKmCY8VorjK_QFSkHGLcyvWE4XPOp878aUnuZUgRH06BCiQCSkH1BikaegestOZkMzp/s320/05maciel560.jpg" border="0" /></a><br /></p><p style="text-align: justify;">Houve um tempo em que o mundo dos Legionários de Cristo era simples. De um lado, uma congregação católica em plena ascensão, fundada em 1941 por um homem excepcional - um "santo", acreditavam muitos legionários -, que havia ganho a confiança de diversos papas. Do outro, os inimigos da Igreja, determinados a destruir com calúnias a reputação e a obra do criador, o padre mexicano Marcial Maciel.Durante meio século, esse discurso foi um escudo eficaz. Implantada em 22 países, a congregação dos Legionários forneceu à Igreja mais de 800 padres (95 dos quais ainda foram ordenados dia 12 de dezembro em Roma), possui 2.500 seminaristas, conta com um apostolado de 60 mil laicos, administra 200 escolas e universidades, movimenta um orçamento anual de US$ 650 milhões.Mas ela atravessa hoje uma crise muito grave, que poderá comprometer a imagem de seu principal protetor, o papa João Paulo 2º, que deve ser beatificado este ano. Ainda dominante quando os Legionários haviam aberto suas portas ao mundo, no início de 2006, o perfil de Marcial Maciel sumiu de seu website, exceto pela seção "história". Não se cogita mais tê-lo como modelo para a juventude, como João Paulo 2º fizera em 1994.</p><br /><div style="text-align: justify;">No início de fevereiro de 2009, o "New York Times" revelou que o Padre Maciel, falecido um ano antes aos 87 anos, havia levado uma "vida dupla" e gerado "pelo menos" uma filha, que mora em Madri. No fim de agosto, soube-se da existência de três filhos mexicanos, nascidos de uma outra mãe, mas que tinham contato com sua meia-irmã. Além disso, Maciel teria tido um filho no Reino Unido, bem como uma filha francesa, morta em um acidente de carro. Em meados de dezembro, surgia a notícia de que ele também seria um plagiador.Nenhuma dessas informações foi desmentida pelos Legionários, que se esforçaram para abafar os seguidos choques. Mas o mal-estar foi proporcional ao silêncio imposto por tanto tempo: por meio de um "voto especial", retirado somente em 2006, os padres dos Legionários eram proibidos de criticar seus superiores."Era uma espécie de pacto mafioso", afirma o sociólogo e psicanalista mexicano Fernando Gonzalez, autor de dois livros sobre o "caso Maciel", para os quais ele pôde consultar 201 documentos dos arquivos secretos do Vaticano, datados de 1948 a 2004. "Hoje, os Legionários devem confessar a parte heterossexual de seu fundador, por não ter reconhecido os abusos pederásticos". Pois nessa demolição progressiva de uma figura paternal outrora venerada, o pior sem dúvida está por vir.Se os atuais dirigentes da congregação ainda esperam extirpar o tumor da forma mais limpa possível, parte da hierarquia católica não mede suas palavras, sobretudo nos países marcados por escândalos eclesiásticos, como a Irlanda ou os Estados Unidos. Para o arcebispo de Baltimore, Edwin O'Brien, Maciel é um "empresário genial que, com vigarices sistemáticas, se utilizou da fé para manipular os outros em função de seus interesses egoístas".Em maio de 2009, o Vaticano nomeou uma comissão de investigação, composta por três bispos e dois outros religiosos, entre os quais um jesuíta. Uma primeira "visita apostólica", em 1956, deveria examinar o vício em drogas de Maciel, mas também os abusos sexuais cometidos sobre os noviços. Ela havia terminado em uma espécie de arquivamento, que por muito tempo impediu qualquer denúncia pública, ainda que o principal investigador tenha manifestado suas desconfianças em um relatório confidencial. "Todos nós mentimos", confessou mais tarde Felix Alarcon, um dos adolescentes entrevistados na época, para salvar "um padre que adorávamos", e que eles tinham como "acima da Igreja", revela um de seus colegas. A exuberante atividade heterossexual do fundador dos Legionários semeou outros espinhos. Seus três filhos mexicanos (33, 29 e 17 anos), bem como a meia-irmã deles, Norma Hilda, 23, às vezes viajavam com seu pai - e até o acompanharam no Vaticano! -, que lhes escrevia sob um nome falso cartas carinhosas e cheias de erros, em papel timbrado de hotéis do mundo inteiro, para se desculpar por ser um "homem de negócios" tão ocupado. Hoje, eles pedem aos Legionários por um reconhecimento oficial, mas também por parte de sua herança.O que teria acontecido, por exemplo, com o fideicomisso (testamento por meio de um terceiro) que Maciel teria criado para eles na Suíça, e sobre o qual ele tivera o cuidado de falar? "Os Legionários somente lhes mostraram os documentos de uma conta nas Bahamas, que está vazia", ressalta o advogado dos filhos mexicanos, José Bonilla, durante uma entrevista recente no México para o "Le Monde". Para José Barba, um ex-legionário que em 1998 prestou, junto com outras sete vítimas, uma queixa perante o Vaticano, é preciso se questionar sobre "a passividade da Igreja, e as estruturas que permitiram que esses abusos se perpetuassem por tanto tempo: agora dizem que Maciel era um monstro, ao mesmo tempo em que sugerem que os Legionários têm um grande futuro".Quem é esse homem que conseguiu levar, bem no coração do catolicismo, a vida desregrada de um astro do rock? Nascido em uma família antiga do Michoacán - seu tio materno, Jesús Degollado, foi general dos Cristeros, os insurgentes que tomaram as armas, de 1926 a 1929, contra o governo mexicano "jacobino" -, ele usava de sua sedução tanto junto a garotos sujeitos à disciplina da instituição, como junto a viúvas ricas de quem extorquiu fortunas para financiar suas obras.Segundo uma fonte próxima do Vaticano, trata-se de um caso patológico de distúrbio de personalidade. Maciel certamente fora violentado na infância, e fingia ter amnésia diante de suas vítimas. Mas o psicanalista Fernando Gonzalez não acredita em uma esquizofrenia: "Ele era um calculista malicioso que se adaptava perfeitamente a cada situação".Em um ambiente de repressão sexual extrema, ele se valia de suas "dores no fígado" - na verdade, uma inflamação crônica da próstata - para obter dos meninos o "alívio" proporcionado por injeções de morfina, mas também por masturbações ou penetrações. Para isso, ele garantia ter uma "permissão especial do papa". E no final ele não hesitava em absolvê-los do pecado ao qual ele acabava de incitá-los. Ora, a "absolutio complicis", ou absolvição do cúmplice, é uma grave infração do direito canônico, punida com excomunhão.Desde a ruidosa investigação em 1997 do jornal mexicano "La Jornada" e o "El Legionario", livro de Alejandro Espinosa, sobrinho e efebo de Maciel, vários livros trataram dessa personalidade diabólica, capaz de celebrar uma magnífica missa na capela, saindo da enfermaria onde o "santo" acabara de manipular os corpos e as almas na penumbra. "Nós éramos um arquipélago de solidões", escreve José Barba, evocando o longo sofrimento daqueles que sofreram abusos. Um dos filhos de Maciel tem dificuldade para superar: quando era criança, seu pai lhe repetia que era essencial não mentir.</div><br /><br /><br /><div style="text-align: justify;">Tradução Lana Lim </div><br /><div style="text-align: justify;">Fonte: UOL<br /><br />Quando li esta matéria já estava ciente de muitos boatos. Acho esta matéria muito tendenciosa e direi porque.<br /><br />Primeiramente aprendi a duras penas que quando você joga um travesseiro de plumas ao vento jamais conseguirá juntar pena por pena... Isto é, quando um fato surge dificilmente se detém ao fato isoladamente, sempre haverá a imaginação, a falta de bom senso e o falatório sobre determinado fato.<br /><br />Lembrando para quem se esqueceu e ensinando para quem não sabe o falso testemunho deixa marcas eternas e por isso viver na verdade por mais que doa deve ser o caminho de qualquer pessoa.<br /><br />As ofensas à verdade são:<br /><br />1-O Falso testemunho e o perjúrio:<br /> <br />Quando se emite publicamente algo contrário à verdade, diante de um tribunal, é falso testemunho e quando se está sob juramento, é perjúrio. Isso pode contribuir para condenar injustamente um inocente ou inocentar o culpado. Prejudica o exercício da justiça pronunciada pelos juizes.<br /> <br /> Respeito à reputação das pessoas:<br /> <br /> É proibido qualquer atitude e palavra que cause um prejuízo injusto. Torna-se culpado:<br /> <br /> 2- De juízo temerário (imprudente):<br /> <br /> Aquele que, secretamente, admite como verdadeiro, sem razão alguma, o defeito moral do próximo.<br /> <br /> 3- De malediscência:<br /> <br /> Aquele que, sem razão válida, revela as pessoas que não sabem os defeitos do próximo e suas faltas.<br /> <br /> 4- De calúnia:<br /> <br />Aquele que, pela mentira, prejudica a reputação dos outros e causa falsos juízos a respeito deles. Para não cairmos no juízo temerário (julgar sem medir as conseqüências), temos que interpretar de modo favorável tanto quanto possível o pensamento, atos e palavras do próximo.<br /> <br /> 5- Malediscência e calúnia:<br /> <br />Mancham a reputação e a honra do próximo. Todos têm direito à honra do próprio nome, à sua reputação e ao seu respeito. Logo, a malediscência e a calúnia ferem as virtudes da justiça e da caridade.<br /> <br /> 6- Adulação, bajulação ou complacência:<br /> <br />Deve-se tomar muito cuidado com atos ou palavras que, por (bajulação), confirme e encoraje o outro na malícia de seus atos e perversidade. Adulação é falta grave quando cúmplice de vícios ou de pecados graves. Se torna um pecado venial, quando só quer ser agradável, evitar um mal, remediar uma necessidade, obter vantagens legítimas.<br /> <br /> 7- A jactância ou fanfarronice:<br /> <br />É uma falta grave contra a verdade e o mesmo vale para a ironia que é depreciar alguém caricaturando, de modo malélovo, seu comportamento.<br /> <br /> 8- A mentira:<br /><br />É dizer o que é falso com a intenção de enganar. A mentira torna-se mortal, embora seja um pecado venial em si, quando fere gravemente as virtudes da justiça e da caridade. Sua punição varia de acordo com as circunstâncias, a intenção do mentiroso, as conseqüências sofridas por suas vítimas.<br /> <br />A mentira é uma profanação da palavra que tem como finalidade levar a verdade a outros e é condenável em sua natureza. Quando induzimos o próximo, através da mentira, a um erro estamos cometendo uma falta grave contra a justiça e a caridade. A culpa é maior ainda, quando a intenção é de enganar. Causa a morte para aqueles que são desviados da verdade.<br /> <br />A mentira é uma verdadeira violência ao próximo porque o impede de obter a capacidade conhecer, que é a condição de todo o juízo e decisão. Ela mina a confiança entre os homens e rompe o tecido das relações sociais.<br /> <br />Toda falta contra a justiça e a verdade impõe uma reparação, mesmo após o perdão. Não podendo reparar um erro publicamente, deve-se fazê-lo em segredo; se aquele que sofreu o prejuízo não puder ser indenizado, deve-se dar-lhe satisfação moral, em nome da caridade. Isso também é válido para as faltas cometidas contra a reputação dos homens.<br /><br />Diante esta pequena lembrança deixo-vos com a seguintes perguntas e reflexões:<br /><br />1 - Sabemos (eu vivi isso, vivo isso) que diante um fato se aumenta a proporção de qualquer acontecimento. As pessoas aumentam, inventam !!!!!<br /><br />2 - Ele foi um homem como qualquer um e passível de erros. QUAL O PROBLEMA?<br /><br />3 - E sua obra? O que ele deixou? Não há mérito nenhum nisso? Quer dizer que seja o que for que você tenha feito de bom se cair nada mais "presta", isto é, tudo é anulado?<br /><br />4 - O mais importante: NÃO JULGUEIS E OLHEM SUAS PRÓPRIAS VIDAS ANTES DE FALAR DE QUALQUER UM, POIS O MAIOR PECADO ANTES DE TUDO É O ÓDIO E A INVEJA.<br /><br />SEM MAIS.... REFLITAM... NINGUÉM É DONO DA VERDADE E PELO JEITO NÃO GOSTAM DE VIVER COM ELA....<br /><br />Christiane.<br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /><br /></div>Christiane Foricnitohttp://www.blogger.com/profile/15701277770166618026noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-82337747968232777.post-52330969900106887042010-01-26T07:10:00.000-08:002010-01-26T07:13:44.560-08:00Normose: Uma fábrica de clichês<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQziC3xBZIcPq6kSIjiQqfEDbKHwDNcWth0ODJ6p8iRA3TEQTzOAWAYPMi_CG2eMPpNvuT4-gSlIinjYVtlGhVEaj4Nh6ADDvYW-ssSrYRTOIGUVcT3utCdmZHCmnejpfyun-hPoPQwkU/s1600-h/1186275547_f.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 288px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhQziC3xBZIcPq6kSIjiQqfEDbKHwDNcWth0ODJ6p8iRA3TEQTzOAWAYPMi_CG2eMPpNvuT4-gSlIinjYVtlGhVEaj4Nh6ADDvYW-ssSrYRTOIGUVcT3utCdmZHCmnejpfyun-hPoPQwkU/s320/1186275547_f.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5431066887445016786" border="0" /></a><br /><div style="text-align: justify;">Boa parte dos normóticos está limitada pela identificação corporal. Não possuem a consciência de que é justamente esse tipo de limitação sem fundamento que os mantém longe de qualquer possibilidade de estados alterados de consciência. O normótico, quando não há nada para fazer, pensa em todas as possibilidades de atividades, menos, tentar se sentar e experiênciar o Ser; é alguém que sofreu a ferroada do não ser, a dor de uma vida não vivida, das estradas não exploradas, dos riscos não sofridos, das pessoas não amadas, dos pensamentos não realizados e dos sentimentos não apreciados. Sua normose é fruto do resultado do pecado da omissão. É alguém que passa muito de seu tempo se iludindo, deliberadamente, criando álibis para encobrir suas fraquezas e que não possui a consciência de que se utilizasse seu tempo de maneira diferente, esse mesmo tempo seria suficiente para curar seus defeitos de caráter e imperfeições, de modo que então não seriam necessários os álibis.<br /><br />O normótico vive principalmente para si próprio e sua família. Em raríssimos casos existe qualquer visão mais elevada do que essa. Poucos são capazes até mesmo de dar um olhar em direção aos pedintes que vem em sua direção nas paradas do trânsito. Quase toda sua experiência é a de viver para si mesmo e sua família, com apenas um minúsculo fragmento deixado para os outros.<br /><br />Quanto a mensagens de cunho espiritual, as rejeita por medo de que suas verdades possam lhe convencer e ter, então, de abandonar seu modo de vida disfuncional com suas conseqüentes zonas de conforto. Devido a esse tipo de medo, vive sob a custódia de uma elite dominante da mesma forma como o gado está sob os cuidados dos boiadeiros. Não raro são às vezes em que se obriga a fazer coisas das quais se envergonha, alegando quando descoberto, que está cumprindo com o seu dever; é um ser que sofre devido à alienação e desconexão com o Ser que o faz ser. Em nome da aceitação condicionada por parte das pessoas significativas de sua vida, negligencia a si mesmo, abandonando-se e fechando-se para o mundo devido ao medo de ser exposto à vergonha tóxica e a dor da solidão, tendo como resultado dessa atitude, o desenvolvimento da incapacidade de amar de forma incondicional.<br /><br />O normótico é aquele que se conforma em ouvir sobre Deus, rezar para Deus e pela espera de um encontro com Deus no próximo mundo: alguém que não consegue sair da crença para ousar pela busca da experiência. Não tem a percepção espiritual, que torna Deus uma realidade demonstrável; está convencido de que Deus é uma necessidade, mas ainda não está convencido de Deus. Prefere se agarrar na concepção oriunda da experiência pessoal de Deus vinda de terceiros. Vive preso a um ciclo compulsivo de hábitos, comportamentos e relacionamentos profissionais e/ou afetivos mesmo que seus prazos de validade estejam vencidos e repetidamente se mostrando disfuncionais. Sua falta de sinceridade para consigo mesmo é uma das maiores e mais potentes barreiras do processo de vir-a-ser. A insinceridade corrói a integridade de sua Alma e destrói o fortalecimento da razão. Vive aprisionado a um modismo social que determina um comportamento padronizado dentro de uma sociedade mecanicamente padronizada e com isso, autoboicota todo seu potencial criativo. Se ao menos soubesse da existência de um estilo de vida imensamente mais rico e profundo do que toda essa existência apressada - dotada de serenidade, paz e poder, sem pressa - se soubesse como a vida interior é realmente poderosa, não hesitaria nem um instante em abandonar todas as coisas que barram seu caminho para ir em direção a ela e assim constatar por si mesmo, que tudo aquilo que a normose tem para lhe oferecer para beber é tão somente um copo d´água salgada, cujo propósito é o de lhe deixar ainda mais sedento.</div>Christiane Foricnitohttp://www.blogger.com/profile/15701277770166618026noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-82337747968232777.post-30690457139103454002010-01-26T06:24:00.000-08:002010-01-26T06:26:14.207-08:00Normose<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLWcllq_nx_7bOLCaqKh6GKf9qXIL3u5XDkzSOYUDxVGW5ZSM1j2hF2WLQ5OeutUwK4iafzagWRJsM8J1Y5YYEJlcPtQX58CR27mVhjCKca1tZccWFIDu1Ksv5rhpgoEZckR59c4vmezw/s1600-h/1134531770_f.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 237px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiLWcllq_nx_7bOLCaqKh6GKf9qXIL3u5XDkzSOYUDxVGW5ZSM1j2hF2WLQ5OeutUwK4iafzagWRJsM8J1Y5YYEJlcPtQX58CR27mVhjCKca1tZccWFIDu1Ksv5rhpgoEZckR59c4vmezw/s320/1134531770_f.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5431054724888294642" border="0" /></a><br /><br /><br />Lendo uma entrevista do professor Hermógenes, 86 anos, considerado o fundador da ioga no Brasil, ouvi uma palavra inventada por ele que me pareceu muito procedente: ele disse que o ser humano está sofrendo de normose, a doença de ser normal.<br /> <br />Todo mundo quer se encaixar num padrão. Só que o padrão propagado não é exatamente fácil de alcançar. O sujeito "normal" é magro, alegre, belo, sociável, e bem-sucedido. Quem não se “normaliza" acaba adoecendo. A angústia de não ser o que os outros esperam de nós gera bulimias, depressões, síndromes do pânico e outras manifestações de não enquadramento. A pergunta a ser feita é: quem espera o que de nós?<br /> <br />Quem são esses ditadores de comportamento a quem estamos outorgando tanto poder sobre nossas vidas? Eles não existem. Nenhum João, Zé ou Ana bate à sua porta exigindo que você seja assim ou assado. Quem nos exige é uma coletividade abstrata que ganha "presença" através de modelos de comportamento amplamente divulgados. Só que não existe lei que obrigue você a ser do mesmo jeito que todos, sejam lá quem for todos. Melhor se preocupar em ser você mesmo. A normose não é brincadeira.<br /> <br />Ela estimula a inveja, a auto-depreciação e a ânsia de querer o que não se precisa. Você precisa dequantos pares de sapato? Comparecer em quantas festas por mês? Pesar quantos quilos até o verão chegar? Não é necessário fazer curso de nada para aprender a se desapegar de exigências fictícias. Um pouco de auto-estima basta. Pense nas pessoas que você mais admira: não são as que seguem todas as regras bovinamente, e sim aquelas que desenvolveram personalidade própria e arcaram com os riscos de viver uma vida a seu modo. Criaram o seu "normal" e jogaram fora a fórmula, não patentearam, não passaram adiante. O normal de cada um tem que ser original. Não adianta querer tomar para si as ilusões e desejos dos outros. É fraude. E uma vida fraudulenta faz sofrer demais.<br /> <br />Eu não sou filiada, seguidora, fiel, ou discípula de nenhuma religião ou crença, mas simpatizo cada vez mais com quem nos ajuda a remover obstáculos mentais e emocionais, e a viver de forma mais íntegra, simples e sincera. Por isso divulgo o alerta: a normose está doutrinando erradamente muitos homens e mulheres que poderiam se quisessem ser bem mais autênticos e felizes.<br /> <br /> <br /> <strong>Fonte:</strong> 05.08.07-Jornal Zero Hora-P.Alegre-RS - Por: Martha Medeiros<br /> <br /> <strong>Imagem:</strong> http://lh3.ggpht.com/_4Cj2S6Slhw8/Sb2vE8Q6mjI/AAAAAAAABlc/lyc5tNqp-yc/s400/lapidando.JPG<br /> <br /> <br /> ATENÇÃO: A responsabilidade deste artigo é exclusiva de seu respectivo autor (fonte).Christiane Foricnitohttp://www.blogger.com/profile/15701277770166618026noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-82337747968232777.post-2927841689460237662010-01-26T06:20:00.000-08:002010-01-26T06:23:59.080-08:00Uma doença chamada “normose”<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhPmLpoDS_WC2dFxnumCCkzy7Z5Op8MUroEnba5SWMQXvWbm8bd8k7WYA_dwI_P2l_6ZG2auGXdhgiWW2AK8zzbB3_FIRHE0vxHIDBKhCJIqyq0lyQ0WXK4WZGkkpVP9KxgPIyQzYxujY/s1600-h/lapidando.JPG"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 233px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhPmLpoDS_WC2dFxnumCCkzy7Z5Op8MUroEnba5SWMQXvWbm8bd8k7WYA_dwI_P2l_6ZG2auGXdhgiWW2AK8zzbB3_FIRHE0vxHIDBKhCJIqyq0lyQ0WXK4WZGkkpVP9KxgPIyQzYxujY/s320/lapidando.JPG" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5431054136443044674" border="0" /></a><br /><em><br /><br />Antes que você comece a ler este texto, nosso convite é:<br />que tal a "anormalidade"? - Turma Doce Limão<br /></em> <p style="text-align: justify;">Por Prof. Hermógenes *</p> <p style="text-align: justify;">O mundo “normal” nos atrai. Enquanto atrai, nos distrai.</p> <p style="text-align: justify;">E porque nos distrai, nos trai. Se nos deixamos trair, ele nos destrói.</p> <p style="text-align: justify;"><strong>É hora de despertar!</strong></p> <p style="text-align: justify;">Sinceramente: ”Deus me livre de ser normal”.</p> <p>Desde que comecei a caminhar no Yoga venho conseguindo manter uma bendita e invejável “anormalidade”. Eu já fui “normal” e não tenho saudades.</p> <p style="text-align: justify;">Venho estendendo meu convite a todos para que comecem a sua “desnormalização”. E, este meu convite é uma expressão de amor ao <em>homo sapiens</em>, à minha espécie.</p> <p style="text-align: justify;">Será absurdo clamar aos homens e mulheres desta sacrificada, caótica, amoral, violenta, injusta, vazia, entediada, poluída, cruel, amalucada e decadente sociedade em que vivemos que tomem consciência, e não mais continuem a submeter-se inconscientemente a esta lógica, obsedante e patológica “normalidade”?</p> <p style="text-align: justify;">Será estranho o meu clamor aos acomodados ou rendidos que se rebelem e se libertem?</p> <p style="text-align: justify;">Será mesmo descabido a proposta de uma terapia que pretenda curar esta doença que vem sendo chamada “normalidade”, "normose"?</p> <p style="text-align: justify;">O homem “normal” é um doente!</p> <p style="text-align: justify;">Quando se diz “em terra de cego quem tem um olho é rei”, está se dizendo que a cegueira é o “normal”. Nesse caso, o “anormal”, aquele que vê, é bastante melhor, tanto que pode ser o “rei”.</p> <p style="text-align: justify;">Há décadas, o Papa Paulo VI diagnosticou a sociedade de seu tempo, dizendo: “O mundo está doente”. Você contesta? Ou constata?</p> <p style="text-align: justify;">Considerando somente as aparências, isto é, aquilo que a mídia (imprensa, rádio e TV) fez aparecer, o mundo parece estar em acelerada degradação, parecendo um filme de terror, escorregando para a tragédia. Visando vender para os “normóticos”, para a massa ignorante <em>(que ignora e faz tudo para seguir ignorando)</em>, desprovida de discernimento – e, sem dúvida, padecendo de acentuado distúrbio sadomasoquista, que se deleita no consumo de notícias mórbidas, de sujeira, crueldade e pavor -, os grandes veículos se aprimoram em acentuar as tintas negras, os sintomas alarmantes, ao dar publicidade predominante ao lado enfermiço da humanidade.</p> <p style="text-align: justify;">E não é somente a imprensa que vende tais aspectos e componentes trágicos, doentes e poluídos da sociedade humana; a sub-arte também. Cinema, fitas de vídeo, novelas, casas de espetáculo exageram os aspectos chocantes, aberrantes, teratológicos (estudo das monstruosidades), mórbidos, poluentes e sórdidos das vidas de homens e mulheres.</p> <p style="text-align: justify;"><em>E os alimentos? A propaganda infantil é a mais cruel de todas, porque já incentiva ao consumo de alimentos que danifica seus corpos, cérebros e mentes.</em></p> <p style="text-align: justify;">Os teóricos argumentam que isto é a realidade e é assim que deve ser mostrada. O que é assim não é a realidade, mas apenas um setor da sociedade, aquele que alguns irresponsavelmente acham de vitrinizar. Alguma parte da sociedade é de gente boa, equilibrada, sadia, espiritualmente nobre e bonita (<em>"anormais"</em>), mas alguns obsessivamente fazem questão de ignorar. </p> <p style="text-align: justify;">Quantas pessoas e instituições sociais, mantendo-se com enormes sacrifícios, se devotam à prestação de generoso serviço, a distribuir caridade, a cultivar espiritualidade, a manifestar amor, a anunciar a luz, a propor a paz…?</p> <p style="text-align: justify;"><strong>Um diagnóstico correto não pode ser parcial.</strong></p> <p style="text-align: justify;">Tudo que existe é assim com seus dois pólos. No entanto, enquanto os abutres só conseguem se interessar pela carniça, as abelhas são atraídas somente pela beleza, doçura e fragrância das flores. Aos que não vêem a não ser o lado mórbido das coisas, um convite: dialoguem com as abelhas. A sociedade está doente pela hipertrofia de seu lado abutre com simultânea atrofia de seu lado abelha <em>(assim já falava Sócrates)</em>. Há treva e luz, e não somente treva. Há ódio. Por que não o amor? Há violência, mas também há caridade Há corrupção, mas honestidade não falta.</p> <p style="text-align: justify;"><strong>Por que somente o diagnóstico negro?</strong></p> <p style="text-align: justify;">A maioria imensa da humanidade é formada pelos “normóticos”, que desfrutam o tempo e o espaço cultural, e aí está a doença. </p> <p style="text-align: justify;">A minoria dos curados de uma enfermidade chamada “normose” não pode continuar sendo esquecida. É verdade que a humanidade está enferma, e está exatamente pelo predomínio e pela ação dos medíocres e ignorantes que a integram (<em>porque assim decidiram, "normoticamente")</em>.</p> <p style="text-align: justify;">É inadiável curar a “normose” da humanidade. E isto deve começar pela “desnormalização” de cada pessoa, <strong>o que requer, indispensavelmente, empenho e esforço pessoal depois de feita a opção por uma disciplina inteligente, por uma vigilância contínua e por jubiloso auto-sacrifício do ego no altar do Divino</strong>.</p> <p style="text-align: justify;">De minhas observações durante tanto tempo, fiz levantamentos dos sintomas que, com maior freqüência, os “normóticos” apresentam. A lista não é completa e nem um “normótico” qualquer tem de ter todos estes sintomas. Não pretendo que este inventário seja perfeito. Quando alguém conseguir inventar um “normômetro” (aparelho capaz de medir a “normalidade” de uma pessoa), prestará um serviço inapreciável à Medicina Holística, para diagnosticar a “normose”.</p> <p style="text-align: justify;">Os “normóticos” têm reduzidas a juventude e a vida. As doenças degenerativas apressam a se manifestar antes do tempo. E ainda é motivado por distresse. Desprovido de um motivo, elevado, sublime e nobre para viver, desde que seus objetivos são mesquinhos e imediatistas, o “normótico” desconhece o que seja equanimidade, sobriedade, serenidade e paz. São fáceis vitimas dos opostos-de-existência. <em>(Bi-Polares) </em>Oscilam, indefesos e inconscientes, como folhas ao vento, sem repouso e sem destino. Numa hora, festejam ruidosa e às vezes alcoolicamente uma fugaz vitória ou uma aquisição furtiva. Noutra, se deprimem e lamentam, quando alcançados por um imposto despojamento de algo que não resistiria ao tempo. A “normalidade” dominante ensinou o “normótico” a lutar até exaurir-se e a usar todos os meios (até, quando preciso, os sujos) na convicção pouco inteligente de “ganhar ou… ganhar". Eles repelem a abnegação, a renúncia, a aceitação (<em>adulta, madura</em>) do inevitável<em> (da realidade)</em>.</p> <p style="text-align: justify;">Desconhecendo o por que e para que viver, o “normótico”, é uma carta depositada no correio, na qual falta indicação do destinatário e do remetente. É uma carta que foi escrita inutilmente. Seu destino só pode ser a posta-restante.</p> <p style="text-align: justify;">Vivendo na superfície de si mesmo, o “normótico” age sob motivações que, em alguns casos, são bem tipicamente animais: comer <em>(qualquer coisa goela abaixo)</em>, beber, defender-se, gozar e transar. <strong>Não</strong> cultiva <em>(portanto não colhe)</em> valores tipicamente humanos: verdade (ou veracidade); retidão; paz; amor (universal e puro); e não-violência. Sai Baba disse que a constatação “eu sou um ser humano” é apenas a metade da verdade. A outra metade é poder dizer:<em> “eu sou anormal”</em>.</p> <p style="text-align: justify;">O “normótico” é um consumista obsessivo. Compra o que "precisa", o inútil. O que ele não pode é resistir às manobras da publicidade e do marketing. Ele sofre da síndrome de “aquisitite”. Para seguir comprando, comprando, gasta e se desgasta ansiosamente, obsessivamente.</p> <p style="text-align: justify;">Com a palavra “mesmismo” Erich Fromm denominou o fenômeno de cada um precisar se parecer com o outro. O “normótico” calça os mesmos tênis, veste as mesmas calças, bebe os mesmos refrigerantes, fuma as mesmas marcas, se fanatiza pelos mesmos ídolos populares, curte as mesmas músicas, demonstra, com isto, que sua segurança está em “<em>ser normal</em>”; falta-lhe a salvadora coragem de ser <em>"anormal"</em>. Quanto mais “normótico”, mais submisso aos modelos da <em>normalidade e imediatismo</em>. Esta tendência a entregar-se indefeso e inconsciente à robotização orquestrada pela propaganda massifica-o, esvazia-o. E é ainda pior quando se fanatiza por movimentos, líderes, seitas etc.</p> <p style="text-align: justify;">Porque nem imagina quanto o amor e a felicidade nos completam, o “normótico” confunde os simples desvarios sexuais <em>(mero atrito, zero afeto e amor)</em> com ser feliz. E o sentimento de posse do outro e o ciúme, que são apego-dependência, ele confunde com amor.</p> <p style="text-align: justify;">Na ânsia por uma mal-entendida liberdade, certos “normóticos” neuróticos confundem o ser feliz com o ser devasso, “assumido”, “liberado”, e se sentem à vontade em “curtir um barato”, embora depois recaiam trágicas conseqüências sobre ele: escravidão ao traficante (marcas), AIDS, demência. Ao que não sabe o que é a verdadeira liberdade, eu lembraria que é a capacidade de não fazer aquilo que não se quer ou que se precisa não fazer <em>(o coração decidiu)</em>. Não é o fazer aquilo que se deseja fazer. Muitos jovens, confundindo a liberdade com outra coisa, às vezes rompem com violência seus vínculos com o lar, e se entregam a uma aventura, que, a principio, pode até ser uma aventura, mas inevitavelmente acaba em desventura.</p> <p style="text-align: justify;">Há uma forma “normóide” de exercer poder político, econômico e social, na qual o “normótico” sempre tira proveito pessoal, indiferente à dor, à miséria, à injustiça que impõe às multidões de infelizes. Calígulas e Neros de gravata, os “normóticos” poderosos são pragas a fazer muitas vítimas.</p> <p style="text-align: justify;">Toda a minha literatura tem sido voltada para alertar os “normóticos”, convidando-os para dar uma guinada no rumo da verdadeira paz, do amor bem-aventurado, no rumo da sabedoria que liberta, da saúde, da alegria pura, <em>da "anormalidade"</em>, finalmente da vida abundante.<br /><br />* <strong>Dr. José Hermógenes</strong> de Andrade Filho (Natal/RN, 9 de março de 1921), é escritor, professor e divulgador brasileiro de hatha yoga. Doutorado em Yogaterapia pelo World Development Parliament da Índia e Dr. Honoris Causa pela Open University for Complementary Medicine. Recebeu a Medalha de Integração Nacional de Ciências da Saúde e o Diploma d’Onore no IX Congresso Internacional de Parapsicologia, Psicotrónica e Psiquiatria (Milão, 1977). Eleito o Cidadão da Paz do Rio de Janeiro, em 1988, e a Medalha Tiradentes em 2000. A premiação foi conferida pela Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, pelo bem-estar e benefícios à saúde que suas obras levam para os brasileiros. É fundador da Academia Hermógenes de Yoga.</p><p style="text-align: justify;"><span style="font-weight: bold;">FONTE: </span></p>http://www.docelimao.com.br/site/terapia-do-riso/o-conceito/873-uma-doenca-chamada-normose.htmlChristiane Foricnitohttp://www.blogger.com/profile/15701277770166618026noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-82337747968232777.post-53970486739398193462010-01-20T08:35:00.000-08:002010-01-20T08:37:27.892-08:00“...a cama, onde cresce a solidão das mulheres livres...”<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQgqVJqvUHlnKRWxhHn_ycpL5wUsg0TzqJTmdwElIOfjxA2RBT2UjTRvm5WfeCNH57rIuTort0M44zf_z2k1bKRl2IT-b07mHWArphpbp6CP6YwJQORwe3Kua6aHrsj3g_PE_DMF4p27ac/s1600-h/espelho.bmp"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5330259501252243698" style="margin: 0px auto 10px; display: block; width: 274px; height: 320px; text-align: center;" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQgqVJqvUHlnKRWxhHn_ycpL5wUsg0TzqJTmdwElIOfjxA2RBT2UjTRvm5WfeCNH57rIuTort0M44zf_z2k1bKRl2IT-b07mHWArphpbp6CP6YwJQORwe3Kua6aHrsj3g_PE_DMF4p27ac/s320/espelho.bmp" border="0" /></a><br />FONTE: <a href="http://edsongil.wordpress.com/2009/04/29/a-cama-onde-cresce-a-solidao-das-mulheres-livres/">http://edsongil.wordpress.com/2009/04/29/a-cama-onde-cresce-a-solidao-das-mulheres-livres/</a><br /><br /><br /><br /><strong>"Debaixo dos cobertores"</strong><br /><br /><br />por LUIZ FELIPE PONDÉ<br /><br />SE VOCÊ for convidar uma colega de trabalho para sair, melhor pedir a seu advogado para ligar para o advogado dela, pois “desejo é poder”. Nos EUA, órgãos especializados em assédio sexual em universidades são tão comuns quanto baratas em casas sujas. Políticas públicas podem causar efeitos colaterais nefastos. E as coisas só pioram com a epidemia de políticas públicas, marca de uma democracia cada vez mais maníaca por regular a respiração de seus súditos.<br /><br />Há uma relação invisível entre os mecanismos modernos de controle e a paranoia. Paranoicos detestam a liberdade porque ela é incontrolável e promíscua.<br /><br />Desde o utilitarista Jeremy Bentham (século 18) e seu panóptico (máquina para vigiar prisioneiros), os governos sonham com o controle “benéfico” do comportamento moral da coisa pública (res publica) via mecanismos de vigilância contínua.<br /><br />Dizia o sociólogo Robert Nisbet (século 20): é uma ilusão supor uma vocação evidente da república para a liberdade. Quanto mais moral ela for, mais totalitária ela será. Ainda Nisbet: os especialistas, com suas visões sectárias e pouco isentas, são agentes de destruição da liberdade quando se fazem oráculos. Nas ciências humanas, temperamentos e ressentimentos determinam a escolha de objetos e teorias.<br /><br />Respiramos a “politização do amor”. Grande parte dos oráculos das políticas do amor é gay ou feminista. Os gays têm pouco interesse (por razões óbvias) nos efeitos colaterais de sua “ciência” do amor sobre o cotidiano miúdo dos homens que amam mulheres. Quanto as feministas, quando não são também homossexuais, se mostram, muitas vezes, rancorosas e repetitivas: do que trata “Hamlet”? Opressão da mulher. E a Bíblia? Idem. E adivinhe qual a questão no Pato Donald?<br /><br />O argumento (feministas são rancorosas), nada científico, é usado pelas próprias mulheres cansadas das feministas neandertais que ignoram as agonias das mulheres já livres.<br /><br />Já nos anos 70, feministas como as do grupo de Taipe afirmavam que apenas lésbicas seriam de fato mulheres emancipadas, porque as heterossexuais seriam oprimidas pelo desejo que sentem pelo macho.Para elas, o amor heterossexual flertaria com o “inimigo”. Eu, ao contrário, penso que este tema deveria ser tratado justamente por quem “ama o inimigo”.O impacto no cotidiano deste “antiamor” se dá via arte, leis, educação, enfim, os oráculos de Nisbet.<br /><br />O resumo da ópera é o seguinte: a mulher ganhou dinheiro e com isso deu um pé no mau marido, que existem aos montes porque a regra geral é a insatisfação. As feministas acertam quando dizem que o homem teme a mulher (não por conta dessa bobagem de “inveja do útero”, ele tem mais é “medo da dor do útero”), mas sim pelo medo do fracasso sexual diante dela. As neandertais tratam dessa ferida com ácido.<br /><br />Mas a vida real vem à tona, quando sai de cena a militância e entra em cena a cama onde cresce a solidão das mulheres livres.Não se trata de dizer que as mulheres “devam voltar para o tanque” -isso é idiota-, mas sim que as feministas neandertais só atrapalham quando levam a política para debaixo dos cobertores. Fiquem nas delegacias e sindicatos, lugares onde a vida é pobre e bruta.<br /><br />Dizem as mulheres: queremos homens sensíveis, mas nem tanto, queremos ter sucesso profissional, mas jamais sustentar homens sem sucesso profissional (dividir contas sempre já seria sinal suficiente de pouco sucesso por parte do parceiro), queremos ser livres, mas não homens bananas.<br /><br />Mulheres não suportam homens tristes. Seria, afinal, o sucesso profissional dos machos um critério definitivo do desejo das fêmeas por eles? Quando o homem deve começar a dizer “não” a suas mulheres livres?A noite vazia é o paraíso dos homens e mulheres livres. Nela, eles respiram a banalidade das conquistas repetidas. Uma infinidade de seduções insignificantes.<br /><br />O acúmulo das experiências múltiplas gera uma consciência afetiva cínica. Assola-me o sentimento profético de que quanto mais experimento, menos sou capaz de experimentar. Na juventude a solidão é opção, com o tempo não passa de falta de opção. Ao mesmo tempo em que as rugas nascem o corpo cansa e a alma desespera.<br /><br />As políticas do amor são um dos modos mais sofisticados de barbárie “científica”. Haveria uma relação invisível, como um fantasma obsessivo, entre ódio e políticas do amor?<br /><br /><br /><br />Fonte do artigo : <a href="http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2704200917.htm">http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2704200917.htm</a>Christiane Foricnitohttp://www.blogger.com/profile/15701277770166618026noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-82337747968232777.post-23072712129275868542010-01-19T04:53:00.001-08:002010-01-19T04:53:51.291-08:00A concepção de homem, a educação e sociedade: Uma reflexão.<div style="text-align: justify;">Por Christiane Forcinito<br /><br />O homem é a medida de todas as coisas ou todas as coisas medem, sujeitam o homem? Foi exatamente pensando no que escrever, que essa questão nos veio à cabeça. Faremos uma reflexão, não muito profunda, porém com base no que estudamos na disciplina de antropologia filosófica, pontuaremos a concepção do homem nestas duas dimensões durante a história e o que isso suscitou filosoficamente sobre ele.<br /><br />Educação (o homem que se educa e educa outro) e sociedade (o homem ser social que fala e se comunica) andam de mãos dadas e é difícil distinguir quem influencia quem. O homem, no entanto, é visto de maneiras diferentes nessas duas dimensões desde a Grécia antiga, com os filósofos clássicos, até o renascimento, com Maquiavel.<br /><br />Atenas vivia num momento de transição entre uma educação voltada para a guerra e uma Atenas construindo uma democracia. Diante deste panorama encontramos dois processos educativos, um seguindo o modelo do guerreiro e outro despontando do cidadão que participa do “àgora”. Aqui teremos o guerreiro transformado, ou seja, o modelo, a compreensão, a concepção de homem começa a mudar. Protágoras e Sócrates vivem neste contexto novo, porém ambos pensam na educação de maneiras diferentes.<br /><br />Protágoras (Sofistas) não se preocupam com o conhecimento e querem moldar todas as pessoas num mesmo plano; demonstram um relativismo “criativo”, onde o conhecimento não é contemplado, pois não há compromisso com o saber e, sim, com a arte de falar (vencer pelo argumento).<br /><br />Sócrates por sua vez, preocupa-se com o conhecimento e com o que possibilita a ação, ou seja, o saber e fazer prático, coerente.<br /><br />Aristóteles vem em seguida com a palavra chave “felicidade”, isto é, a vocação do homem é ser feliz, porém, esta felicidade se encontra na sociedade. É a “identidade” tendo um senso de pertencimento, ou seja, o ideal da felicidade está ligado ao homem como “espécie” ligada ao todo. A felicidade pode até passar pela individualidade, mas o foco é o todo. A referência é a sociedade e a educação volta-se para a formação deste homem administrada pelo Estado (todo).<br /><br />Ainda em Atenas o assegurar a felicidade é presente na concepção deste homem. Cosmopolita, Atenas supera a visão de “localizada” e passa também por um momento de transição onde o pensamento grego possui influência romana, ou seja, uma fragmentação em termo de conhecimento. Os estóicos surgem neste contexto focando o homem moral e ético com ação do pensar para a prática. O homem tem como objetivo firmar virtudes e assegurar a felicidade, pois uma vez conquistada a virtude ele é feliz e não se deixa levar pelas “paixões”, ou seja, livre de qualquer perturbação, tranqüilidade de alma e independência interior. Para os estóicos há a concepção de um homem universal que, segundo eles, é uma questão natural.<br /><br />O homem medieval é o motor do conhecimento, isto é, ele é aquele que conhece, busca informação procurando saber e sendo influenciado. Ele é o centro e todo o seu caminho é determinante porque é necessário “algo mais”. Ele é o que olha para o alto. O caminho filosófico não é suficiente para chegar a Deus, pois para Santo Agostinho o Espírito se revela ao homem. A virtude da caridade mantém o homem numa “reta” ordem, ou seja, esta prática é fundamental e há uma relação de reciprocidade, pois com Deus mantenho uma relação sem anulação.<br /><br />Santo Tomás é mais racional. O homem precisa aprimorar sua maneira de ver as coisas, pois tudo está Nele! Se o raciocínio do homem o faz afastar-se da verdade é sinal que algo está errado com a razão, pois há uma referência a alcançar.<br /><br />No renascimento há uma ruptura, pois o homem não viabiliza a elevação individual, ou seja, a concepção de homem mudou-se completamente. Aqui ele é mau por natureza e sua moral é relativa e pragmática, sua ação visa o fim sem pensar nos meios, ou seja, é uma questão prática de resultado. Se antes existia uma moral normativa aqui acontece o contrário, pois o homem do renascimento deve separar a moral particular da moral pública/ política. A educação é voltada a esse fim e há toda uma conjectura social também.<br /><br />E hoje? Embora possam perceber que 95% dos pensamentos hodiernos formulados pela nossa sociedade e pelos intelectuais são frutos de pensamentos de outrora, problemas que já foram tratados em diferentes épocas voltam a ser tratados em nossa sociedade atual, mostrando que esses conteúdos possuem excelência muito humana para ser entendido pelo ser humano. Ainda assim a concepção do homem sempre anda lado a lado com a educação (como meio e meta) e a sociedade apontando um homem idealizado.</div>Christiane Foricnitohttp://www.blogger.com/profile/15701277770166618026noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-82337747968232777.post-77171659645786371602010-01-19T04:50:00.000-08:002010-01-19T04:52:50.529-08:00Baruch Spinoza<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcoDiH4lQ2b1_jomoqELBXd-vkrFj191WvjYM2CC7lBweK2_T-LYrX2OjBdsAgUjoOYRaQGH98Cj0YMNuMB4_sbQ_tm_BijYl-w6bjRTbj5rHPzCtWEQY73KZTApc9Ckyu1mYl2d56Fsg/s1600-h/Spinoza.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 252px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcoDiH4lQ2b1_jomoqELBXd-vkrFj191WvjYM2CC7lBweK2_T-LYrX2OjBdsAgUjoOYRaQGH98Cj0YMNuMB4_sbQ_tm_BijYl-w6bjRTbj5rHPzCtWEQY73KZTApc9Ckyu1mYl2d56Fsg/s320/Spinoza.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5428433060677324882" border="0" /></a><br /><div align="justify"><br /><br /><br />Por Christiane Forcinito<br /><br />Baruch Spinoza foi um pensador racionalista, que fez referência ao pensamento de Descartes e que no seu rigor lógico se utilizou do que ele chamava de método geométrico. Este método dedutivo consistia em regras fixas para se chegar ao conhecimento seguro.<br /></div><div align="justify">Escreveu sobre política, Deus, ética e conhecimento. Vamos nos ater na sua obra “Tratado sobre a Emenda do Intelecto” para elaborarmos este trabalho, visto que o trecho a ser analisado faz parte deste.<br /></div><div align="justify">Neste tratado ele propõe esclarecer algo que não está muito claro, ou seja, corrigir o conhecimento. Aqui, Spinoza diz que existem os bens comuns e o verdadeiro bem, porém, quais os buscam? São eles conciliáveis? Em que consistem?<br /></div><div align="justify">Três aspectos devem ainda ser colocados em destaque, pois são fundamentais para se compreender o pensamento de Spinoza, estes são: a “busca pela liberdade absoluta do pensamento” que nos livra da ignorância que para ele era a causa do mal; a busca pela felicidade permanente e a “hesitação”.<br /></div><div align="justify">O trecho a ser analisado é: “... decidi enfim inquirir se existia algo que fosse o bem verdadeiro e capaz de comunicar-se, e somente pelo quais todos os demais rejeitados, o ânimo fosse afetado; mais ainda, se existisse algo que descoberto e adquirido, me fizesse fruir pela eternidade a contínua e suma alegria.”.<br /></div><div align="justify">A seguir comentarei o trecho acima destacando a oposição entre os bens comuns e o verdadeiro bem, em que consiste esse último, e porque pode ser eterno.<br /><br />COMENTÁRIO SOBRE O TRECHO DA OBRA “TRATADO DA EMENDA DO INTELECTO”<br /></div><div align="justify">Spinoza decide pesquisar, isto é, ele tomou uma decisão, porém não de maneira brusca, ele “hesitou” antes. Ele sabe que o verdadeiro bem existe, ele hesita porque não sabe o que é o bem e se este vale a pena. Ele quer buscar, porém não tem praticidade, ou seja, aceita, mas não sabe como buscá-lo, pois ele não é movido pela atração do que lhe falta, o objetivo da busca é a felicidade permanente.<br /></div><div align="justify">Primeiramente ele hesita se busca os bens comuns ou o bem verdadeiro para conseguir a felicidade permanente. Diante disso ele verifica que os bens comuns distraem a mente, pois uma de suas características é a certeza no presente e a incerteza no futuro. E quais seriam estes bens comuns?<br /></div><div align="justify">Os bens comuns são os prazeres, a riqueza e a honra. Busca-se porque dão felicidade, porém estes três trazem a distração da mente e a impede de achar o verdadeiro bem.<br /></div><div align="justify">O prazer tem relação com o corpo. Quando este se satisfaz, ele e a mente descansam, pois a mente se sente bem no prazer. O indivíduo, após a sensação de prazer, depois do relaxamento, sente uma perturbação diante da pequena duração deste, que resulta na estupidez de se querer mais, ou seja, o prazer não é um bem contínuo.<br /></div><div align="justify">A riqueza tem relação com as coisas e por outro lado é contínua, mas não é estável. A mente se distrai porque está em contínuo movimento, isto é, você quer sempre mais e pensa somente nisso. Ainda há o problema da riqueza de uma hora para outra acabar e como sendo um “fim” resulta na infelicidade.<br /></div><div align="justify">As honras possuem relação com a mente e não são bens estáveis. Quando se possui as honras quer-se mantê-las sempre, assim como a riqueza. As honras nos fazem ficar escravos da opinião alheia, da comparação com os outros e isso resulta na inquietude e distração.<br /></div><div align="justify">Os bens comuns são incertos, distraem a mente e em um momento ou outro virá à infelicidade (males certos) ou como ele descreve no texto “todos os demais rejeitados”. Esta só é igual no “desejo da felicidade”.<br /></div><div align="justify">O verdadeiro bem pode ser incerto no presente, mas não é um mal. Este bem é contínuo, supremo e estável. Spinoza é racionalista e por isso primeiramente vê o “Fim” e depois traça os meios. O “Fim” é a busca do Bem (o que deve ser ou ele não buscaria), este que ele pensa, pois só o fato de pensar nele já é o bem e o faz buscá-lo.<br /></div><div align="justify">Este bem é geral, serve para todos e está longe da imaginação que ele define como ausente, nunca presente, e inatingível. O bem que se deseja é “certo sempre”, inicialmente pode parecer incerto (posso nem pensá-lo), mas a partir do momento que penso no futuro é certo e traz a felicidade estável.<br /></div><div align="justify">Spinoza ainda mostra que não é necessário renunciar aos bens comuns para buscar o bem verdadeiro, pois você usufruirá também dos bens comuns, porém com a certeza do que é o bem verdadeiro e não os deixando distrair a mente. Mudando a prioridade quebra-se a ilusão e a distração. Pelo pensamento exercendo a “liberdade”, faz-se um aperfeiçoamento individual, universal, buscando a perfeição.<br /></div><div align="justify">O verdadeiro bem é a união com a natureza e o seu conhecimento das leis do universo. É também a busca, é o desejo de uma felicidade. O Conhecimento é um acúmulo, é estável e contínuo, e justamente por isso ele pode ser eterno<br /><br />CONCLUSÃO<br /></div><div align="justify">Hoje em dia a luta entre os bens comuns e o bem verdadeiro é percebida em diversos segmentos. E por mais que se criem teorias em cima de teorias ou especulações enfim, toda a história do pensamento se volta à negação ou à afirmação e à necessidade de um “bem” maior, supremo e estável.<br /></div><div align="justify">Todos os seres humanos necessitam, assim como precisam do ar para respirar, de algo que dê sentido em suas vidas. Alguma coisa que dê conta de sua existência, que explique, conduza, apazigúe a sede de absoluto do homem.<br /></div><div align="justify">O que é incrível de se ver nos filósofos é justamente essa ânsia em querer abraçar a vida, explicar vários aspectos desta, enfim ser os olhos e o pensamento do mundo. Porém muitos, infelizmente, se perderam pelo caminho.....<br /></div><div align="justify">Spinoza de seu jeito encontrou. Não só o encontrou como viveu e o que fiquei admirada lendo a respeito dele foi sua ética com a teoria ligada à prática. Particularmente discordo de várias questões a respeito de sua filosofia panteísta e de seu determinismo, mas como escreveu Bertrand Russell (1957 p99): “Spinoza (1634-77) é o mais nobre e mais amável de todos os grandes filósofos. Intelectualmente, alguns outros o superaram, mas èticamente é supremo.”.<br /><br />REFERERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA PARA ESTE ARTIGO<br /><br />ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires, Filosofando. Introdução á Filosofia. 3 ed. São Paulo: Moderna, 2007.<br />_________________________________________________São Paulo: Moderna, 1987.<br />FRANCA, Padre Leonel, Noções de História da Filosofia. 20 ed. Rio de Janeiro: Agir, 1969.<br />MONDIN, Battista, Introdução à Filosofia. 16 ed. São Paulo: Paulus, 2006.<br />RUSSELL, Bertrand, História da Filosofia Ocidental. São Paulo: Nacional, 1957, VIII.<br />SCALA, André, Espinosa, São Paulo: Estação Liberdade, 2003. </div>Christiane Foricnitohttp://www.blogger.com/profile/15701277770166618026noreply@blogger.com32tag:blogger.com,1999:blog-82337747968232777.post-16003259208017221752010-01-19T04:49:00.001-08:002010-01-19T04:49:49.641-08:00A aparente contradição entre fé e razão sob a ótica de Pascal no mundo contemporâneo e a busca de identidade do homemPor Christiane Forcinito<br /><div style="text-align: justify;"><br />Refletindo nas mais variadas problemáticas que cercam o homem vou me ater na aparente contradição da fé versus a ciência (ou razão) sob o olhar de Pascal na busca da própria identidade deste. Esta questão que é discutida desde o século XIII até hoje suscita paradigmas, dúvidas, ou seja, norteia ações.<br /><br />Este tema tem os primórdios desde o século XIII, passando pelo iluminismo, entrando no século XIX (com o auge da ciência explicando toda a realidade) e chegando até os dias de hoje. Muitos filósofos tentaram de alguma forma separar ambas as esferas como uma espécie de busca pela autonomia e liberdade, porém como desejo mostrar aqui, é que a fé e a razão podem andar juntas sem nenhuma contradição, assim como escreveu o Papa João Paulo II na encíclica “Fides et ratio” de 1998, p 3 escreveu: “A fé e a razão constitui como que duas asas pelos qual o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade”.<br /><br />Os posicionamentos de Pascal pode até tumultuar o raciocínio e a busca de identidade do homem contemporâneo, pois ele traz questões ontológicas que obrigam o homem a agir de forma coerente e firme. Ele viveu numa época onde havia uma valorização da geometria e sua lógica, porém Pascal partiu para discutir questões mais existenciais. Hoje também podemos perceber que não vivemos em um mundo muito diferente na questão entre a lógica do mundo e as questões existenciais.<br /><br />Pascal, a meu ver, sabiamente afirmou que a lógica geométrica (de sua época) não cabe ao homem por ele ser um elemento diferenciado e “irregular” e que o estudo deste permite o princípio da não contradição. Hoje há essa mesma dinâmica, pois a ciência tenta e quer superar esta contradição quando na verdade a contradição é próprio elemento da existência humana e em nada abala a relação entre a fé e a ciência.<br /><br />Vivemos em um mundo onde impera a corrente chamada relativismo, a qual nega toda a verdade e a ética absoluta, ficando a critério de cada um seguir a “sua verdade”, isto é um subjetivismo onde o que interessa é o eu e suas ações que a priori “aparenta” liberdade e autonomia, nada mais é que uma ação pautada na ação da “maioria”.<br /><br />O filósofo naquela época já afirmava que o homem é feito para o divino, pois o homem possui uma insuficiência, isto é, ele é ontologicamente dependente do Criador. Esta insuficiência representa a idéia da natureza “decaída” pelo homem através do pecado original. Este (homem) rompeu com o primeiro plano do criador resultando na impotência deste dar conta de se conhecer se não tiver atento a uma voz superior, pois ele está desarmonizado, há uma disjunção que se manifesta em forma de contradição.<br /><br />Hoje não estamos muito diferentes. Todos querem ter um rumo e o homem aspira naturalmente à verdade, porém não compreende a lógica do sofrimento, tem medo do comprometimento seja ele político, profissional, pessoal, social, filosófico ou mesmo religioso. Hoje alguém procura uma religião por uma “necessidade psicológica”, ou partem logo para uma prática ateísta achando que um dia a ciência vai explicar tudo (materialismo promissório). Outros, porém, acredita que como não há evidencia de Deus ele pode existir ou não. Há os que afirmam que Deus não existe. Ainda há aqueles ceticamente suspendem seus juízos. E por último podemos distinguir ainda aqueles que acreditam que Deus é tudo e desabam num panteísmo sem fronteiras, não se comprometendo com nada e com tudo, isto é, jogando de tudo (que não conseguem explicar) um pouco dentro do balaio e verificando o que lhe cabem ou o que é “melhor”.<br /><br />Logicamente esta visão que diz a fé ser contraditória à razão já vem de um histórico mal compreendido, isto é, quando não se estudam a fundo a questão de Deus, quando não conseguem compreender a lógica do sofrimento ser ou não compatível com a infinita bondade de Deus resultam em um preconceito achando que Deus tira a liberdade do homem (quando na verdade os liberta) interpretando fatos históricos erroneamente.<br /><br />Outra grande questão que também é associada a essa aparente contradição consiste em confundirem fé com crendice. São coisas totalmente diferentes, isto é, a fé é a investigação movida pela inteligência e a crendice é apenas um senso religioso inato no homem, mas desligado da razão. A ciência/razão não abala a fé. A razão quando bem conduzida leva à fé, pois a verdade não se limita a que a razão humana limitada alcança!<br /><br />Nietzsche, ferozmente e ressentidamente, dizia que a fé é não querer saber o que é a verdade. Kant, embora não pôs em dúvida o valor objetivo da fé, quando responde a pergunta o que é “Aufklärung” erroneamente diz que a menoridade em coisas da religião é danosa e humilhante, o que eu discordo, pois lendo este texto o interpreto de forma contrária dizendo que a menoridade é justamente quando nos comportamos iguais crianças querendo fazer tudo que queremos sem pensar ou medir conseqüências, fazendo birra, gritando e nos jogando ao chão.<br /><br />Outros filósofos também tentaram de alguma forma formular a questão da identidade do homem dissociando a fé da razão. Entre eles estão também Feuerbach afirmando que Deus foi inventado pelo homem devido ao medo e que este o leva ao fanatismo e ao erro; Marx, por sua vez é feroz quando diz que o homem gosta de se iludir e por isso Deus foi criado. Comte, com seu positivismo, separam ambas as esferas dizendo que o homem positivo ultrapassa o homem religioso que por sua vez este se encontra na “infância”.<br /><br />Pascal defende que o homem deve estar aberto a Deus e se atrelando a Este se torna preenchido, ou seja, esta “dependência” não é algo negativo, pois abre o homem à “graça”, ao sobrenatural e também representa a idéia de natureza (carne e espírito) se harmonizando como no princípio assim seria. O contrário implica na queda e isso sim é negativo, pois o homem no pecado (sem a “graça”) perdeu a capacidade de fazer o bem deixando a solta a sua inclinação a fazer apenas o mal.<br /><br />Atualmente, sem querer generalizar, percebe se que o “homem” se “coisificou” quando deixou de ser filho do criador para ser apenas mais uma espécie animal. Toda identidade está comprometida resultando num “descompromisso” engendrado no conceito que o próprio homem tem de si. Enquanto ele fica a procura de sua identidade no mundo, nas coisas e nas pessoas acaba se esquecendo que seu dia a dia tem valor redentor e santificante e que conhecendo a Deus para conhecer a si mesmo nasceu para amar e ser amado.<br /><br />Concluo este artigo com as palavras que próprio Pascal que assim escreveu:<br />“Os homens desprezam a religião; odeiam-na e temem que seja verdadeira. Para acalmá-los, é preciso começar mostrando que a religião não é contrária à razão; que é digna de veneração e respeito; em seguida, torna-la amável, fazer com que os bons desejem que seja verdadeira, digna de veneração, pois conhece exatamente o homem; amável porque promete o verdadeiro bem.” <a title="" style="" href="post-create.g?blogID=2861396353361715514#_ftn1" name="_ftnref1">[1]</a><br /><br />Bibliografia<br /><br />CASSIRER, E. Antropologia filosófica. 2 ed.São Paulo: Mestre Jou, 1977.<br /><br />FRANCA, Pe. Leonel. Noções de história da filosofia, 20 ed. Rio de Janeiro: Agir, 1969.<br /><br />JOÃO PAULO PP. II, Carta Encíclica. “Fides et ratio” aos Bispos da Igreja Católica sobre as relações entre fé e razão. 1998.09.14 [online] disponível na internet via www. URL: <a href="http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_15101998_fides-et-ratio_po.html">http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/encyclicals/documents/hf_jp-ii_enc_15101998_fides-et-ratio_po.html</a><br /><br />KANT. Immanuel. Resposta à pergunta: O que é esclarecimento (Aufklãrung). Königsberg, 1784.<br /><br />LIMA VAZ, Henrique C. Antropologia filosófica. 7 ed. São Paulo: Loyola, 2004. VI<br /><br />MONDIN, Battista. Introdução à Filosofia. 16 ed. São Paulo: Paulus, 2006.<br /><br />_______________. O homem, quem é ele? 12 ed. São Paulo: Paulus, 2005.<br /><br />_______________. Quem é Deus? Elementos de teologia filosófica. São Paulo: Paulus, 1997.<br /><br />NIETO, José Lino. A vontade de poder: Nietzsche, hoje. São Paulo: Quadrante, 2004.<br /><br />TRESE, Leo. A fé explicada. 7 ed. São Paulo: Quadrante, 1999.<br /><a title="" style="" href="post-create.g?blogID=2861396353361715514#_ftnref1" name="_ftn1">[1]</a> - PASCAL, Pensieri, br.187 apud MONDIN,Battista. Quem é Deus? p.48.</div>Christiane Foricnitohttp://www.blogger.com/profile/15701277770166618026noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-82337747968232777.post-23767518304271460202010-01-19T04:46:00.000-08:002010-01-19T04:48:43.252-08:00<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigQooqbtY9q6lIGx56fkXu9LKjmE5JrWqot2HUOpzZCsbGgSWedBGXFsVdu6saSMPuq_8V1nlbp920tjU8SBm4p2lMRYTdeXK0BdgovjGiAZswxjh_DvvS8xbzoccCQqy9qW0eQ3i3_s8/s1600-h/kant.gif"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 267px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigQooqbtY9q6lIGx56fkXu9LKjmE5JrWqot2HUOpzZCsbGgSWedBGXFsVdu6saSMPuq_8V1nlbp920tjU8SBm4p2lMRYTdeXK0BdgovjGiAZswxjh_DvvS8xbzoccCQqy9qW0eQ3i3_s8/s320/kant.gif" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5428431939098180114" border="0" /></a><br /><div style="text-align: justify;"><br /><br />Por Peter Kreeft<br /><br />Immanuel Kant (1724-1804) parecia ser uma pessoa cordial e pacata. Poucos daqueles que o conheceram talvez imaginassem que as suas teorias teriam um impacto destruidor sobre a filosofia e a mentalidade contemporâneas.<br /><br />Na história da filosofia, houve poucos pensadores tão ilegíveis e áridos como Immanuel Kant. Contudo, poucos tiveram um impacto tão devastador sobre o pensamento humano como ele.<br /><br />Conta-se que Lumppe, o seu dedicado assistente, teria lido fielmente cada uma das publicações do mestre. Mas nem mesmo ele conseguiu ler a obra mais importante publicada pelo filósofo, A crítica da razão pura; na verdade, chegou a começar a leitura, mas interrompeu-a dizendo que, se tivesse de terminá-la, haveria de ser num hospital psiquiátrico. Desde então, muitos estudantes têm-se feito eco dessa opinião.<br /><br />No entanto, penso que esse professor abstrato, que escrevia em estilo abstrato sobre questões abstratas, é a fonte primária da idéia mais perigosa de todas para a fé (e, portanto, para as almas): a idéia de que a verdade é subjetiva.<br /><br />Os simples cidadãos da sua Königsberg natal (atual Kaliningrado, Rússia), onde o filósofo viveu e escreveu durante a segunda metade do século XVIII, parecem ter entendido isso melhor do que muitos acadêmicos profissionais, porque lhe deram o apelido de "o destruidor" e davam o seu nome aos cachorros.<br /><br />Pessoalmente, Kant era um homem amável, gentil e piedoso, tão pontual que os vizinhos ajustavam os relógios pelos seus passeios. Também o intuito básico da sua filosofia era nobre: restaurar a dignidade humana num mundo cético que idolatrava a ciência.<br /><br />Essa intenção pode ser ilustrada com o seguinte episódio. Em certa ocasião, Kant assistiu à palestra de um astrônomo materialista sobre o lugar do homem no universo. Quando o cientista concluiu a palestra com as palavras: "Assim, vemos que o homem é evidentemente insignificante em termos astronômicos", o filósofo levantou-se e disse: "Professor, o senhor esqueceu o mais importante: o homem é o astrônomo".<br /><br />No entanto, mais do que qualquer outro pensador, foi ele quem impulsionou a deriva tipicamente moderna da objetividade para a subjetividade. Isso pode parecer bom até nos darmos conta de que implicava a redefinição da própria verdade como algo subjetivo. E as conseqüências dessa idéia têm sido catastróficas.<br /><br />Quando conversamos com alguém que não crê, percebemos que o obstáculo mais comum à fé hoje em dia não é nenhuma dificuldade intelectual honesta (como o problema do mal ou o dogma da Trindade), mas a convicção de que a religião não pertence ao campo dos fatos nem das verdades objetivas. Assim, qualquer tentativa de tentar convencer outra pessoa de que a fé é verdadeira - objetivamente verdadeira, verdadeira para todos - passa a ser considerada de uma arrogância intolerável.<br /><br />De acordo com essa mentalidade, a religião é teórica, não prática; tem a ver com valores, não com fatos; é subjetiva e privada, não objetiva e pública. O dogma seria um "extra", e um "extra" daninho, porque fomentaria o dogmatismo. Ou seja, a religião, no fundo, não passaria de uma ética. Além do mais, uma vez que a ética cristã é muito parecida com a ética das outras grandes religiões, pouco importaria se você é cristão ou não; o importante é ser "boa gente". (Geralmente, as pessoas que acreditam nisso também acham quase todo o mundo "boa gente", com exceção de Adolf Hitler e Charles Manson).<br /><br />Kant é em larga medida responsável por essa maneira de pensar. Ele ajudou a enterrar a síntese medieval entre fé e razão, e descreveu a sua filosofia como "tirar do caminho as pretensões da razão para abrir espaço à fé", como se fé e razão fossem inimigas, não aliadas. Assim, consumou o divórcio entre fé e razão iniciado por Lutero.<br /><br />O filósofo pensava que a religião jamais poderia ser objeto da razão - uma evidência, um argumento ou sequer um objeto de conhecimento -; deveria ser unicamente uma questão de sentimentos, de emoções e de atitudes. Esse postulado influenciou profundamente a maior parte dos educadores religiosos atuais (entre os quais redatores de catecismos e teólogos), que deixaram de lado a rocha-mãe da fé, os fatos objetivos narrados na Sagrada Escritura e resumidos no Credo dos Apóstolos. Fregueses da filosofia kantiana, divorciaram a fé da razão e casaram-na com a psicologia pop.<br /><br />"Duas coisas me deixam maravilhado", confessou Kant certa vez: "o céu estrelado acima de mim e a lei moral dentro de mim". Aquilo que maravilha um homem preenche o seu coração e dirige o seu pensamento. Reparemos que, entre as coisas que maravilham o filósofo, não estão Deus, Cristo, a Criação, a Encarnação, a Ressurreição e o Juízo, mas apenas "o céu estrelado acima de mim e a lei moral dentro de mim".<br /><br />"O céu estrelado" é o universo físico, tal como a ciência moderna o entende; e tudo o mais é relegado para o campo da subjetividade. Assim, a lei moral não estaria "fora", mas "dentro de mim"; não seria objetiva, mas subjetiva; enfim, não seria uma Lei Natural com certos e errados objetivos, mas uma lei feita por nós mesmos à qual escolhemos vincular-nos. (Mas será que estamos realmente vinculados quando só nos vinculamos a nós mesmos?) A Moral seria, portanto, apenas uma questão de intenção subjetiva; não teria qualquer conteúdo com exceção da Regra de Ouro* (o "imperativo categórico" de Kant).<br /><br />--------------------------------------------<br /><br />(*) A regra de ouro é considerada classicamente o princípio central de toda a ética. Na sua formulação negativa - "não farás aos outros aquilo que não queres que te façam" -, encontra-se em diversos pensadores de quase todos os povos. Cristo deu-lhe uma formulação positiva: Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles (Mt 7, 12) (N. do T.).<br /><br />Se a lei moral veio de Deus e não do homem, o homem não seria livre no sentido de ser autônomo, o que é verdade. Mas, para Kant, o homem tem de ser autônomo, e portanto a lei moral não vem de Deus, e sim do próprio homem. Partindo da mesma premissa, a Igreja afirma que a lei moral realmente vem de Deus, e portanto que o homem não é autônomo; ele é livre para optar por obedecer-lhe ou não, mas não é livre para criar a lei.<br /><br />Embora se considerasse cristão, o filósofo negou explicitamente que pudéssemos conhecer ao certo a existência (1) de Deus, (2) do livre arbítrio, e (3) da vida eterna. Disse que deveríamos viver como se essas idéias fossem verdadeiras, porque caso contrário não levaríamos a moral a sério. É essa justificação da fé por razões puramente práticas que constitui um erro terrível. Kant acredita em Deus não porque Ele exista, mas porque é útil. Se for assim, por que não acreditar no Papai Noel? Se eu fosse Deus, preferiria um ateu honesto a um deísta desonesto; e penso que Kant é um deísta desonesto, porque há apenas um único motivo honesto para acreditar seja no que for: o fato de essa coisa ser verdadeira.<br /><br />Aqueles que tentam vender a fé cristã no sentido kantiano, como um "sistema de valores" em vez da verdade, têm fracassado geração após geração. Com tantos "sistemas de valores" no mercado, por que deveria alguém preferir a variante cristã a outras mais simples, com menos teologia e com uma moral mais fácil e menos inconveniente?<br /><br />Com efeito, Kant fugiu da batalha ao bater em retirada do campo dos fatos. Acreditava no grande mito do século XVIII, o Iluminismo (nome irônico!). Acreditava que a ciência de Newton tinha vindo para ficar e que, para sobreviver, o cristianismo teria de encontrar um lugar na nova paisagem mental esboçada pela nova ciência. E o único lugar que lhe sobrava era a subjetividade.<br /><br />Isso implica ou ignorar os acontecimentos sobrenaturais e miraculosos da história do cristianismo ou interpretá-los como mitos. A estratégia de Kant foi essencialmente a mesma que seguiria Rudolf Bultmann (1884-1976), o pai da "demitologização" e talvez o principal responsável pela perda da fá entre inúmeros universitários católicos. Muitos professores de teologia perfilham as suas teorias exegéticas, que reduzem os milagres contidos na Bíblia, relatados por testemunhas oculares, a simples "mitos", "valores" e "interpretações piedosas".<br /><br />Com relação ao suposto conflito entre fé e razão, Bultmann disse: "A visão científica do mundo veio para ficar e fará valer os seus direitos contra qualquer teologia, por mais impositiva que seja, que venha a entrar em conflito com ela". Ironicamente, a "visão científica do mundo" oferecida pela física de Newton e aceita como absoluta e imutável por Kant e Bultmann é hoje quase universalmente rejeitada pelos próprios cientistas!<br /><br />A questão básica de Kant era: Como podemos conhecer a verdade? Na sua juventude, aceitava a resposta racionalista de que conhecemos a verdade pelo intelecto, não pelos sentidos, e de que o intelecto possuía as suas próprias "idéias inatas". Mais tarde, leu o empirista David Hume, que, em palavras do próprio Kant, o "despertou do sono dogmático". Como outros empiristas, Hume acreditava que o homem só pode conhecer a verdade mediante os sentidos e que não existem "idéias inatas". Mas as premissas de Hume conduziram-no ao ceticismo, à negação de que seja possível conhecer a verdade com certeza. Kant considerou inaceitáveis tanto o "dogmatismo" racionalista como o ceticismo empirista e procurou uma terceira via.<br /><br />Ora, havia uma terceira teoria disponível desde os tempos de Aristóteles: a filosofia do senso comum, que é o realismo. De acordo com o realismo, podemos conhecer a verdade por meio do intelecto e dos sentidos, desde que ambos trabalhem corretamente em conjunto, como as lâminas de uma tesoura. Em vez de voltar-se para o realismo tradicional, Kant inventou toda uma nova teoria do conhecimento, geralmente chamada idealismo. Considerava-a a sua "revolução copernicana na filosofia". Mas o nome mais simples para ela é subjetivismo, pois o que pretende é redefinir a própria verdade como subjetiva, não objetiva.<br /><br />Todos os filósofos anteriores tinham dado por assente que a verdade é objetiva. Aliás, de acordo com o senso comum, é simplesmente isso o que queremos dizer ao falar de "verdade": conhecer o que realmente é, conformando a mente segundo a realidade objetiva. Alguns filósofos (os racionalistas) julgavam ser capazes de atingir essa meta apenas com a razão. Os primeiros empiristas (como Locke) julgavam que podiam atingi-la através dos sentidos. O empirista cético Hume, posterior, julgava que não havia maneira alguma de atingir com certeza a verdade.<br /><br />Kant negou a premissa comum a essas três filosofias concorrentes, ou seja, negou que a verdade devesse ser atingida, que a verdade significasse conformidade com a realidade objetiva. A "revolução copernicana" de Kant redefine o próprio conceito de verdade como realidade que se conforma segundo as nossas idéias. "Até hoje, sustentava-se que o nosso conhecimento devia adequar-se aos objetos [...]. Haverá mais progresso se assumirmos a hipótese contrária, de que são os objetos de pensamento que devem adequar-se ao nosso conhecimento".<br /><br />Kant afirmou que todo o nosso conhecimento é subjetivo. Bem, essa afirmação é um conhecimento subjetivo? Se é, então o conhecimento desse fato também é subjetivo, et cetera, e todos estamos aprisionados num infinito salão de espelhos. A filosofia kantiana é perfeita para o inferno. É possível que os condenados creiam não estar realmente no inferno; seria apenas coisa da cabeça deles. E talvez seja isso mesmo: é possível que o inferno seja exatamente assim.<br /><br />Peter Kreeft<br />Professor de Filosofia no Boston College. É autor de mais de uma dezena de livros de filosofia e apologética cristã.<br /><br />Fonte: Site do autor<br />Link: http://www.peterkreeft.com<br /><br />Quem me fez a gentileza de enviar este excelente texto foi minha grande amiga Maitê Tosta.</div>Christiane Foricnitohttp://www.blogger.com/profile/15701277770166618026noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-82337747968232777.post-32036656429399538932010-01-19T04:43:00.000-08:002010-01-19T04:46:23.539-08:00Nikos Kazantzákis<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikExSK0MS8ItDXM8evWrCEb4xnwLPuYKqO6lQskzyf65Y9WxaQLt6DGcsQHlDIR6w_RKW9kAqiI-KLhmwdLFwqOlRx7l-2VyZBqXWc5t-65xnkhFibNbxCCX1JMEZ4zyYCumglIfEsTXQ/s1600-h/NIKOS+KAZANTZAKIS_071005_nikos.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 152px; height: 200px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEikExSK0MS8ItDXM8evWrCEb4xnwLPuYKqO6lQskzyf65Y9WxaQLt6DGcsQHlDIR6w_RKW9kAqiI-KLhmwdLFwqOlRx7l-2VyZBqXWc5t-65xnkhFibNbxCCX1JMEZ4zyYCumglIfEsTXQ/s320/NIKOS+KAZANTZAKIS_071005_nikos.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5428431151649007282" border="0" /></a><br /><div style="text-align: justify;"><br /><br />Como agora a noite estou com um cansaço extremo e muitas vezes o exercício do pensar me esgota de tal maneira que acredito que vou enlouquecer irei postar aqui um texto que estudei hoje e que muito me fez refletir ...<br /><br /><strong>A vida de Nikos ... </strong><br /><br />Nikos Kazantzákis nasceu na capital de Creta, Heráklion, em 1883 e ali foi sepultado em 1957. Na infância, pôde ele ainda assistir a lances heróicos da luta dos cretenses para libertar sua ilha da ocupação turca; a Grécia continental tinha proclamado sua independência havia mais de meio século. Remontam possivelmente aos dias de infância a obsessão de Kazantzákis com o problema da liberdade e o seu culto do herói. Esse culto foi mais tarde acoroçoado pela marcante influência que recebeu da filosofia de Henri Bergson: em As duas fontes da moral e da religião, Bergson aponta o místico e o herói como os principais propulsores do élan vital. <br /><br />Depois de completar os estudos preparatórios em Creta e Naxos, Kazantzákis cursou Direito em Atenas, por cuja universidade se diplomou em 1906. No ano seguinte, foi estudar filosofia em Paris; freqüentou os cursos da Sorbonne e acompanhou ciclos de palestras de Bergson no Colégio de França. De volta à Grécia, traduziu, de Bergson, O riso e publicou um longo ensaio sobre ele (1912). Na mesma época, traduziu também, de Nietzsche, A origem da tragédia e Assim falava Zaratustra. Anos depois, Kazantzákis se iria dedicar a uma modalidade mais difícil de tradução. Verteu para o demótico, além de A divina comédia de Dante e o Fausto de Goethe, a Ilíada e a Odisséia de Homero. Estas duas últimas, traduções “intralinguais", ou seja, no âmbito da mesma língua, se explicam pelas sensíveis diferenças que há entre o grego antigo e o grego moderno. Conquanto o demótico conserve o vocabulário essencial do ático, incorporou-lhe numerosos estrangeirismos e simplificou-lhe a estrutura gramatical. Para poder entender Homero ou Plutarco, os gregos de hoje têm de estudar o ático quase como se estudassem um idioma estrangeiro.<br /><br />Já antes de ocupar-se dessas traduções intralinguais, Kazantzákis se alistara na chamada causa “vulgarista", que reivindicava a adoção do demótico como idioma oficial da Grécia, em substituição ao katharevousa, uma língua purista artificialmente criada por eruditos com base no ático. De parceria com sua primeira esposa, Galathia, chegou a escrever livros em demótico para crianças, inclusive compêndios escolares. Em 1919, o governo Venizelos o encarregou de repatriar cerca de 150 mil gregos que viviam no Cáucaso, onde estavam sendo hostilizados pelos bolcheviques. Nessa tarefa, teve como assistente um certo Yióriys Zorbás, que lhe inspiraria o protagonista de Zorba, o grego. Embora não perfilhasse o ateísmo e o materialismo marxistas, Kazantzákis foi atraído pelos ideais comunistas da Revolução Russa de 1917 e incluiu Lenin no seu panteão de heróis, ao lado de Cristo, Buda e Odisseu.<br /><br />Seu engajamento na vida pública da Grécia teve um fim abrupto e melancólico. A rejeição da proposta demoticista pelo parlamento; a derrota do exército grego pelo exército turco em 1922, obrigando mais de um milhão de gregos a abandonar para sempre a Ásia Menor; e a queda do gabinete liberal de Venizelos, foram reveses que o desencantaram da política grega e o levaram, senão a exilar-se definitivamente de sua pátria, pelo menos a viver longe dela a maior parte do tempo.<br /><br />Antes disso, ele viajara extensamente pela própria Grécia em companhia do poeta Aggelos Sikelianos, fazendo retiros espirituais em mosteiros do Monte Atos e da ilha de Siphnos. Vivera também algum tempo em Viena, depois em Berlim e em Naumburg, aonde foi para visitar a casa em que Nietzsche tinha nascido. Pelos meados dos anos 20, como correspondente de um jornal ateniense, fez diversas viagens à Rússia. Em anos seguintes, percorreu a Palestina, a Espanha, a Itália e o Egito. Empreendeu igualmente uma viagem ao Extremo Oriente, onde conheceu o Japão e a China. Seu interesse pelas doutrinas religiosas e filosóficas do Oriente, em especial pelo budismo, o levou a escrever um drama sobre a vida de Buda, cujo texto refez mais de uma vez.<br />Impelido por esses interesses, ia conhecer de perto, nos vários países que percorria, locais onde houvessem vivido santos e místicos. Assim é que, no Egito, subiu ao mosteiro greco-ortodoxo do Monte Sinai; na Espanha, foi à Toledo de S. João da Cruz e à Ávila de Santa Teresa; na Itália, à Assis de S. Francisco, de quem escreveria uma biografia, O pobre de Deus. Parte das impressões de viagem de Kazantzákis estão coligidas em Do Monte Sinai à ilha de Vênus, em cujo prefácio, "Pantera, a minha companheira", assim como em vários outros textos do volume, há ecos do ideário de Ascese.<br /><br />Durante a Segunda Guerra e os anos da guerra civil que a ela se seguiu na Grécia, Kazantzákis ali viveu, compartilhando com seus compatriotas todas a.s agruras e privações. Seus últimos anos de vida, ele os passou em Antibes, na Riviera francesa, em companhia de sua segunda esposa, Helena. Em 1957, na viagem de retomo de uma segunda viagem à China e ao Japão, seu estado de saúde se complicou. Morreu aos 74 anos de idade numa clínica da Alemanha. Seu corpo foi transportado a Atenas, onde a Igreja Ortodoxa lhe recusou enterro cristão. Isso a pretexto de tratar-se de um inimigo da fé, por causa das idéias que expusera em Ascese; pouco antes, o governo grego havia feito pressões diplomáticas para impedir que, por indicação de Thomas Mann e Albert Schweitzer, lhe fosse conferido o prêmio Nobel. Todavia Creta acolheu os restos do seu maior escritor com honras de herói e eles hoje repousam em Heráklion sob uma lápide singela onde está gravado o seu auto-epitáfio: "Não temo nada. Não espero nada. Sou livre".<br /><br />III<br /><br />Esse epitáfio é o cerne do credo de Ascese os dois "nadas" enfáticos que nele aparecem traduzem bem o espírito niilista de tal credo. Um moderno dicionário de filosofia:<br /><br />1- aponta, como fundamentos do niilismo filosófico, as três negações de Górgias, sofista grego (c. 480 - c. 375 a. C.), cuja importância histórica pode ser aferida, quando mais não fosse, do só fato de o seu nome dar título a um dos mais conhecidos diálogos de Platão.<br /><br />Segundo Górgias,<br />1) nada existe;<br />2) mesmo que algo existisse, não poderia ser conhecido;<br />3) mesmo que pudesse ser conhecido, tal conhecimento não poderia ser comunicado.<br /><br />No budismo indiano, onde Kazantzákis foi reconhecidamente buscar boa parte dos princípios de seu credo, negações do mesmo tipo das de Górgias podem ser encontradas na escola Satyasiddhi, cujo niilismo - "Nem o eu nem os dharmas são reais" - se opõe frontalmente ao realismo da escola Abhidharmakosa, que sustentava que "Tudo existe"<br /><br />2. Como se pode ver pelo duplo "nem" da primeira frase aspeada, o niilismo satyasiddhiano era radical. Negava, de um lado, a realidade do "eu" cognoscente, a res cogitans que Descartes fez a pedra angular da sua epistemologia - "penso, logo existo". A epistemologia cartesiana não conseguiu chegar entretanto a uma demonstração logicamente convincente da realidade da res extensa, isto é, dos corpos ou substâncias físicas que existem independentemente do pensamento humano.<br /><br />Tampouco a estas, que chama de dharmas ou elementos de vida, confere existência real o niilismo da escola Satyasiddhi.<br /><br />Na abertura da primeira parte de Ascese, a visada niilista se confina ainda à teoria do conhecimento. Admite tão-só a existência da mente cognoscente, cujos limites enuncia. A essa mente só seria dado conhecer os fenômenos ou aparências do mundo, não a essência deles; tal conhecimento, por sua vez, se limitaria aos "fenômenos da matéria". Conhecê-los-ia não em si próprios mas nas suas relações uns com os outros, relações elaborados pela própria mente a fim de atender às necessidades humanas. A referência restritiva a "fenômenos da matéria" faz supor a eventualidade de outros que não o fossem (ainda que incognoscíveis), o que apontaria para um dualismo do tipo espírito/matéria.<br /><br />Pouco mais adiante, nessa primeira parte de Ascese, a visada niilista se radicaliza quando o elocutor incita o leitor a dizer a si próprio que não existe nada, matéria e mente são dois "fantasmas [...] inexistentes”.<br /><br />Tal radicalização leva diretamente à negatividade absoluta do budismo Satyasiddhi e do niilismo de Górgias. Cabe aqui um parêntese para lembrar que, não sendo Ascese um tratado filosófico em sentido estrito, mas um poema, e, como tal, uma obra de ficção, o "eu" que assume a elocução em primeira pessoa, ou seja, o elocutor, não deve ser identificado simetricamente com o autor do livro, ainda que lhe veicule as idéias: é uma instância literária, de estatuto equivalente ao de personagem de romance.<br /><br />Por falar em romance, é apropositado lembrar que o narrador de Zorba, o grego tampouco deve ser identificado com o Kazantzákis de carne e osso porque, com ser personagem do próprio romance, tem o mesmo estatuto ficcional dos demais personagens. Não obstante, os traços de parecença entre narrador e autor são óbvios: aquele é também um intelectual de convicções budistas para quem "tudo não passa de uma fantasmagoria do Nada"<br /><br />3. Mas as arestas mais radicais dessas convicções puramente teóricas vão ser aparadas pelo contacto com a rica experiência de vida de Alexis Zorba, que dela extrai uma rústica mas vigorosa sabedoria.<br /><br />Voltando a Ascese, a relação textual entre elocutor e leitor é a de mestre para discípulo: disso dá sinal o uso freqüente do imperativo, marca gramatical do modo de comando. Comando que se explicita, já em "A preparação", nos três deveres a cujo cumprimento o leitor-discípulo é concitado. Quanto ao caráter ficcional do texto, ele avulta, quando mais não fosse, no recurso constante à personificação e ao diálogo. Entidades abstratas como a mente e o coração ganham estatuto de personagens e, investidos de voz própria, discutem pontos de doutrina.<br /><br />Um desses pontos é a não-aceitação, pelo coração ou sexto sentido, dos limites que a mente lucidamente reconhece em suas capacidades cognitivas. Embora saiba ser impossível chegar à essência dos fenômenos, ao deslinde do mistério da vida e da morte, o coração quer sempre ultrapassar a mente, ir nietzschianamente "além do homem”.<br /><br />Move-o um impulso acima da razão, no que o pensamento de Ascese mostra também sua filiação ao irracionalismo nietzschiano.<br /><br />Mas o terceiro dever a que "A preparação" conclama o leitor-discípulo é o de superar tanto o cauto ceticismo da racionalidade quanto a esperançosa impulsividade da intuição ou sexto sentido para dizer a si próprio que, como nada existe, "não espero nada, não temo nada, libertei-me da mente e do coração, subi mais alto, sou livre."<br /><br />Essa ascensão por via da negação radical de tudo deveria logicamente levar a um sentimento da total inutilidade da ação. Entretanto, não é o que acontece: o restante de Ascese é um reiterado chamado à luta, ainda que se trate de uma luta sem esperança nem recompensa. Nisto, o pensamento de Kazantzákis não desmerece das suas raízes búdicas. Algumas dessas raízes mais remotas estão no Bhagavad-Gitá, que é um dos textos básicos da filosofia indiana e que tem na aporia do agir ou não-agir o eixo de sua argumentação. Argumentação desenvolvida não em termos de raciocínio lógico e sim de paradoxos de ordem místico-religiosa.<br /><br />Na iminência de guerrear os Kuravas seus primos, Arjuna, herói dos Pandavas, angustia-se com a perspectiva de derramar sangue de sua própria gente e pergunta-se se não é preferível ser morto a matar. Seu áuriga Krishna, reincarnação do deus Vishnu, trava então com ele um longo diálogo em tomo da ação e não-ação. Entre muitas outras coisas, diz-lhe que ninguém assassina nem é assassinado pois o Uno ou Aquilo [Brama], que tudo contém, não morre quando o corpo é assassinado, mas passa para um novo corpo, como se trocasse de roupa: "Aquele que compreende que Aquilo é perpétuo e indestrutível como poderá matar ou ser morto? [...] Não deves lamentar a morte de qualquer criatura pois o Morador do Corpo que pensas destruir é eterno". E incita-o a partir para a luta ou ação, sem se preocupar com os seus resultados, favoráveis ou desfavoráveis: "Ninguém pode deixar de agir, por um instante que seja, pois é próprio da Natureza compelir todos a agir. [...] executa desinteressadamente o teu dever"4. Mesmo porque não é o indivíduo quem age: ele é apenas o instrumento da pura ação, através da qual se manifesta o infindável sopro da criação.<br /><br />Sopro da criação, impulso vital: neste ponto, o vitalismo do pensamento oriental se entrecruza com o vitalismo bergsoniano para articular a exposição de "A marcha", o segundo capítulo de Ascese. Marcha no sentido de ascensão evolucionária desde a pedra, passando pelos vegetais, os peixes, as aves, as feras e os símios, até o homem e o além-homem. No intento confesso de "modelar o novo rosto contemporâneo de nosso Deus", Kazantzákis começa por reconhecer que as feições dadas por outras épocas e povos a essa "prodigiosa essência sem rosto" são máscaras datadas. Para afeiçoar-lhe uma máscara consentânea com o nosso tempo, ele só poderia encontrar materiais apropriados na teoria da evolução, horizonte de referência obrigatório das visões de mundo da contemporaneidade. Não no evolucionismo determinista e materialista do cientificismo do século XIX, mas na concepção espiritualista que Bergson formulou em A evolução criadora (1907). Os nexos entre as idéias-chave de "A marcha" e o vitalismo bergsoniano são por assim dizer imediatos.<br /><br />Para Bergson, o movimento evolutivo venceu a resistência da matéria bruta e criou as primeiras massas de protoplasma graças ao "formidável impulso interior que devia alçá-las até as formas superiores de vida"5; a esse impulso interior deu ele o nome de élan vital. Para o elocutor de Ascese, o impulso vital é um "terrível Grito primevo" que reboa dentro do coração humano e forceja por libertar-se, impelindo o homem a pôr-se em marcha. Diante deste, abrem-se dois caminhos, já assinalados no prólogo de Ascese: o ascendente, rumo à síntese e à vida; o descendente, rumo à dissolução. A escolha, pelo homem, do caminho ascendente é instintiva, “sem nenhuma razão"; dita-a o próprio impulso vital. Bergson também aponta, no movimento evolutivo, duas direções: a ascendente, que é característica da evolução animal e levou "à consciência cada vez mais ampla"; e a descendente, que buscou retardar a evolução animal, peando-a a cada passo com uma tendência regressiva rumo à vida vegetativa das plantas, caracterizadas por "consciência adormecida e insensibilidade"6.<br /><br />O itinerário de "A marcha" se cumpre em quatro degraus progressivos: o eu, a raça, a humanidade e a terra. Itinerário oposto, pois, ao da individuação, que no budismo é a causa primeira do sofrimento humano. Dele trata Buda no seu primeiro sermão, onde diz que a "fonte desse sofrimento é a idéia da existência de um 'eu' substancial"7, idéia da qual é mister libertar-nos pela Iluminação. Em Ascese, o eu é visto como a "ponte ligeira" que só existe para possibilitar a passagem de Alguém e que desaba dois da sua passagem. É desse Alguém o Grito que impele o indivíduo a pôr-se em marcha, sempre para cima. Embora reboe nas entranhas do eu, o Grito não nasce dele, mas provém dos seus antepassados e descendentes; do "grande corpo" de sua raça, cuja perenidade lhe cumpre garantir, levando avante a obra de seus maiores e transmitindo-a a seus pósteros. Mas o Grito tampouco nasce da raça: remonta à própria humanidade que se desgalhou um dia da animalidade graças à frágil chama da consciência que soube resguardar no interior do crânio. E não é só a humanidade que nos grita no coração; é "a Terra inteira, com suas águas e suas árvores, seus bichos, seus homens e seus deuses".<br /><br />Depois de ter ouvido o grito e de ter-se posto em marcha ao seu acicate, o eu se debruça sobre o abismo do incriado e tem enfim "A visão", de que trata a terceira parte de Ascese. A visão da penosa subida do Invisível que, para poder ascender, tem de livrar-se do peso dos sucessivos corpos que vai afeiçoando - da planta, do animal e do homem. Ou ando deixa finalmente para trás o nosso próprio corpo é que discernimos, no "Invisível que espezinha tudo quanto seja visível" para poder ascender, o rosto do nosso Deus. Um deus cuja essência é a luta, nascendo a dor do seu embate contra a tendência descendente, a alegria de suas passageiras vitórias, e a esperança de sua vontade de ir sempre além. Qual a razão e a finalidade dessa luta não é dado ao homem saber. Tudo quanto ele pode saber é o curso da "rubra linha de sangue que luta por ascender". O que nos compete fazer para ajudar Deus a cumprir sua ascensão é tratado em "A prática", penúltimo capítulo de Ascese, sendo o último, "O silêncio", o momento supremo dela, ascese, quando "cada qual [...] amadurece por inteiro, silenciosamente, indissoluvelmente, eternamente, com o Universo".<br /><br />Este sumaríssimo esboço algumas das idéias-chave de Ascese deve ter bastado para evidenciar que o Deus a que elas se referem é imanente no homem, não exterior nem transcendente a ele: "Joelhos encostados no queixo, mão estendida para luz, sentado de cócoras feito uma bola, Deus está encerrado dentro de cada partícula de carne". E é por não crer numa Providência exterior ao homem e superior a ele que o elocutor de Ascese afirma categoricamente: "Não é Deus que nos irá salvar; nós é que o sal varemos lutando, criando, transfigurando a matéria em espírito". Não será despropósito ver, nesse Deus imanente e evolucionário, uma figuração poético-religiosa do élan vital bergsoniano.<br /><br />O Deus-grito de "A marcha", que, na ânsia incontida de subir mais e mais, vai largando para trás os corpos que afeiçoa - como o Morador-de-corpos do Bhagavad-Gitá -, não difere daquela "força que evolui através do mundo organizado [...] e que procura sempre ultrapassar a si mesma"8 a que Bergson faz referência no capítulo II de A evolução criadora. Por sua vez, o Deus-luta se explica pela tendência, ali também apontada, de o esforço evolutivo desviar-se amiúde lido que deve fazer pelo que faz, absorvido pela forma que se ocupou em assumir, hipnotizado por ela como por um espelho"9. Para ilustrar comparativamente tais descaminhos do impulso vital, Bergson recorre a uma noção de liberdade que é subscrita e ilustrada por toda a obra de Kazantzákis: “Nossa liberdade, nos próprios movimentos pelos quais ela se afirma, cria os hábitos nascentes que a sufocarão se ela não se renovar por um esforço constante: o automatismo a espreita"10.<br /><br />Faz-se necessária a luta - marcada no texto de Ascese por repetidas metáforas bélicas - porque o impulso vital, que se confunde para Kazantzákis com a própria aspiração humana à liberdade, corre sempre o perigo de estagnar-se no comprazimento e na rotina do já-feito. Daí Deus, luta e liberdade se confundirem num só complexo conceitual: "Qual é a essência do nosso Deus? A luta pela liberdade [...] Peleja desde as coisas, desde a carne, a sede, o medo, a virtude e o pecado; peleja por criar Deus". Não é difícil encontrar, em A evolução criadora, abonações para tais idéias. Assim é que a função da vida seria a de "inserir indeterminação na matéria"11, e indeterminação é aqui sinônimo de liberdade, a qual alcança seu patamar evolutivo mais alto no homem: "Um ser inteligente traz em si aquilo com que ultrapassar a si mesmo". Daí Bergson supor que "o domínio da inteligência sobre a matéria tivesse por principal objeto deixar passar alguma coisa que a matéria prende"12.<br /><br />Só falta agora traçar algumas das conexões que o niilismo heróico de Ascese entretém com o pensamento de Nietzsche. A começar da caracterização de Dioniso, em O nascimento da tragédia, como o deus que "experimenta em si [...] o estado da individuação como a fonte e o primeiro fundamento de todo sofrimento, como algo repudiável em si mesmo"13; vimos que o primeiro degrau de "A marcha" é o do repúdio e superação do eu. Outrossim, no seu empenho de, na contramão das fés estabelecidas, dar um rosto contemporâneo à idéia de Deus pela sacralização14 do élan vital, a doutrina de Ascese cumpre a rigor o preceito nietzschiano de "abrir mão da religião, mas não das intensidades e elevações de ânimo adquiridas através dela"15. E quando, na abertura de "A marcha", o Grito se queixa de que "a virtude sufoca, não consigo respirar", como que ecoa a crítica de Nietzsche, em Aurora, à eticidade como mera "obediência a costumes" e seu encômio do homem livre como "não-ético, porque em tudo quer depender de si", Para ele, esse homem é "um espírito que se despede de toda crença, de todo desejo de certeza" e que, "mesmo diante de abismos", continua a dançar16. Também o elocutor de Ascese se ufana de que, como "lutamos sem nenhuma certeza", nossa ação, "por não estar segura de recompensa, se reveste de maior nobreza". E a imagem da dança temerária aparece no final de Ascese sob forma de uma dança do fogo, que "é a primeira e a última máscara do meu Deus; dançamos e choramos entre duas grandes fogueiras". Por sua vez, a palavra "abismo" surge freqüentemente no texto de Kazantzákis como figuração multívoca do incriado, do caos, do nada, da eternidade e do próprio Deus, que também tem vários nomes: "Abismo, Mistério, Treva Absoluta, Luz Absoluta, Matéria, Espírito, Última Esperança, Última Desesperança, Silêncio".<br />Mas abismo conota sobretudo a noção de perigo, que é basilar no niilismo heróico de Ascese, quando mais não fosse porque é no enfrentamento do perigo que a heroicidade se afirma como tal: o Grito nas entranhas do homem ordena-lhe: "Podes e deves, em teu próprio setor, tornar-te herói. Ama o perigo". Quando ergue o estandarte do "viver perigosamente", Zaratustra tem os olhos posto no Übermensch, palavra que se costuma traduzir incorretamente por "super-homem" e que mais bem se traduziria por "além-homem" - o ser humano que transpõe os limites do humano. Ao postular essa transposição, o pensamento de Nietzsche ronda as fronteiras do "niilismo radical", sem se deter todavia "em uma negação, no não", mas indo, além disso, até "um dionisíaco dizer-sim ao mundo, tal como é [...] a grande participação panteísta em alegria e sofrimento, que aprova e santifica até mesmo as mais terríveis e problemáticas propriedades da vida"17.<br /><br />Esta citação de O eterno retorno põe bem em relevo o caráter heróico de um niilismo que se atreve a dizer sim ao terrível e ao sofrimento. E é um niilismo desse tipo que as maiúsculas do final de Ascese reafirmam enfaticamente quando, bendizendo os que se unem a Deus para se fazerem um com ele, "carregam nos ombros, sem vergar ao seu peso o [...] terrível segredo: sequer este um existe!".<br /><br />Bárbaro.... Fiquei neste texto o dia todo praticamente ... Coloco a disposição para reflexão filosófica...<br /><br />Christiane.</div>Christiane Foricnitohttp://www.blogger.com/profile/15701277770166618026noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-82337747968232777.post-81253889291991150032010-01-19T04:40:00.000-08:002010-01-19T04:41:13.036-08:00Soren Kierkegaard<h3 class="entry-header"> </h3> <div class="entry-content"><div class="entry-body"> <p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQLut-o5vIekNfm6Zxu5uF8nTfE5daj3CVwpCMU5Cpan-qUgf7Ds29g6EZx0z6RyxsGiuH8AzMMF6RQg2pwmE74CDnovsuV8UfLzBq146xpJzrbP_j7ex_l9_Twkdw-v3IyuSO2yKbB7u6/s1600-h/sorenkierkegaard.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5344682675107764354" style="margin: 0px auto 10px; display: block; width: 262px; height: 360px; text-align: center;" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQLut-o5vIekNfm6Zxu5uF8nTfE5daj3CVwpCMU5Cpan-qUgf7Ds29g6EZx0z6RyxsGiuH8AzMMF6RQg2pwmE74CDnovsuV8UfLzBq146xpJzrbP_j7ex_l9_Twkdw-v3IyuSO2yKbB7u6/s400/sorenkierkegaard.jpg" border="0" /></a><br /></p><div>Por Christiane Forcinito<br /><br /></div><div> </div><div align="justify">Kierkegaard a meu ver mereceria mais tempo pois me instigou profundamente principalmente na questão por ele abordada sobre a "possibilidade X angústia" que tanto em seu tempo quanto hoje ainda nos é tão pensada ou melhor, nem pensada acho que é vivida...</div><div align="justify"> </div><div align="justify">É o desespero que nos impõe uma escolha... O que acham disso? Nele pode-se ver uma base existencialista, embora sua vida seja também o reflexo de sua filosofia. Ele teve uma vida intensa e produtiva, uma infância rigorosa e se vê marcado por um estigma, pois seu pai amaldiçoou Deus e por isso se vê como amaldiçoado. Com seu temperamento melancólico tudo lhe causava angústia e para ele sua vida era um caos sem sentido. A felicidade não existe neste mundo para ele.</div><div align="justify"> </div><div align="justify">Segundo Kierkegaard "A subjetividade é a verdade". A verdade tem de ser vivida pelo indivíduo, pois se não tocar e não transformar a existência não há sentido ter uma verdade. Uma de suas frases diz: " Importa-me encontrar uma verdade que possa ser verdade para mim; encontrar a idéia pela qual quero viver e morrer"</div><div align="justify"> </div><div align="justify">A angústia e o desepero fazem parte da natureza humana, pois a angúsia e a possibilidade caminham juntas, pois a escolha que envolve a liberdade é que angustia o homem no seu ser que é ao mesmo tempo e na possibilidade do poder-ser, ou seja, o homem não é determinado, está em suas mãos! Agimos de modo deliberado para agir de acordo com nossos princípios e natureza... O homem é um "poder ser". O que há de mais terrível no homem é ter de escolher. A liberdade...</div><div align="justify"> </div><div align="justify">Um modo de vencer a angústia muitas vezes é perceber que a realidade é mais leve que a possibilidade, pois a realidade é sempre menor, finita... É na realidade que temos o valor absoluto das coisas... O nosso destino é não ter destino...</div><div align="justify"> </div><div align="justify">Agora irei pontuar questões de seu pensamento:</div><div align="justify"> </div><div align="justify"><strong>Sobre a Liberdade</strong></div><div align="justify">O homem não é pré determinado em uma essência humana, isto é, o homem não possui uma natureza como há nos animais; o nosso "ser" é pura possibilidade! NÃO SOMOS ESSÊNCIA, SOMOS POSSIBILIDADE!!!!!</div><div align="justify"> </div><div align="justify"><strong>Sua etapa </strong><strong>Estética:</strong> Há abundância de possibilidades sem fazer-se verdadeiramente delas...Não as leva a sério, contempla-as, mas não atua... A escolha pela estética é apenas nome de vida sem autenticidade, pois a vida realiza-se na decisão.</div><div align="justify">A estética vive o instante fulgaz do prazer, cuja essência é o desespero, ou seja depois do prazer vem o enfado, o tédio e segue a ironia... Da ironia é provocado o desepero, pois uma escolha é imposta...Ainda estou a entender isso também hehehehehe.....</div><div align="justify"> </div><div align="justify"><strong>Sua etapa Ética :</strong> Etapa superior à estética onde a escolha e decisão são essenciais... Aqui não há contemplação, o homem encontra sua missão e nesta tentativa de assumir a si mesmo chega ao desespero...</div><div align="justify">O homem não é capaz de por si mesmo se tornar verdadeiro... Aqui ele encontra a infinitude e a finitude e é quando o desespero humano é consolado pelo eterno, isto é, é aqui que a angústia causada pelo "pecado" é vencida pela fé e se torna suportável....! Percebo que para ser eu mesmo dependo de outro, a felicidade tem sentido quando é compartilhada, somos finitos, limitados, impotentes... Não podemos perder a connexão com o infinito.</div><div align="justify"> </div><div align="justify"><strong>Sua etapa Religiosa :</strong> Superior as fases anteriores que toma consciencia de sua necessidade com o infinito e que a escolha deve ser feita diante deste infinito. A liberdade consiste em fazer a vontade de Deus, quando o homem recusa a Deus recusa a si mesmo e só quando se reconhece finito sua melancolia é aplacada. A dominação do bom senso torna ambígua a existência humana.</div><div align="justify"> </div><div align="justify">A possibilidade no indivíduo se encontra no "ETERNO INSTANTE", isto é, o momento que você se sente no infinito, é a presença do eterno na qual não há medição de tempo... senão a vida seria insuportável...</div><div align="justify"> </div><div align="justify">Kierkegaard critica a fé institucionalizada, isto é culpa a Igreja luterana pela perda da fé, ou seja pelo processo de secularização da fé.</div></div></div>Christiane Foricnitohttp://www.blogger.com/profile/15701277770166618026noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-82337747968232777.post-27748979542240982062010-01-19T04:39:00.000-08:002010-01-19T04:40:06.260-08:00“INDEPENDÊNCIA...” Até quando a ânsia da independência é saudável?<p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnj52D5ZlUqCTAo2J7Emq3g2wUrnxdACXt6z9rBtL07M9Cdkvcke1djh8EPtjRiImz8MLUUjhsiOErZktbULSWBFMmSWqVd0bjqgK2gjs_XLEdhL7OWSyGs5-vUrh-htG5CWu9uCsCWJos/s1600-h/cerroangeles.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5355819837893748482" style="margin: 0px auto 10px; display: block; width: 400px; height: 390px; text-align: center;" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhnj52D5ZlUqCTAo2J7Emq3g2wUrnxdACXt6z9rBtL07M9Cdkvcke1djh8EPtjRiImz8MLUUjhsiOErZktbULSWBFMmSWqVd0bjqgK2gjs_XLEdhL7OWSyGs5-vUrh-htG5CWu9uCsCWJos/s400/cerroangeles.jpg" border="0" /></a><br /></p><p><span style="font-size: 130%;">Por Christiane Forcinito<br /></span></p><p><span style="font-size: 130%;">Artigo publicado no site Sociedade Católica</span></p><p align="justify"><span style="font-size: 130%;"> Hoje em dia se fala muito em independência e em liberdade... Eu mesma acabei de passar por uma grande crise em meu casamento por causa destes dois conceitos e a qual digo sinceramente que estamos superando.<br />Tenho percebido na atualidade diversa sentidos de ambas as palavras, isto é, tanto a independência e a liberdade estão sendo de alguma forma beirando mais para um subjetivismo do que para um real significado conceitual dela mesma ( de ambos os termos, quero dizer).<br />A independência, por exemplo, está sendo traduzida como sinônimo de “não compromisso”, isto é, hoje em dia ser uma pessoa independente significa aquela que tem compromisso apenas consigo mesma a que acaba de certa forma gerando um paradoxo em si mesmo, afinal esse desejo patológico de independência que martela a todo o momento em sua mente a faz não compreender o sentido de liberdade e ao mesmo tempo ela se torna dependente deste desejo.<br />A liberdade humana é antes de tudo compromisso, pois a partir do momento que é livre esta se compromete porque escolhe. E é exatamente aí quando decidimos, tomamos uma decisão é que exercemos o poder da liberdade.<br />Fazer uma escolha significa se comprometer com o que acreditamos que esta escolha nos enriquecerá. Se fizermos o oposto, isto é, se não nos comprometemos com o escolhido acabamos empobrecidos, pois renunciamos a tudo sem nos enriquecermos a nada.<br />Um estudante que opta estudar medicina vai de certa forma renunciar tudo o que não o prepare para ser um bom médico e se enriquecerá com sua escolha, afinal quem irá se consultar com um médico “não comprometido” com sua profissão?<br /> Renúncia não é perda! Renunciar é escolher e escolher é enriquecer, isto é, ENQUANTO NÃO ESCOLHO NÃO TENHO NADA!<br />Outro paradoxo que há dentro disso são casais que apostam radicalmente na independência. Aqui não estou criticando nenhum casal específico e nem mesmo o meu casamento e já a priori digo que sou fã de Sartre e Simone, mas o que vou escrever aqui concorda também e isso possui sim todo sentido que colocarei. Casamentos como citei no início deste parágrafo significa homens e mulheres que de alguma forma não amadureceram e, portanto não sabem ser independentes, inclusive se pode ver isso nas queixas de casais independentes que se separaram...<br />Há também o outro lado de um querer esta independência a qualquer custo e isso também é sinal de não amadurecimento, pois é um desejo tipicamente adolescente e preso neste desejo “inconsciente” não superado... Como no meu caso sinceramente e talvez seja por isso que eu esteja aqui escrevendo este artigo para que vocês aprendam junto comigo...<br />A estrutura da liberdade também comporta uma natureza bifurcada, ou seja, para cada ação há uma reação e não há liberdade sem a responsabilidade e quem tenta escolher uma saída pensando em não assumir uma responsabilidade e acaba não pensando em conseqüências acaba tendo que resolve-las depois afinal as conseqüências são inseparáveis das escolhas. Aqui o grau de imaturidade já é bem maior (ufa... Posso dizer que neste grau de imaturidade não estou ... Risos).<br />Como dizia Sartre: “Somos todos condenados a ser livres” E isso é real! Nós estamos forçados de certo modo á liberdade e a usarmos nossa liberdade, porém estamos impedidos de escapar da nossa liberdade e isso constitui nosso drama e tragédia da nossa vida.<br />É justamente neste ponto que chego para dizer que uma renúncia á liberdade é ao mesmo tempo a própria liberdade... Trocando em miúdos renunciar à liberdade teria de entregá-la á algo, alguém e isso significa envolvimento e compromisso, ou seja, é o que muitos fogem... E foge da natureza e o conteúdo da própria liberdade e por este caminho é onde não há nenhuma saída... Só o vazio existencial... Que paradoxo não?</span></p>Christiane Foricnitohttp://www.blogger.com/profile/15701277770166618026noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-82337747968232777.post-20343602240999759922010-01-19T04:38:00.001-08:002010-01-19T04:38:57.533-08:00A verdade da Filosofia<p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQYJmYKi729XwYWMkhRfN_E0CCRuub1pToMl4qGuFtKH7niFWs4Cy_XCAuJWg08oALgY3Kf2OKWTiD-lcUrODc0Zi9hcBC7i6smUamasZHZUydkmRIpOkAtWkPQklTPpWbh93ud8UiHvQj/s1600-h/Mundo+e+Deus.bmp"><img style="margin: 0px auto 10px; text-align: center; width: 400px; display: block; height: 394px;" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5370964446561537970" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjQYJmYKi729XwYWMkhRfN_E0CCRuub1pToMl4qGuFtKH7niFWs4Cy_XCAuJWg08oALgY3Kf2OKWTiD-lcUrODc0Zi9hcBC7i6smUamasZHZUydkmRIpOkAtWkPQklTPpWbh93ud8UiHvQj/s400/Mundo+e+Deus.bmp" border="0" /></a><br /></p><div align="justify"><strong><em>POR GABRIEL VIVIANI</em></strong></div><br /><div align="justify"><strong></strong></div><br /><div align="justify"><strong>INTRODUÇÃO</strong></div><br /><div align="justify"><em>Por Christiane Forcinito Ashlay Silva de Oliveira</em></div><br /><br /><div align="justify">Hoje numa maravilhosa aula de ética que tive... Ufa e que bom que minhas aulas retornnaram... E que pena que é meu último semestre... E que maravilhoso pensar que mais uma etapa acaba porém outras se iniciam, voltei para casa com meus questionamentos e tarefas a fazer...</div><br /><br /><div align="justify">Afinal, tarde livre doas filhas. Tudo volta ao normal, aulas recomeçaram e mesmo com minha opqração a ser agendada em brve não desanimo. FUi ver os sites onde escrevos, retomar contatos com editores, colocar matérias em dias e estudar o que foi dito hoje em aula.</div><br /><br /><div align="justify">Li um excelente texto em um site onde possuo uma coluna e não me contive em "ousar" publicá-lo aqui pois muito me fez refletir não só na síntese que estou vivendo como em tudo que foi dito em aula e no pós modernismo que vivemos hoje em dia. </div><br /><br /><div align="justify">Já digo de antemão que este texto não é meu e será indicada a fonte e o autor! Leiam com atenção e sabedoria. Boa leitura!</div><br /><br /><div align="justify">Christiane....</div><br /><br /><div align="justify">FONTE: <a href="http://blogdogabrielviviani.blogspot.com/">http://blogdogabrielviviani.blogspot.com/</a> que foi publicado em: </div><br /><div align="justify"><a href="http://www.pastoralis.com.br/pastoralis/html/modules/smartsection/item.php?itemid=458">http://www.pastoralis.com.br/pastoralis/html/modules/smartsection/item.php?itemid=458</a></div><br /><br /><br /><div align="justify"><strong><em>"A VERDADE NA FILOSOFIA"</em></strong></div><br /><div align="justify"><strong><em></em></strong></div><br /><div align="justify"><em>Há mais de dois mil anos o prefeito da província romana da Judeia questionava: Que é a Verdade? É possível que Pôncio Pilatos não tivesse plena consciência da gravidade desta questão, e nem tampouco estivesse interessado na história desta problemática fundamental. Mas o fato é que ele expressara em pouquíssimas palavras a dúvida que desde sempre angustiou o homem. A busca pela realidade, pelo verdadeiro é algo que perpassa o essencial de todas as religiões, e alcança um grau de sofisticação intelectual no pensamento grego: aletheia é o objetivo principal dos maiores pensadores da antiguidade.</em></div><br /><div align="justify"><em></em></div><br /><div align="justify"><em></em></div><br /><div align="justify"><em>De fato, só há filosofia propriamente dita quando se almeja conhecer o real, aquilo que está por detrás das aparências, do mutável, e que subsiste para além do inconstante. Alguém que desconfie da existência da Verdade não pode jamais compreender plenamente o sentido do exercício filosófico, e nem tampouco realizá-lo, já que não havendo uma Verdade todo questionamento tornar-se-ia infrutífero. Por que alguém perderia seu tempo indagando sobre isso ou aquilo se não há nenhuma possibilidade de se chegar a conclusões definitivas? A filosofia subentende, portanto, a existência de algo real, imutável, e que, além disso, possa ser conhecido pela razão humana na medida em que esta encontra o caminho correto. Nos tempos atuais vemos que a verdadeira vocação da filosofia foi muitas vezes vilipendiada, e que determinadas linhas de pensamento incorreram em erros grotescos como, por exemplo, supor que o mero questionamento represente o fim último da pesquisa. A dúvida metódica cartesiana tornou-se a ferramenta de investigação mais utilizada pelos modernos, não no sentido proposto por René Descartes - ou seja, indagar para conhecer -, mas sim como uma forma de afrontar as tradições, de destruir a herança cultural do homem, e lançar a civilização no beco sem saída do relativismo. Contudo, a tão afamada frase que diz "não existe verdade absoluta" é uma farsa que não se sustenta, pois todo aquele que admite tal coisa está, no mesmo momento, afirmando algo de maneira peremptória, está constituindo uma verdade, e tornando uma contradição aquilo que ele mesmo havia proposto. Deste modo, podemos concordar que só existe filosofia porque existe uma realidade imutável, e que filósofo é aquele que compreende a existência do real, sente-se atraído por ele e dedica-se a obter seu conhecimento pleno. Não é filósofo, de fato, aquele que duvida da Verdade.</em></div><br /><div align="justify"><em></em></div><br /><div align="justify"><em></em></div><br /><div align="justify"><em>Através de Sexto Empírico nos chegam fragmentos de um longo poema escrito por Parmênides. Poucos pensadores fizeram tanto pelo estabelecimento da Verdade como algo absoluto quanto esse pré-socrático, podendo até mesmo se dizer que as bases do raciocínio lógico encontram suas origens nas especulações de Parmênides. Segundo ele, um objeto pode existir ou não, pode ser ou não, tornando-se impossível, portanto, que uma coisa seja e não seja ao mesmo tempo. Esse tipo de pensamento pode parecer estranho à primeira vista, já que o mundo natural nos confronta continuamente com transformações, paisagens que se modificam ao sabor dos ventos e dos tempos, seres que nascem e morrem, coisas que, enfim, parecem existir agora e não existir segundos depois. Essa confrontação entre o que é e o que não é, entre o ser e o não ser, entre o âmbito do imutável e o mundo das aparências é, sem dúvida nenhuma, o tema central da filosofia grega, e Parmênides mergulha profundamente nessa questão. Permanecer no devir e aceitá-lo como única realidade possível seria aprisionar-se no relativismo, constatar a inexistência da Verdade ou sua condição inacessível. De fato, a natureza revela-se como um permanente ir e vir, um fatídico nascer e perecer de todas as coisas, sendo compreensível a concepção do eterno retorno entre os antigos, já que, ainda imersos numa cultura pouco desenvolvida e tendo um conhecimento precário a respeito do sobrenatural, poucas forças tinham para transcender a materialidade. É justamente disso que Parmênides tenta fugir ao estabelecer a existência de um Ser imutável, perfeito, imóvel e imortal. Não obstante seu monismo estático parecer um tanto radical, o filósofo esforça-se por preservar a possibilidade do conhecimento, a inalterabilidade do real, e assim salvaguarda o ser humano de um mundo caótico e sem sentido. Num dos trechos de seu poema, Parmênides descreve a viagem imaginária que faz em busca da Verdade: "... as filhas do Sol se apressavam por levar-me para a luz, depois de abandonarem a morada da Noite e de com suas mãos terem retirado os véus da cabeça". A jornada rumo ao conhecimento é, desta maneira, uma passagem da ignorância para o saber, da escuridão para a luz, e apenas se nos mostra justificável porque em seu término existe aquilo que não se transforma nunca, que permanece sempre o mesmo, representando um oásis de paz e satisfação para a nossa natureza angustiada e indecisa.</em></div><br /><div align="justify"><em></em></div><br /><div align="justify"><em></em></div><br /><div align="justify"><em>A filosofia revela-se, neste sentido, uma herdeira de toda a tradição religiosa dos ancestrais. É sabido que depois de Hermann Diels e sua obra máxima - Os Fragmentos dos Pré-Socráticos - o estudo referente a esse período histórico desenvolveu-se de maneira impressionante, proporcionando o surgimento de outros especialistas de grande importância, tais como Werner Jaeger, Charles H. Kahn, F. M. Cornford, Olof Gigon, G. S. Kirk, J. E. Raven, M. Schofield, etc. Atualmente não parece haver dúvida de que o pensamento grego foi muito mais do que apenas uma superação da mitologia; a bem da verdade, devemos entendê-lo como uma evolução das imagens alegóricas do mito, um refinamento levado a cabo pela razão. De fato, muitos dos conceitos encontrados na filosofia pré-socrática, ou mesmo em Platão e Aristóteles, estavam já presentes na Teogonia de Hesíodo e nas cosmogonias órficas, mostrando que os gregos não desprezaram o conhecimento religioso, nem tampouco pretenderam diminui-lo diante da pretensa superioridade de um racionalismo semelhante ao defendido pelos iluministas. A filosofia helênica representa, dentro daquilo que comumente chamamos revelação natural, uma espécie de coroação da busca humana pela Verdade, a mais bem acabada elaboração intelectual desenvolvida por um povo cuja genialidade ousou tomar as intuições sobre realidades sobrenaturais, despojá-las dos elementos meramente fantasiosos, e apresentá-las num grau de pureza que até hoje nos espanta.</em></div><br /><div align="justify"><em></em></div><br /><div align="justify"><em></em></div><br /><div align="justify"><em>Estudando as diversas crenças religiosas de forma comparativa, percebemos uma constante que, certamente, antecipava essa busca humana pela maior compreensão do real. Trata-se da prática de sacralizar lugares, ofícios e relações. Na concepção arcaica o mundo se encontrava dividido em dois espaços claramente definidos: a ordem e o caos, o sagrado e o profano. Em História das Crenças e das Ideias Religiosas, Mircea Eliade afirma: "... o território ocupado é previamente transformado de caos em cosmo; em razão do rito, ele recebe uma forma, e torna-se real". O primitivo é um homem essencialmente religioso, e todo seu ambiente, sua atividade e sua vida encontram-se marcados pelo selo inconfundível do sagrado. Fora da sacralidade não se concebe nenhuma forma de existência; para além do rito, do contato com a divindade, das práticas purificatórias e das celebrações religiosas tudo é confusão e sofrimento. Esse dualismo deve-se, principalmente, ao caráter maligno que se atribuía ao conceito de caos. Em inúmeras tradições podemos identificar o arquétipo de um tempo primordial, no qual reinavam a ordem, a felicidade e a paz, cuja harmonia foi quebrada pela ação de um ser maligno, pelo descuido de um deus desastrado ou pelo pecado do próprio homem. Nas narrativas mesopotâmicas, por exemplo, essa ordem é continuamente perturbada pela "Grande Serpente". Na mitologia grega deparamo-nos com diversos relatos sobre o mesmo tema: na Teogonia, por exemplo, referindo-se aos homens existentes sob o reinado de Cronos, Hesíodo diz que ‘viviam como deuses, com o coração isento de cuidados, a salvo de dores e misérias’, até que essa divindade fosse destronada por Zeus, seu próprio filho; também nos mitos de Prometeu e de Pandora repete-se o mesmo tema, ou seja, o desafio lançado à ordem estabelecida, tanto movido pelo orgulho quanto pela curiosidade, e que teve por consequência o deflagrar-se da desordem, das dores e do sofrimento. Sem dúvida nenhuma, o relato mais conhecido é aquele que se encontra no Gênesis: ludibriados pela serpente, Adão e Eva tomam do fruto proibido, desobedecem ao mandamento de Deus, e são lançados para fora do Éden, onde deverão padecer todos os infortúnios de seu pecado. Aí está o tema do Paraíso perdido, tão comum na história da humanidade e tão central na crença dos povos primitivos. É possível que surja, neste momento, a questão: como isso se relaciona com a busca pela Verdade? A fim de desvendar uma problemática dessa natureza faz-se necessário mergulhar profundamente no estudo das religiões comparadas, desvelar os mistérios da psicologia de nossos ancestrais, compreender suas agonias e esperanças, seus sofrimentos e consolações. Apenas assim será possível entender o quanto nos encontramos ainda tão próximos deles; elo mais recente desta cadeia, herdamos o mesmo fundo cultural milenar, e padecemos as mesmas angústias, ainda que transmutadas em formas modernas. Percebemos isso claramente no modo como os ancestrais encaravam a perda desse estado paradisíaco: a falta cometida perturbara a disposição original, afastara a divindade e transformara em caos aquilo que antes era uma perfeita harmonia. É justamente neste ponto que nos deparamos com o fenômeno da sacralização. Para o homo religious viver num mundo caótico representa sofrer todas as consequências do pecado; distante dos deuses, da imortalidade e da bem-aventurança não lhe resta nada além da amargura. Sobre os ombros do homem primitivo pesam o ininterrupto devir, as agruras do tempo e, principalmente, a morte. Pois o pecado privou-os da aliança com a divindade e fechou-lhes a porta para a vida eterna. Imersos num mundo sem sentido, onde se encontra ausente a harmonia primordial desejada por deus, nossos ancestrais tentam desesperadamente recuperar aquilo de que foram privados, e através de ritos conferem a lugares, objetos, ofícios e relações o caráter de sagrado. Uma pedra sacralizada torna-se diferente de todas as pedras existentes, por exemplo, não por algo que seja intrínseco à sua materialidade, e sim por participar daquilo que se entende por divino. Para além daquela pedra tudo é caos e irrealidade; nela reinam, no entanto, a harmonia, o selo da imortalidade e o mistério do sagrado. E assim chegamos ao ponto essencial dessa relação que há entre as tradições religiosas e a filosofia, no que tange à busca pela Verdade. Na visão primitiva só é real ou existente aquilo que se encontra abrangido pelo âmbito do divino. Ao chegarem a um novo sítio, a primeira providência tomada pelos nossos ancestrais era a de erguer um altar, na intenção de estabelecer ali uma ligação com as divindades, dando forma a um território antes caótico. Ora, se é o divino que confere um caráter ontológico ao mundo, se apenas ele pode ser considerado intrinsecamente real - diferentemente do que está além, ou seja, a irrealidade caótica -, disso deduzimos que nas tradições ancestrais a Verdade foi, desde sempre, um atributo do sagrado.</em></div><br /><div align="justify"><em></em></div><br /><div align="justify"><em></em></div><br /><div align="justify"><em>É em Platão que o laço se fecha ainda mais, unindo numa única expressão os conceitos de Verdade contidos no pensamento religioso e no filosófico. Para compreendermos isso tenhamos sempre em mente o que foi exposto sobre as tradições primitivas: o divino é aquilo que atribui o ser, a realidade às coisas e, sendo assim, apenas a ele podemos conferir-lhe uma existência imutável, somente ele é e continua sendo, a despeito do vaivém caótico da natureza. Temos aqui, então, o conceito de que a verdadeira realidade reside no sobrenatural, e que o mundo só pode ser considerado real na medida em que participa da sobrenaturalidade. Assimilado esse tema tão importante referente às tradições ancestrais, creio ser possível aportarmos na Teoria das Ideias de Platão. Segundo o discípulo de Sócrates, há um mundo superior, para além do mundo material, no qual residem as Ideias. Tais Ideias são, de fato, a verdadeira realidade, e seus correspondentes não são nada além do que apenas um reflexo. Uma viagem pelos diálogos platônicos revela-nos isso com muita clareza: tanto no Cármides, quanto no Laques, no Eutífron e no Hípias Maior, após conduzir os personagens por extensos debates sobre a temperança, o valor, a piedade ou a beleza, Platão comumente os leva a compreender a imprecisão desses conceitos humanos, mostrando que todas essas coisas são, no entendimento e na vivência das pessoas, tão-somente um reflexo das verdadeiras ideias de temperança, valor, piedade e beleza. Muitos especialistas discutiram a respeito da correlação entre o mundo Ideias e o mundo divino no pensamento de Platão, chegando a conclusões diferentes. Não obstante, creio ser inevitável admitir-se a similitude entre as tradições religiosas primitivas e o idealismo platônico no que tange à questão da realidade: ambos atribuem-na a um mundo que se encontra acima do natural, para além da materialidade; além disso, concordam ao afirmar que a Verdade (o real) é imutável e, portanto, absoluta, ao contrário da natureza ou da opinião dos homens, sempre inconstantes. Trata-se, enfim, da velha oposição entre doxa e episteme. O pensamento de Platão efetuou uma identificação tão perfeita entre a realidade e o mundo das Ideias, atribuindo a estas últimas o caráter da imutabilidade, imortalidade e imobilidade, e afastando definitivamente tudo isso do mundo material, que se chegou a supor ser impossível atingir a Verdade através dos sentidos. De fato, Platão não se cansava de elogiar o modo de vida teorético ou contemplativo, mostrando a importância de se aperfeiçoar a alma - a parte mais nobre do homem -, pois era, justamente, por meio dela que se poderia contemplar a Beleza, a Justiça, a Amizade, ou mesmo o Bem, a Ideia suprema, da qual todas as outras provinham. Aparentemente, a filosofia platônica lançava toda a cultura numa crise: se a Verdade só era alcançada pela busca espiritual, tornava-se inútil qualquer forma de pesquisa experimental. A resposta para esse dilema veio exatamente da Academia de Platão, por intermédio de seu discípulo, Aristóteles.</em></div><br /><div align="justify"><em></em></div><br /><div align="justify"><em></em></div><br /><div align="justify"><em>O Estagirita não se rebelou contra o conceito das Ideias, mas discordou de seu mestre ao não situá-las num mundo diverso, onde antes se encontravam absolutamente desligadas da natureza. Na visão de Aristóteles, essas Ideias eram parte constitutiva dos seres criados, sua verdadeira essência, aquilo que, não se transformando nunca, permanecia constante mesmo após a extinção das forças físicas. Desta forma, Aristóteles unia, novamente, o eterno ao passageiro, o espiritual ao material, o sagrado ao profano. A Verdade já não era um bem distante, a qual o homem só poderia atingir através da contemplação; ela também estava na natureza, dando-lhe substrato ontológico, realidade. Isso nos remete necessariamente ao conceito de sacralização presente nas tradições ancestrais. De fato, se analisarmos com cuidado, perceberemos que a linha de pensamento é a mesma: a busca por algo imutável que subsista para além do perecível, e que, unido intimamente a este, proporcione a existência e a ordem a todas as coisas. Na especulação religiosa essa união representava a renovada aliança entre a divindade e o homem. Aristóteles não define isso com tanta clareza, mas é sabido que sua filosofia serviu de base para a obra de São Tomás de Aquino.</em></div><br /><div align="justify"><em></em></div><br /><div align="justify"><em></em></div><br /><div align="justify"><em>Deste modo, chegamos bem próximo ao clímax da nossa jornada, a tal ponto que o famoso questionamento de Pôncio Pilatos - Que é a Verdade? - já não nos parece assim tão enigmático. A religião e a filosofia, ambas em busca do real, e ambas conscientes de que isto não poderia identificar-se intrinsecamente com a matéria perecível, embora pudesse sim estar unido a ela, compartilhar de sua constituição, de maneira presente e não imanente; de mãos dadas, essas duas caminharam juntas procurando aliviar as angústias humanas, amparando-se uma à outra, sempre tão ligadas e tão mutuamente necessárias, que chega a ser risível a oposição entre fé e ciência forjada pela modernidade. A religião olhando ansiosamente para o alto, saudosa da felicidade perdida, e ardendo por uma renovada aliança com a divindade; a filosofia recebendo toda essa tradição, purificando-a de elementos imaginários, e dando-lhe uma forma mais clara e racional. Ao final do período clássico da Grécia antiga, ambas se haviam aproximado bastante da aletheia, quase a tocando, quase a vendo na sua plenitude. Mas se afirmamos que o divino é a Verdade tão procurada, temos que entender a limitação da inteligência humana, só capaz de conhecer em parte esse mistério. Buda, Sócrates e Moisés tiveram acesso, em maior ou menos grau, a essa Verdade, contudo não se pode dizer que a tenham possuído, nem tampouco que se identificassem com ela. De fato, na história da humanidade, apenas um personagem ultrapassou essa fronteira, oferecendo a resposta que Pilatos não foi capaz de enxergar. É no capítulo XIV do evangelho de São João que Jesus Cristo afirma a respeito de si mesmo: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida; ninguém vem ao Pai senão por mim". Todas as perguntas mais fundamentais do ser humano, suas angústias, esperanças e esforços convergiam na direção de Jesus, não apenas como um objetivo, mas principalmente como seu centro. Tendo compreendido esse fato com muita felicidade, Santo Agostinho escreveu em A Cidade de Deus: "Se, de acordo com a opinião mais provável e mais digna de confiança, os homens são todos necessariamente infelizes, enquanto permanecem sujeitos à morte, torna-se preciso procurar mediador que não seja apenas homem, mas também Deus, e por intervenção de bem-aventurada mortalidade, conduza os homens da miséria mortal à imortalidade feliz. Ora, semelhante mediador não devia ser isento da morte nem permanecer para sempre seu escravo. Fez-se mortal, sem enfraquecer a dignidade do Verbo, mas desposando a fraqueza da carne. E não permaneceu mortal na carne, porque ressurgiu dos mortos. Fruto de tal mediação é não permanecerem eternamente na morte da carne aqueles cuja libertação teve de operar. Era necessário, pois, que o mediador entre nós e Deus reunisse mortalidade passageira e beatitude permanente, a fim de ser conforme aos mortais no que passa e chamá-los do fundo da morte ao que permanece". Em Cristo se realizava a mais perfeita união entre Deus e sua criatura, renovando-se uma aliança rompida há tempos. Aliança eterna, que se dá na pessoa e no sacrifício do Filho, Aquele que toma sobre si toda a culpa do mundo e, aceitando sofrer a violência, refaz a harmonia entre o espírito e a matéria, as duas partes litigantes. Cristo é Deus e é homem em pacífica comunhão, e dá-se a si mesmo aos irmãos a fim de que estes também possam viver essa tão ansiada comunhão, antecipada nas tradições primitivas pela prática de sacralizar todas as coisas. Cristo é também Aquele que rompeu a barreira da morte, a ditadura do devir ininterrupto, e abriu as portas para a imortalidade. Através Dele o homem retorna ao Paraíso, recuperando sua maior felicidade, agora um bem constante, não sujeito aos perigos do tempo. Sem dúvida alguma, se o divino era a Verdade tão buscada pela religião e pela filosofia, podemos afirmar, como disse São João, que Ele "... se fez carne a habitou entre nós". E é por isso que, se antes podíamos falar da Verdade como algo a ser conhecido em parte, podemos hoje falar dela como aquilo que não somente podemos conhecer, mas podemos também comungar. </em></div><br /><div align="justify"><em></em></div><br /><div align="justify">Obrigada por compatilhar de seus conhecimentos... Christiane.</div>Christiane Foricnitohttp://www.blogger.com/profile/15701277770166618026noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-82337747968232777.post-48451216681465126392010-01-19T04:36:00.000-08:002010-01-19T04:37:45.537-08:00Personalidade e afetividade: independência e dependência<p><a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyp6Svfme-1ioi5tXY4gAlcz0hsJc4zHmsYBkt8HuPTqdzh9V5CG7-k2h381a1LW2b3vPUy4gocbhPDtehyphenhyphenSN8_J7XdMfPT1rcjkSHQXb2cpU_MEUwVjf6Iv1zN0Bkc-Sp_QlWtiyFZBzx/s1600-h/Utamaro.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 175px; height: 136px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyp6Svfme-1ioi5tXY4gAlcz0hsJc4zHmsYBkt8HuPTqdzh9V5CG7-k2h381a1LW2b3vPUy4gocbhPDtehyphenhyphenSN8_J7XdMfPT1rcjkSHQXb2cpU_MEUwVjf6Iv1zN0Bkc-Sp_QlWtiyFZBzx/s400/Utamaro.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5414138454057605650" border="0" /></a><span style="font-weight: bold;"><span style="font-style: italic;"><br /></span>Por Michel Esparza</span><br /></p><div style="text-align: justify; font-style: italic;"><br />É freqüente confundir a independência com a frieza do arrogante. Mas é errado. A verdadeira independência procede da liberdade interior e da capacidade de amar de modo desprendido, não da frieza.</div><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">Regra geral, a idade e as experiências da vida ajudam-nos a vencer o medo do “que vão dizer de nós?” Percebemos pouco a pouco que os respeitos humanos reduzem a nossa liberdade e são um sintoma de imaturidade. Além disso, por vezes as decepções fazem-nos ver que não vale a pena depender da opinião alheia: que temos de saber por nós mesmos o que valemos. Mas, como vimos, há pessoas que, para adquirirem essa maturidade, viram as costas aos outros porque pensam que só conseguem vencer essas dependências à força de desamor. No fundo, não se tornam verdadeiramente independentes, mas <i>indiferentes</i>.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">É freqüente confundir a independência com a frieza do arrogante. Mas é errado. A verdadeira independência procede da liberdade interior e da capacidade de amar de modo desprendido, não da frieza. Não se trata de virar as costas aos outros, mas de aprender a não depender da estima alheia. Vejamos agora como o homem ideal desenvolve ao mesmo tempo uma grande personalidade, que o faz ser independente, e uma grande capacidade afetiva, que o faz ser dependente.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><i style="font-weight: bold;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></i></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><i style="font-weight: bold;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></i></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><i style="font-weight: bold;"><span style="font-family: Verdana;">As energias do coração</span></i><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">O motor que nos impele a amar, a dar-nos, é o coração. Não devemos deixar-nos levar somente por ele – porque não somos apenas coração, mas também razão e vontade –; no entanto, convém que nos sirvamos de todos os seus recursos. “Estai atentos” – observa Antonio Machado –: “um coração solitário não é um coração” <sup>1</sup>.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoEndnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoEndnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><span style="font-size: 78%;">(</span><span class="MsoEndnoteReference" style="font-size: 78%;"><span style=""><span class="MsoEndnoteReference"><span style="font-family: Verdana;">1</span></span></span></span><span style="font-size: 78%;">) Antonio Machado, <i>Canciones</i>, n. LXVI, em José Pedro Manglano, <i>Orar con poetas</i>, 3ª. ed., Desclée de Brouwer, Bilbao, 2004, pág. 48.</span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------</span><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">Se o coração transborda de afeto, desejamos ardentemente a felicidade dos que amamos e estamos dispostos a qualquer sacrifício para consegui-la. E se a conseguimos, a felicidade que lhes proporcionamos recompensa de longe o nosso sacrifício, já que, quanto maior é o afeto, maior é a <i>felicidade de fazer feliz</i>.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">No homem virtuoso, coração e vontade apóiam-se mutuamente. Por um lado, sem carinho, os sacrifícios realizados para fazer o outro feliz tornam-se muito árduos; quando há carinho, a entrega à pessoa amada caminha às mil maravilhas. Por outro, o amante ideal é capaz de sacrificar-se com gosto, embora não tenha desejo de fazê-lo: ainda que o seu coração esteja fisiologicamente frio, a sua vontade inflama-lhe o coração.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br /><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">Com efeito, “a perfeição moral consiste em que o homem não seja movido para o bem unicamente pela sua vontade, mas também pelo seu «coração»” <sup>2</sup>. No homem virtuoso, com a passagem do tempo, a bondade impregna a inteligência, a vontade e o coração. Como afirma um filósofo, “uma boa formação do caráter é aquela que consiste em que chegue a dar-me prazer o que é bom e a desagradar-me o que é mau. Porque então será sinal de que a minha liberdade se vai sedimentando no meu corpo, de que a sensibilidade reta se vai entranhando na massa do meu sangue. Consigo assim superar a esquizofrenia, tão típica dos dias de hoje, entre o frio racionalismo que domina de segunda a sexta-feira, e a febre de dispersão que campeia no fim de semana. Vou conseguindo uma vida unitária, embora não unívoca nem monocórdica. Integro progressivamente na minha vida os bens que se encontram na base da minha personalidade. A poesia do coração vai penetrando na prosa da inteligência” <sup>3</sup>. O homem virtuoso consegue, pois, entrelaçar todos os seus recursos – inteligência, vontade e afetividade – a serviço do amor. A sua inteligência inspira-lhe boas intenções e a sua vontade, sustida pelo coração, põe-nas em prática.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------</span><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoEndnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><span style="font-size: 78%;"><span style="font-family: Verdana;">(<span class="MsoEndnoteReference">2</span>) <i>Catecismo da Igreja Católica</i>, n. 1775.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoEndnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 78%;">(<span class="MsoEndnoteReference">3</span>) </span><span style="font-family: Verdana; font-size: 78%;" lang="ES-TRAD">Alejandro Llano, <i>La vida lograda</i>, pág. 79.</span><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">É impressionante a bondade que um homem virtuoso é capaz de irradiar. Dir-se-ia que o afeto dá asas à vontade. “Tudo o que eu fiz na minha vida, em todos os terrenos, fi-lo movido pelo carinho”, dizia um renomado professor de medicina,<br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">admirado tanto pela sua ciência como pela santidade de sua vida <sup>4</sup>.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><span style="font-size: 78%;">(</span><span class="MsoEndnoteReference" style="font-size: 78%;">4</span><span style="font-size: 78%;">) Eduardo Ortiz de Landázuri, professor catedrático de medicina, faleceu em 1985. Chamava a atenção pela sua humilde caridade para com os seus inúmeros pacientes e conhecidos. Em dezembro de 1998, teve início o seu processo de beatificação. Cfr. Esteban López-Escobar e Pedro Lozano, <i>Eduardo Ortiz de Landázuri</i>, Rialp, Madrid, 1994.</span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------</span><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">Em muitas mães, podemos admirar essa mesma bondade inesgotável, nascida aliás da mesma fonte: “Admirável energia a do amor materno, santo reflexo do amor divino que para tudo encontra forças e nunca se cansa dos sacrifícios e fadigas mais insuportáveis!” <sup>5</sup>, diz-se num romance. A capacidade de abnegação da mulher que se apóia nos seus recursos afetivos é admirável, e geralmente supera a do homem. Talvez sucumba superficialmente às pequenas contrariedades, mas perante uma grande dor costuma mostrar-se mais valorosa que o homem.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------</span><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoEndnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 78%;">(<span class="MsoEndnoteReference">5</span>) </span><span style="font-family: Verdana; font-size: 78%;" lang="ES-TRAD">Enrique Gil y Carrasco, <i>El Señor de Bembibre</i>, Rialp, Madrid, 1999, pág. 103.</span><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">O coração é ao mesmo tempo forte e fraco. À primeira vista, a pessoa insensível parece mais forte, mas, com o andar do tempo, mostra-se menos perseverante na adversidade. Em contrapartida, o problema da pessoa sensível consiste em ser mais vulnerável no imediato; tem mais necessidade de ser querida, e isso expõe-na a maiores decepções. Se essa pessoa não conta com outros recursos, a sua fortaleza depende da medida em que se sinta querida.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">Se, para completarmos o quadro, acrescentarmos a isso a irracionalidade que a sensibilidade pode trazer consigo quando exacerbada, entendemos melhor os problemas das pessoas sensíveis. Costumam dar mais importância a <i>sentir-se queridas</i> do que a <i>saber-se queridas</i>. Precisam de que o amor, o afeto, lhes entre pelos olhos. Por isso, às vezes, sofrem desnecessariamente: deixam-se levar pela imaginação, o que faz com que as suas decepções amorosas não tenham uma base real.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">Originam-se assim não poucos mal-entendidos entre esposos. É mais fácil que uma mulher se convença do amor do seu marido se o vê chorar por ela, do que se o marido lhe desse explicações racionais. A causa deste receio de ser repelida pode estar, às vezes, em que a própria mulher duvida da sua capacidade de fazer-se amar, e é lógico que essa insegurança a leve a não confiar no amor do marido. Já o dizia Cícero: “Há pessoas que tornam mortificantes as amizades por pensarem que são desprezadas, coisa que raramente sucede senão aos que se têm a si mesmos por desprezíveis” <sup>6</sup>.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoEndnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoEndnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoEndnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 78%;">(<span class="MsoEndnoteReference">6</span>) </span><span style="font-family: Verdana; font-size: 78%;" lang="ES-TRAD">Cícero, <i>De amicitia</i>, XX.</span><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------</span><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">Penso que se evitariam não poucos problemas matrimoniais se cada cônjuge aprendesse a pôr-se na pele do outro e, mais concretamente, se as esposas especialmente sensíveis aprendessem a dar mais importância ao saber que ao sentir, e os maridos especialmente viris aprendessem a ter um pouco mais de “mão esquerda”...<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><i><span style="font-family: Verdana;"><span style="font-weight: bold;"><br /></span></span></i></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><i><span style="font-family: Verdana;"><span style="font-weight: bold;"><br /></span></span></i></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><i><span style="font-family: Verdana;"><span style="font-weight: bold;">Afeto e desprendimento</span><o:p></o:p></span></i></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">Não há nada que nos faça tão dependentes, no melhor e no pior dos sentidos, como o amor. O carinho autêntico é desprendido, ao passo que o carinho barato é possessivo.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">No fundo, o afã possessivo é uma forma de egoísmo. Vai desde o açambarcamento espiritual próprio do soberbo e do autoritário, que impõe à pessoa amada os seus gostos e caprichos, até o açambarcamento sexual próprio de quem a converte em mero objeto de prazer, passando pelo açambarcamento afetivo de quem necessita receber constantes elogios.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">As atitudes afetivamente possessivas são próprias de pessoas centradas em si mesmas, absorventes e ciumentas. “Ele ama-me muito, tanto que às vezes me sufoca”, diz-se num romance <sup>7</sup>. O amante possessivo pensa que tem direitos exclusivos sobre a pessoa amada: mais ou menos conscientemente, pretende açambarcá-la para si mesmo, coagi-la com a desculpa de um grande afeto. Muitas vezes, especialmente se se trata de uma pessoa sensível ou sentimental, não impõe a sua vontade pela arrogância – por exemplo por meio de cenas de ciúmes –, mas de censuras que parecem bem-intencionadas. Diz, por exemplo: “Como é que me fazes isto a mim, que te amo tanto?”<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------</span><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 78%;">(<span class="MsoEndnoteReference">7</span>) </span><span style="font-family: Verdana; font-size: 78%;" lang="ES-TRAD">Carmen Martín Gaite, <i>Lo raro es vivir</i>, Anagrama, Barcelona, 1996, pág. 89.</span><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">Respeitar a liberdade alheia, não avassalar os outros, é uma arte. No casal ideal – costuma-se dizer –, ninguém manda: os dois obedecem. Este é um dos aspectos mais difíceis de conseguir. Sirva de ilustração esta passagem em que um escritor evoca a relação com a sua defunta esposa: “A nossa obra era uma empresa de dois sócios: um produzia e o outro administrava. Normal, não é verdade? Ela nunca se sentiu postergada por isso; pelo contrário, sempre teve habilidade de sobra para erigir-se em cabeça sem golpes de estado prévios. Declinava da aparência de autoridade, mas sabia exercê-la. Eu podia às vezes dar uma ordem em voz mais alta, mas, em última instância, ela era quem resolvia em cada caso o que convinha fazer ou deixar de fazer. Em todos os casais, existe um elemento ativo e outro passivo, um que executa e outro que se dobra. Eu, embora parecesse outra coisa, dobrava-me ao seu bom critério, aceitava a sua autoridade” <sup>8</sup>.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------</span><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoEndnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 78%;">(<span class="MsoEndnoteReference">8</span>) </span><span style="font-family: Verdana; font-size: 78%;" lang="ES-TRAD">Miguel Delibes, <i>Señora de rojo sobre fondo gris</i>, Destino, Barcelona, 1991, págs. 41-42.</span><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">O risco de que o amor se torne possessivo aumenta em função da sua intensidade. Daí a alta freqüência com que esse desvio se dá entre namorados ou entre mãe e filhos. Tudo o que se possa dizer sobre as virtudes das mães é pouco, mas, se não purificam o seu afeto, tendem a proteger os filhos com a ferocidade exclusivista de uma galinha choca. Em outros casos, esse egoísmo do coração dá lugar ao favoritismo; e não me refiro aqui a essa virtude das boas mães que sabem tratar desigualmente os filhos desiguais, mas à discriminação de alguns pais que beneficiam injustamente um filho preferido. Tanto em um caso como no outro, é um amor imperfeito que denota “uma espécie de autoconfirmação egocêntrica” <sup>9</sup>.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------</span><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 78%;">(<span class="MsoEndnoteReference">9</span>) </span><span style="font-family: Verdana; font-size: 78%;" lang="ES-TRAD">Dietrich von Hildebrand, <i>El corazón</i>, Palabra, Madrid, 1997, pág. 129.</span><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">De algum modo, esse afã possessivo do coração é compreensível. Lewis fala a este respeito da “terrível necessidade de ser necessário” que a afeição experimenta <sup>10</sup>. Esse amor desvirtuado procede do intenso desejo de a pessoa se sentir útil, de ser apreciada para assim ver confirmado o seu valor: se o seu afeto for desdenhado, duvidará de si mesma. Quem pede carinho não procura somente o que este tem de agradável, mas muito mais que se reconheça a sua dignidade como pessoa.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------</span><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoEndnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><span style="font-size: 78%;">(</span><span class="MsoEndnoteReference" style="font-size: 78%;">10</span><span style="font-size: 78%;">) C.S. Lewis, <i>Os quatro amores</i>, trad. de Paulo Salles, Martins Fontes, São Paulo, 2005, pág. 73. A expressão original é <i>“Affection’s need to be needed”</i>.</span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">Para distinguir entre o que há de bom e de mau no coração, convém distinguir entre o <i>coração ferido</i> e o <i>orgulho ferido</i>. Quando uma pessoa muito querida me rejeita, pode acontecer que não me fira somente o coração, mas também o orgulho. Se só ferisse o meu coração, o meu desgosto seria legítimo; não geraria mágoas e, quando muito, far-me-ia chorar em silêncio. Mas o amor-próprio gera ofensa.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br /><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">Há quem não se atreva a mostrar o seu afeto por medo de ser considerado <i>kitsch</i>, mas são mais freqüentes as pessoas que não se atrevem a manifestá-lo por pelo medo de serem repelidas. Preferem a segurança. Talvez sejam pessoas muito corretas e equilibradas, mas não querem aceitar que “amar sempre é ser vulnerável. Ame qualquer coisa, e o seu coração certamente doerá e talvez se parta. Se quiser ter a certeza de mantê-lo intacto, não deve entregá-lo a ninguém, nem mesmo a um animal. [...] Evite qualquer envolvimento, guarde-o em segurança no esquife do seu egoísmo. Mas nesse esquife – seguro, sombrio, sem movimento, sem ar –, ele vai mudar. Não se partirá; tornar-se-á indestrutível, impenetrável, irredimível” <sup>11</sup>.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------</span><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><span style="font-size: 78%;">(</span><span class="MsoEndnoteReference" style="font-size: 78%;">11</span><span style="font-size: 78%;">) C.S. Lewis, <i>Os quatro amores</i>, pág. 168.</span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">Não há dúvida de que o afeto dificulta o desprendimento, mas sem o calor do carinho a vida torna-se desumana. No mundo do trabalho, por exemplo, a frieza de coração leva a descurar o fator humano, a dar mais importância às <i>coisas</i> – aos planos, às regras, ao rendimento –, do que às <i>pessoas</i>. Essa falta de humanidade também rouba autenticidade às relações familiares e sociais: sem afeto, a urbanidade degenera em formalismo. A cortesia e as boas maneiras só despertam agradecimento na medida em que são uma expressão sincera de afeto.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br /><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">A paixão afetiva, enquanto tal, não é boa nem má. O coração é uma grande ajuda, mas, para que não nos atraiçoe, precisa de um corretivo espiritual. Em vez de <i>reduzir</i> o coração para evitar possíveis inconvenientes, é preciso <i>purificá-lo</i>, tirando-lhe a tendência para o afã possessivo. O lema poderia ser este: “sempre com o coração, mas nunca só com o coração!”</span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br /><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">Trata-se, pois, de amar com um afeto ao mesmo tempo <i>intenso</i> e <i>desprendido</i>. Por um lado, o afeto dá asas à vontade e a leva ao sacrifício generoso; por outro, a consciência da própria dignidade liberta o coração do seu afã possessivo.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><i><span style="font-family: Verdana;"><span style="font-weight: bold;"><br /></span></span></i></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><i><span style="font-family: Verdana;"><span style="font-weight: bold;"><br /></span></span></i></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><i><span style="font-family: Verdana;"><span style="font-weight: bold;">Sensíveis e fortes</span><o:p></o:p></span></i></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">O homem ideal é ao mesmo tempo terno e desprendido. Não é fácil conjugar esses dois aspectos. Na prática, a maioria das pessoas tem uma dessas qualidades à custa da outra. O mundo está cheio de pessoas afetuosas, mas excessivamente dependentes, ou independentes, mas pouco afetuosas.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">Uma vez mais, só os santos conseguem conciliar os dois elementos. Só eles conseguem aumentar a sua capacidade afetiva e ao mesmo tempo dobrar o apegamento egoísmo egoísta e possessivo que envenena a afetividade. Só os que se parecem com Jesus Cristo conseguem conjugar o afeto mais intenso com o mais delicado respeito pela liberdade alheia. “Num homem cujo centro de resposta aos valores e ao amor superou vitoriosamente o orgulho e a concupiscência, a afetividade nunca será excessiva. Quanto maior e mais profunda for a capacidade afetiva, melhor” <sup>12</sup>.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------</span><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><span style="font-size: 78%;">(</span><span class="MsoEndnoteReference" style="font-size: 78%;">12</span><span style="font-size: 78%;">) Dietrich von Hildebrand, <i>El corazón</i>, pág. 111.</span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">Não sabendo como desenvolver um afeto intenso, mas isento de afã possessivo, uns são desprendidos, mas silenciam o coração; outros têm um grande coração, mas desrespeitam a liberdade alheia. Os primeiros tornam-se insensíveis e mostram-se indiferentes, ao passo que os segundos se tornam possessivos e se mostram susceptíveis. Os primeiros, por medo, atrofiam o coração; os segundos, pelo medo de perder a auto-estima, servem-se da chantagem afetiva para açambarcar aqueles que amam.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br /><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">À vista do afã possessivo e da dependência que o afeto gera, não é de estranhar que alguns desconfiem sistematicamente do coração. Essas pessoas asfixiam-se por causa de necessidades afetivas insatisfeitas ou do afã possessivo alheio, e preferem resguardar-se. Como não conhecem uma solução, optam por reduzir o coração.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br /><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">Mas a solução não consiste em abafar a afetividade. Se o coração se atrofia, perde-se uma grande fonte de energia. Na ausência de afeto, força-se a vontade, como se a perfeição moral estivesse reservada apenas aos que são capazes de realizar titânicos esforços de vontade. Aqui está um dos fatores que levam ao <i>voluntarismo</i>. O voluntarista põe tal acento na vontade que tende a menosprezar qualquer outro gênero de recursos, como são o coração, a inteligência e a graça. E, além disso, debate-se com um problema de falta de retidão de intenção: com freqüência, como a inspiração – e a fonte de energia – do voluntarista não mergulha as suas raízes no amor, acaba por fazê-lo no amor-próprio.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">É evidente que, sem esforço, é impossível a luta cristã pela santidade. Mas trata-se de um heroísmo prazeroso. Todos os santos viveram as virtudes em grau heróico, mas sabem que a santidade, como perfeição de amor, não é o mesmo que a heroicidade. Todos os santos são heróicos, mas nem todos os heróis são santos. Tanto o santo como o herói realizam proezas, mas a motivação do herói não está isenta de certa vaidade.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">O santo, porém, cônscio da sua dignidade de filho de Deus, purifica o amor-próprio e faz-se assim capaz de sacrificar-se desinteressadamente por Deus e pelos outros. Sabe que “Jesus não olha tanto para a grandeza das obras, nem mesmo para o seu grau de dificuldade, como para o amor com que se fazem” <sup>13</sup>. Não precisa fazer obras boas para estar em paz consigo mesmo, já que o amor que recebe de Deus o reconcilia consigo mesmo. Como veremos mais adiante, intui que Jesus precisa de Cireneus – co-redentores que aliviem os seus padecimentos redentores – e, por isso, qualquer sacrifício, mesmo heróico, lhe parece pequeno, contanto que proporcione alegrias ao seu Senhor.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------</span><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><span style="font-size: 78%;">(</span><span class="MsoEndnoteReference" style="font-size: 78%;">13</span><span style="font-size: 78%;">) Santa Teresa de Lisieux, em José Pedro Manglano, <i>Orar con Teresa de Lisieux</i>, pág. 67.</span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><i><span style="font-family: Verdana;"><span style="font-weight: bold;"><br /></span></span></i></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><i><span style="font-family: Verdana;"><span style="font-weight: bold;"><br /></span></span></i></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><i><span style="font-family: Verdana;"><span style="font-weight: bold;">Conjugar dependência e independência</span></span></i></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br /><span style="font-size: 100%;"><i><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></i></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">O coração é, pois, o motor; mas, como afirma Edith Stein, “o amor, para alcançar a sua perfeição, exige o dom recíproco das pessoas” <sup>14</sup> que é obra da vontade. Sem essa entrega mútua, tudo fica a meio do caminho. A união de amor pressupõe que ambas as pessoas sejam capazes de dar e de receber: a arte de amar não consiste somente na <i>generosidade à hora de dar</i>, mas também na <i>humildade à hora de receber</i>. Se alguém sabe dar, mas não sabe receber, o outro não pode dar.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------</span><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 78%;">(<span class="MsoEndnoteReference">14</span>)</span><span style="font-family: Verdana; font-size: 78%;" lang="ES-TRAD"> Edith Stein, <i>Las más bellas páginas de Edith Stein</i>, Monte Carmelo, Burgos, 1998, pág. 32.</span><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">Por outro lado, dar pode ser uma manifestação de auto-suficiência, e neste caso bloqueia a relação de amor. Com efeito, há pessoas que são serviçais, mas são-no por uma turva vontade de sentir-se superiores. Enquanto podem dar, vêem-se a si mesmas sob uma perspectiva lisonjeira. Têm necessidade de fazer favores para sentir-se importantes. Esse “egoísmo da doação” faz pensar no que dizia ironicamente Chateaubriand do seu amigo Joubert: “É um perfeito egoísta, porque só se ocupa dos outros...” <sup>15</sup>.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------</span><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 78%;">(<span class="MsoEndnoteReference">15</span>)</span><span style="font-family: Verdana; font-size: 78%;" lang="ES-TRAD"> Citado em Carlos Pujol, <i>Siete escritores conversos</i>, Palabra, Madrid, 1994, pág. 31.</span><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">Se o homem auto-suficiente sabe <i>dar</i>, não sabe <i>dar-se</i>. Parece ignorar que “o modo mais radical de dar é dar-se a si mesmo: possuir-se para dar-se à pessoa que nos o ama” <sup>16</sup>. Porque o amor é entrega recíproca e livre <i>do mais íntimo</i> entre um <i>eu</i> e um <i>tu</i>. Uma das melhores definições que encontrei do amor verdadeiro exprime-o claramente: “Amar significa dar e receber o que não se pode comprar nem vender, mas apenas oferecer livre e reciprocamente” <sup>17</sup>.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br /><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------</span><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoEndnoteText" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><span style="font-size: 78%;"><span style="font-family: Verdana;">(<span class="MsoEndnoteReference">16</span>)</span><span style="font-family: Verdana;"> </span><span style="font-family: Verdana;">Ricardo Yepes Stork e Javier Aranguren Echevarria</span><span style="font-family: Verdana;" lang="ES-TRAD">, </span><span class="nome"><i><span style="font-family: Verdana;">Fundamentos de Antropologia: um ideal de excelência humana</span></i></span><span style="font-family: Verdana;" lang="ES-TRAD">, </span><span style="font-family: Verdana;">Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lúlio</span><span style="font-family: Verdana;" lang="ES-TRAD">, São Paulo, 2005, pág. 200.</span><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><span style="font-size: 78%;">(</span><span class="MsoEndnoteReference" style="font-size: 78%;">17</span><span style="font-size: 78%;">) João Paulo II, <i>Carta às famílias</i>, 02.02.1994, n. 11.</span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">Portanto, o amor ideal dá-se entre <i>pessoas independentes dispostas a fazer-se dependentes</i>. Por exemplo, os esposos poderiam dizer um ao outro: “Num certo sentido, prescindo do que você pense de mim; mas, em outro sentido, morro de vontade de fazer você feliz”. À hora de amar, a pessoa ideal é dona de si mesma; não se deixa subjugar, mas ao mesmo tempo é capaz de entregar a sua liberdade, é capaz de contrair vínculos amorosos com plena liberdade interior. Amar é “não se pertencer, estar submetido venturosa e livremente, com a alma e o coração, a uma vontade alheia... e ao mesmo tempo própria” <sup>18</sup>. Se aquele que ama não é soberano e senhor de si mesmo – quer dizer, se não tem liberdade interior –, entrega-se de modo servil, o que, afinal, não o satisfaz nem satisfaz a pessoa amada.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br /><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------</span><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><span style="font-size: 78%;">(</span><span class="MsoEndnoteReference" style="font-size: 78%;">18</span><span style="font-size: 78%;">) São Josemaria Escrivá, <i>Sulco</i>, 2ª. ed., Quadrante, São Paulo, 2005, n. 797.</span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">À medida que nos aperfeiçoamos, adquirimos essa liberdade interior que nos permite conjugar um grande sentido de independência com uma grande dependência das pessoas que amamos. Na personalidade ideal, conjugam-se elementos que à primeira vista parecem contraditórios: a pessoa tem a bondade de dizer que sim, embora tenha suficiente personalidade para dizer que não; consegue ser simultaneamente sensível e forte, dependente por causa dos laços criados pelo amor e independente graças ao orgulho santo de quem se sabe filho de Deus.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br /><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">Instintivamente, essas pessoas realmente maduras atraem-nos. Causam-nos admiração justamente por serem ao mesmo tempo sensíveis e fortes. Num romance, uma personagem feminina afirma que, para amar um homem, tem necessidade de “vê-lo simultaneamente mais forte e mais fraco do que eu” <sup>19</sup>. Com efeito, quando alguém assume a sua fraqueza, reconhece que precisa ser amado – mostra-se fraco –, e a fortaleza que recebe do outro proporciona-lhe uma segurança que o torna forte. Mas, se não a assume, por mais forte que seja, não se deixa amar, e assim acaba por se fazer fraco.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------</span><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 78%;">(<span class="MsoEndnoteReference">19</span>)</span><span style="font-family: Verdana; font-size: 78%;"> </span><span style="font-family: Verdana;"><span style="font-size: 78%;">André Maurois, <i>El instinto de la felicidad</i>, Planeta, Barcelona, 2001, pág. 93.</span><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">Bem se vê que não é fácil adquirir a personalidade ideal. É necessário evitar tanto as falsas dependências à custa da legítima independência, como as falsas independências à custa da legítima dependência. Uma falsa dependência denota servilismo: vemo-lo nessas pessoas inseguras que se mostram incapazes de dizer que não por medo de desagradar aos outros. E a falsa independência está aparentada com a auto-suficiência: vemo-lo nessas pessoas arrogantes que prescindem dos outros. A dependência servil adoece de falta de liberdade interior e o desejo de preservar a autonomia própria denota uma idéia errada de liberdade.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br /><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">Na prática, é difícil evitar tanto a auto-suficiência como a vaidade. Só os santos o conseguem; experimentam o que diz São Paulo: <i>Sendo livre de todos, fiz-me servo de todos</i> (1 Cor 9, 19). Quanto a nós, mesmo que não consigamos atingir plenamente essa atitude, devemos no entanto mantê-la sempre diante dos olhos, como um norte para os nossos esforços. Por isso, examinemos agora como a verdadeira independência traz consigo liberdade interior e esta, por sua vez, mergulha as suas raízes na humilde consciência da própria dignidade.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify; font-weight: bold;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><i><span style="font-family: Verdana;"><span style="font-weight: bold;"><br /></span></span></i></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><i><span style="font-family: Verdana;"><span style="font-weight: bold;"><br /></span></span></i></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><i><span style="font-family: Verdana;"><span style="font-weight: bold;">Liberdade interior e humildade</span><o:p></o:p></span></i></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">Falamos atrás de liberdade interior, da importância de sermos donos de nós mesmos e capazes de entregar a nossa liberdade por amor. No fundo, a liberdade não é tanto um <i>âmbito</i> como uma <i>capacidade</i> de autodeterminação. Não sou livre apenas porque ninguém me obriga, mas sobretudo porque sou capaz de fazer as coisas porque quero: não é somente ausência de coação externa, mas também de uma certa coação interna pelo medo ou pela insegurança.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">Uns, por falta de bondade, não sabem dizer que “sim”, ao passo que outros, por falta de personalidade, não sabem dizer que “não”. A pessoa ideal, porque sabe ser sempre ela mesma, é capaz de dizer tanto “sim” quanto “não”, conforme lhe pareça mais correto: sente-se livre por dentro mesmo quando as pessoas ou as circunstâncias a coagem por fora. Não é que faça sempre <i>o que quer</i> espontaneamente, mas faz o bem <i>porque quer</i>.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">Liberdade é a capacidade de autodeterminação para ao bem, não por uma obrigação imperiosa, mas por amor. A pessoa verdadeiramente livre não se guia por um obsessivo sentido do dever – entendido erradamente como uma espécie de coação auto-imposta (“<i>preciso</i> fazer isto”, “<i>tenho de </i>fazer aquilo”) –, mas pela interiorização da virtude. Ao obedecer, por exemplo, não se submete apenas externamente, mas também de coração, porque o seu amor a leva a identificar a sua vontade com o mandato; a sua obediência, longe de ser servil, denota autodomínio.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">Liberdade e necessidade nem sempre são realidades opostas: “É bem possível que a necessidade não seja o contrário da liberdade” – diz Lewis –, “e talvez o homem seja mais livre quando, em vez de ao invés de produzir motivos para a sua decisão, só é capaz de dizer: «Sou o que faço»” <sup>20</sup>.<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------</span><span style=""><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana; font-size: 78%;">(<span class="MsoEndnoteReference">20</span>)</span><span style="font-family: Verdana; font-size: 78%;"> </span><span style="font-family: Verdana; font-size: 78%;" lang="EN-US">C.S. Lewis, <i>Surprised by joy</i>, 28 ed., Harper Collins, 1977, pág.179</span><span style="font-family: Verdana; font-size: 78%;" lang="ES-TRAD">.</span><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">-------------------------------------<o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><br /></span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">Esta liberdade interior é objeto de uma árdua conquista espiritual. Só pessoas generosas e verdadeiramente maduras contraem vínculos amorosos com plena liberdade interior. Para isso, não bastam as boas intenções; é necessária, além de bondade, uma boa dose de humilde consciência da própria dignidade. A liberdade interior pressupõe a maturidade característica de quem tem uma boa relação consigo mesmo. Somos capazes de entregar-nos livremente aos outros na medida em que somos donos de nós mesmos. Portanto, uma baixa auto-estima põe em perigo a qualidade do nosso amor.</span></span></p><p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><br /><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p></o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;"><o:p> </o:p></span></span></p> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: justify;"><span style="font-size: 100%;"><span style="font-family: Verdana;">Como veremos, só consegue a plena liberdade interior e maturidade espiritual e, em conseqüência, a liberdade interior quem se vê a si mesmo através dos olhos de Deus. Só quem se abandona nas mãos de Deus é que se sente realmente livre em face dos outros: permite-lhes julgá-lo como quiserem. Quem aprende a julgar-se a si mesmo como Deus o julga não tem necessidade de depender da opinião alheia: não perde a confiança em si mesmo, não tem medo de não atingir a “pontuação necessária” nem está ansioso por avaliar-se a cada instante.</span></span></p><span style="font-size: 100%;"> </span><br /><b><strong>Michel Esparza</strong></b><br /> <strong>Filósofo e teólogo. Autor de numerosos artigos, publicou também o livro El pensamiento de Edith Stein (EUNSA). Sacerdote, exerce atualmente o seu trabalho pastoral entre jovens estudantes de Bilbao (Espanha).</strong><br /><br />Fonte: http://www.quadrante.com.br/Christiane Foricnitohttp://www.blogger.com/profile/15701277770166618026noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-82337747968232777.post-40651432320713702982010-01-19T04:33:00.000-08:002010-01-19T04:34:56.209-08:00Como é uma personalidade imatura?<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsYjFlMY7M2M4ul5_mpNYXhzIOpZcpmxlCBVf83NJ8TwUZeeyHI5cYioCB2uOptjzD51-3IvQPchP7qUWUfpzZ9A8zkdBsO7rHoyB9tfqHDvjidZCRaywG_i8gBYuVCT_Hjm3W3KzbMsZQ/s1600-h/MagritteHomemMacaCara.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 220px; height: 270px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsYjFlMY7M2M4ul5_mpNYXhzIOpZcpmxlCBVf83NJ8TwUZeeyHI5cYioCB2uOptjzD51-3IvQPchP7qUWUfpzZ9A8zkdBsO7rHoyB9tfqHDvjidZCRaywG_i8gBYuVCT_Hjm3W3KzbMsZQ/s400/MagritteHomemMacaCara.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5411107886297222482" border="0" /></a><br /><strong><br /></strong><strong>Por Enrique Rojas<br /><br /></strong><div style="text-align: justify;"><span style="font-style: italic;">Será que sou uma pessoa imatura? O autor, renomado psiquiatra espanhol, oferece aqui dez pontos bastante claros que possibilitam um auto-exame preciso.</span><br /><br /></div><table style="text-align: left; margin-left: 0px; margin-right: 0px;" width="566" border="0" cellpadding="0" cellspacing="0"><tbody><tr><td colspan="2" valign="top" align="left"><p align="justify"><span style="font-size: 85%;">A personalidade é a soma dos padrões de conduta reais e potenciais e é determinada por três fatores: a herança (o nosso patrimônio genético, aquilo que herdamos os nossos pais), o ambiento (aquilo que nos cerca) e a experiência de via (a biografia de cada um). A personalidade é a marca própria e específica de cada um. O cartão de visita. Noutras palavras, a personalidade é uma organização dinâmica, em movimento, em que confluem s aspectos físicos, psicológicos, sociais e culturais de um indivíduo. Nós, psiquiatras, dedicamo-nos à engenharia do comportamento. Somos escavadores das superfícies psicológicas, procuramos aprofundar na mecânica interna do comportamento, para corrigi-lo, melhorá-lo, torná-lo mais equilibrado.<br /><br />A pessoa imatura é uma pessoa a meio caminho, com uma psicologia incipiente, incompleta, que no está bem acabada e que tem muitos pontos negativos, mas que pode mudar, melhorar e tornar-se mais sólida, com a ajuda de um psiquiatra ou de um psicólogo.<br /><br />Tentarei sistematizar os ingredientes principais da imaturidade, para que o leitor possa adentrar num tema tão complexo.<br /><br /><b>1. Defasagem entre a idade cronológica e a idade mental. </b>É uma das manifestações que mais chama a atenção logo de cara. Não esqueçamos que há pessoas que amadurecem cedo e outras que levam mais tempo, e isso pode interferir um pouco na observação.<br /><br /><b>2. Desconhecimento de si próprio. </b>Conhecer-se a si próprio era uma das normas do herói grego. No templo dedicado ao deus Apolo, em Delfos, havia a inscrição: <i>Gnothi Seauton</i>, “conhece-te a ti mesmo”. Trata-se de ter claro que aquilo que devemos estudar com mais afinco somos nós mesmos, temos de saber quais são as nossas limitações e as nossas atitudes. O conhecimento dessas realidades é como que a carta de navegação que nos ajuda a guiar-nos para uma vida adequada.<br /><br /><b>3. Instabilidade emocional. </b>A instabilidade emocional manifesta-se em mudanças do estado de ânimo: o sujeito passa da euforia à melancolia de um dia para outro ou mesmo dentro de um mesmo dia. É preciso distinguir essa variação dos chamados transtornos bipolares. O imaturo é desigual, variável, irregular, os seus sentimentos movem-se e balançam como um pêndulo, de maneira que ninguém nunca sabe o que esperar dele. Essa fragilidade é um traço bem característico da imaturidade. O seu estado de ânimo pode ser representado pelos dentes de uma serra, uma espécie de montanha russa cheia de oscilações.<br /><br /><b>4. Pouca ou nenhuma responsabilidade. </b>A imaturidade tem níveis, como qualquer outro fato psicológico. A palavra “responsabilidade” vem do latim respondere, que significa “responder”, “prometer”, “satisfazer”. Estar na realidade é ter consciência das próprias circunstâncias imediatas – o <i>hoje</i> e o <i>agora</i> –, que são inescapáveis e que ninguém pode menosprezar.<br /><br /><b>5. Pouca ou nenhuma percepção da realidade. </b>A captação incorreta de si próprio e das circunstâncias leva o sujeito a ter um comportamento inadequado nas suas relações intrapessoais (desarmonia consigo próprio) e interpessoais (não sabe lidar com os outros, não sabe guardar distâncias e proximidades).<br /><br /><b>6. Ausência de um projeto de vida. </b>A vida não pode ser improvisada. É preciso uma certa organização, um esquema que planeje o futuro. E os três grandes temas do nosso projeto de vida devem ser: o amor, o trabalho e a cultura. E o sujeito imaturo não assume seriamente nenhum dos três. Não se vive sem amor; o amor deve ser o primeiro motor da vida, que impulsiona e dá força aos outros dois. Do nosso comprometimento com esses três grandes temas, brota a felicidade, suma e compêndio de uma vida coerente.<br /><br /><strong>7. Falta de maturidade afetiva.</strong> É preciso compreender o que é o amor e vê-lo como a vértebra da nossa vida sentimental. É o amor que dá sentido à vida. Mas não há amor sem renúncias. Além disso, é preciso ter a consciência de que ninguém é absoluto para o outro. Não há amor eterno; ele só existe nos filmes, nas canções da moda e na cabeça das pessoas imaturas. O que, sim, existe é o amor trabalhado a cada dia. Amar não significa ter sentimentos doces, mas voltar-se juntamente com o outro para as pequenas realidades cotidianas. No meu livro <i>¿Quién eres?</i> (“Quem é você?”), descrevo a maturidade afetiva como uma dimensão à parte, com características próprias e específicas. Só gostaria de sublinhar uma coisa: como é fácil apaixonar-se e como é difícil manter-se apaixonado! Assistimos hoje uma verdadeira socialização da imaturidade afetiva.<br /><br /><strong>8. Falta de maturidade intelectual.</strong> A inteligência, assim como a afetividade, é outra das grandes ferramentas da psicologia. Há muitas formas de inteligência: teórica, prática, social, analítica, sintética, discursiva, matemática, analógica, intuitiva e reflexiva... Mas façamos uma idéia clara: uma pessoa é inteligente quando sabe focar um tema, fazer raciocínios e juízos adequados sobre a realidade, quando é capaz de formular um conjunto de soluções exeqüíveis e positivas para problemas concretos. Na linguagem mais moderna da psicologia cognitiva: inteligência é saber receber a informação a informação, codificá-la e ordená-la de corretamente a fim de oferecer respostas válidas, coerentes e eficazes. Nesse campo, as manifestações de imaturidade são ricas e variadas: falta de visão e planejamento do futuro; hipertrofia do presente e exaltação do instante; falta de justiça nas análises pessoais e gerais; sérias dificuldades para racionalizar os fatos e aplicar-lhes um certo espírito cartesiano. A vida é como um viagem e por isso é importante saber aonde se quer chegar.<br /><br /><strong>9. Pouca educação da vontade.</strong> A vontade é uma una joia que enfeita a personalidade do homem maduro. Se é frágil e não foi temperada pro uma luta constante, transforma o sujeito em um tipo débil, mole, volúvel, caprichoso, incapaz de propor-se objetivos concretos, já que tudo se desfaz com o primeiro estímulo que vem de fora e o faz abandonar a tarefa que levava a cabo. É a imagem do menino mimado, que é digna de pena: levado, arrastado e tiranizado por aquilo que é mais gostoso, aquilo que o corpo pede no momento. Não sabe dizer “não”, fazer renúncias. Um menino estragado, paparicado, malcriado, que se dobra diante de qualquer exigência séria, que nunca superará as suas próprias possibilidades. Um ser que aprendeu a não se vencer, mas a seguir os seus impulsos imediatos. Por essa via, tornou-se um sujeito volúvel, inconstante, leviano, superficial, frívolo, que se entusiasma facilmente com algo para abandoná-lo logo que as coisas ficam minimamente difíceis.<br /><br />E isso acarreta outras conseqüências. O sujeito apresenta baixa tolerância às frustrações, é um mal perdedor, pois tem pouca capacidade de superar as adversidades uma vez que não está acostumado a vencer-se em quase nada; e há também uma tendência a refugiar-se num mundo fantástico a fim de escapar da realidade.<br /><br /><strong>10. Critérios morais e éticos instáveis.</strong> A moral é a arte de viver com dignidade, de usar corretamente a liberdade, de conhecer e pôr em prática aquilo que é bom. Na pessoa imatura tudo está preso por alfinetes que se soltam facilmente. A moda, a permissividade, o relativismo pautam a sua vida. Ele segue os vaivens das novidades sem nenhum espírito crítico.<br /><br />A maturidade é uma das pontes levadiças que conduz à fortaleza da felicidade e é resultado de um trabalho sério e paciente de perder e agregar, de polir, de limar, de procurar que a nossa forma de ser seja como uma pedra dessas que vemos nos rios que quase não têm arestas.</span></p><p align="justify"><span style="font-size: 85%;"><br /></span></p> </td> </tr> <tr> <td colspan="2" height="18"><br /></td> </tr> <tr> <td colspan="2" height="18"><a href="http://www.quadrante.com.br/Pages/servicos02.asp?id=378&categoria=Valores_Virtudes#" onclick="MM_openBrWindow('servicos_envie.asp?id=378&categoria=Valores_Virtudes','servico_envie','scrollbars=yes,width=610,height=390')"><br /></a></td> </tr> <tr> <td colspan="2" class="linebottom990000" valign="top" align="center"><br /></td> </tr> <tr> <td colspan="2" height="10"><br /></td> </tr> <tr> <td colspan="2"><b><strong>Enrique Rojas</strong></b><br /> <strong>Psiquiatra espanhol especializado em temas como ansiedade e depressão. Recebeu prêmios na Espanha e no estrangeiro e os seus muitos livros são conhecidos em diversos países. Algumas das suas obras estão traduzidas para o português, entre elas: “O homem light”, “A ansiedade” e “Remédios para o desamor”.</strong></td> </tr> <tr> <td colspan="2" height="10"><br /></td> </tr> <tr> <td colspan="2" class="linetop990000" height="18"><br /></td> </tr> <tr> <td colspan="2"><strong>Fonte:</strong> Interrogantes.net<br /> <strong>Link:</strong> <a href="http://www.interrogantes.net/" target="_blank">http://www.interrogantes.net</a><br /> <strong>Tradução:</strong> Quadrante</td></tr></tbody></table>Christiane Foricnitohttp://www.blogger.com/profile/15701277770166618026noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-82337747968232777.post-60251505216791546212010-01-16T13:12:00.000-08:002010-01-16T13:26:21.255-08:00Reflexões sobre o Tao do Caminho: Heidegger e o Pensamento Oriental (1999)<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoqWy0K5fjDc_dNzB5kE1ivc1fbvKZ5VkYjMaFPKLxPFcjDmlwSYvX72Q8dJxMj-63qfHjP1NYWLEYwc5q3dqPKs0NUcASsv8THjS75m9lyNone0qx40X9oxnAlPbYj3TxCXfef0IpICk/s1600-h/heidegger.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 319px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoqWy0K5fjDc_dNzB5kE1ivc1fbvKZ5VkYjMaFPKLxPFcjDmlwSYvX72Q8dJxMj-63qfHjP1NYWLEYwc5q3dqPKs0NUcASsv8THjS75m9lyNone0qx40X9oxnAlPbYj3TxCXfef0IpICk/s320/heidegger.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5427451415815851106" border="0" /></a><br /><br /><br />Por André Stangl<br /><p>Introdução</p> <p style="text-align: justify;">O filósofo alemão Martin Heidegger (1889-1976) percorreu um longo caminho até que sua filosofia amadurecesse e desse frutos. Boa parte da Filosofia dita ‘Pós-Moderna’, de Derrida, Foucault, Rorty a Latour, cada um a seu modo, é parte deste fruto. Mas não é o caroço. É interessante observar que após a intensificação do processo de mundialização, a Filosofia não ficou imune, seja por sua parente próxima a Antropologia, que lhe trouxe novos sabores, seja pela sua irmã a Arte, que lhe impregna de diferentes cores. Heidegger trouxe em sua filosofia um renascimento, a redescoberta do mesmo, passado e presente se re-encontram, Oriente e Ocidente se reconhecem. Claro que esta mútua compreensão passa também ela por um amadurecimento e, mesmo assim, ainda estamos longe de uma indiferenciação. Talvez esta só seja possível com o fim de uma perspectiva unilateral, “a apatridade que assim deve ser pensada reside no abandono ontológico do ente” (HEIDEGGER, Sobre o “Humanismo”, 1973:360). Portanto, deste processo só conseguiremos ter a visão dos que permanecem, sob a condição de ‘ocidentais’, ou seja, não nos adianta a tentativa de substituição de um pólo por outro, de uma pátria por outra. Mas enquanto pertencente a uma comunidade buscar no diálogo o mútuo reconhecimento da mesma essência entre identidades diferentes.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">“Nós praticamente ainda não começamos a pensar as misteriosas relações com o Oriente, que assomaram à palavra na poesia de Hölderlin” (Ibid., 1973:359-60).</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Heidegger foi ao limite, sua filosofia está sobre a linha divisória entre Ocidente e Oriente, talvez sua mensagem possa contribuir para reunir esse todo, fragmentado e desunido, que é a humanidade de hoje. Uma possível analogia para a palavra chinesa Tao é com a idéia de Caminho, assim como Logos, Tao é intraduzível, sendo por isso chamada de palavra-guia; Heidegger parece falar do Tao quando fala do Caminho do Campo. É esta relação, que aqui nos propomos meditar, sem esquecer da ‘identidade’ que é própria a cada um, buscaremos o elo que se oculta por trás desta diferenciação. Para Heidegger o que chamamos Filosofia no Ocidente é algo muito distinto e próprio do Pensamento ocidental. No Oriente não existiu Filosofia, mas existiu Pensamento. O Oriente é uma criação do homem ocidental, com fins imperialistas. Vasto é o que chamamos de Pensamento Oriental, por isso nos concentraremos na raiz comum do pensamento originário do Zen que remete ao pensamento originário do Tao, um é chinês, o outro é japonês. Segundo consta, no Japão iletrado entrou o ideograma chinês que lá foi transformado e frutificou. Assim, na raiz comum do Zen e do Tao está o I Ching, livro oracular que serviu de base ao florescimento do pensamento chinês e da escrita.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">02. A Identidade do ser</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">No Ocidente a identidade sempre esteve associada ao ente, não se pensa em entidade sem identidade, o ser chegou a ser pensado como um traço da própria identidade. Desde a Antiguidade que se matura a relação do mesmo consigo mesmo, mas a mediação implícita ao Princípio da Identidade só retomou o dinamismo, mais tarde, com o Idealismo especulativo que inverte esta relação, pensando a identidade como um traço do ser. A mesmidade de pensar e ser que Heidegger desenvolveu em sua conferência o “O Princípio da Identidade” (1957), está no sentido do mesmo na mediação da identidade. O Princípio da Identidade fala do Sendo, então enquanto princípio do pensamento, já que pensar e ser são o mesmo, a identidade não pode ser limitada a uma representação abstrata tipo A=A. A Identidade é ontológica, é unidade e totalidade como o Sendo.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">“A questão do sentido deste mesmo é a questão da essência da identidade. A doutrina metafísica apresenta a identidade como um traço fundamental do ser. Mas agora se mostra: ser com o pensar faz parte de uma identidade, cuja essência brota daquele comum-pertencer que designamos Ereignis. A essência da identidade é uma propriedade do Ereignis” (Idem, O Princípio da Identidade, 1989:146).</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">O trabalho inicial de Heidegger era uma polêmica com Descartes e Kant, tentando reverter a idéia que os dois faziam do que é o ser e as confusões criadas pelas imagens cartesianas e kantianas. O ser é um ente, e isto se dá a partir da compreensão do próprio ser como Sendo. Esta compreensão vem da presença do ser-no-mundo; é a partir desse ser-no-mundo que se abrem as possibilidades de ser no tempo e é mediante essa cotidianidade que o ser se re-vela.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">O Sendo é a própria essência do ser, enquanto que o ser-no-mundo é a sua contingência, a identidade está na singularidade do próprio ser. O ser possuído pelo Sendo é capaz de compreender os outros entes como uma totalidade, porém, é através dos outros entes que o ser se vela enquanto ente. É a própria existência que vela o ser, o mundo é uma constituição necessária, mas não determina o ser. É na mundaneidade que o ser enquanto identidade confronta-se com a alteridade de outro ser. Desta divergência converge a unidade do Sendo que é o ser do ente. Todo ser é, assim, sempre alteridade, mesmo que seja na solidão ou no isolamento, pois a pre-sença é sempre compartilhada e estar no mundo é viver em con-vivência.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">03. A Linguagem do ser</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Para Heidegger, na linguagem de-mora o ser. O Sendo só pode se re-velar através da linguagem, se o pensamos ele ‘é’, pois o pensar aproxima o ser da Clareira (onde sua pre-sença contrapõe-se ao ente). A imagem de uma floresta assemelha-se à existência humana, vários são os caminhos possíveis para se chegar a uma Clareira.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Os gregos falavam do ser com o ser e para o ser, pelo menos até racionalizarem o falar, associando a alétheia à retidão argumentativa da lógica; a alétheia originalmente recolhia a verdade transcendente do Sendo. A lógica prende a verdade ao ente e fala do ente como se do Sendo falasse.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">A contemporaneidade enxerga a tudo com os olhos da técnica, o efeito conta mais que o sentido, há uma primazia da razão sobre o ser, que aliena o homem de seu sentido, “esta relação (o pertencer originário da palavra ao ser) permanece oculta sob o domínio da subjetividade que se apresenta como opinião pública” (Idem, Sobre o “Humanismo”, 1973:349). A sociedade domina o significado possível de um termo e conduz seu uso a um fim específico, destruindo, assim, a essencialidade ontológica da língua. Os gregos nem ‘filosofia’ usavam para designar o pensar, a dimensão do agir ultrapassa as concepções de um tempo sobre si mesmo, as palavras quando perdem seu poder de ser, tornam-se técnicas, correspondem ao instituído (dicionários, gramáticas), não trazem mais ao homem a alteridade instauradora do real.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">A consciência advém do fato da língua permitir identificar o ser como ente ‘ec-sistente’ (ser revelado) e dependente da linguagem. Mas o que entendemos como linguagem não nos leva ao ser, no máximo indica-nos o Caminho da Clareira. “A libertação da linguagem dos grilhões da Gramática e a abertura de um espaço essencial mais originário está reservado como tarefa para o pensar e poetizar”(Ibid., 1973:347), nossa relação com a linguagem deve ultra-subjetivar-se (ir além do sujeito), nada deve comandar a linguagem, pois na Clareira impera o inefável, ante o qual nossa língua e nossa identidade nada são.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Da relação entre o poetar e o pensar, ressurge a atenção com a linguagem que hospeda o Sendo. Quando Parmênides, em seu poema nos deixou a mesmidade do pensar e ser, o elo entre poetar e pensar ainda não havia sido esquecido. O pensamento ainda correspondia ao Sendo, a linguagem que velava re-velava e o mistério, ainda, era aceito no apelo da poesia e do pensamento.<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3sUEaAHrlM3m0LgSrNc_8AREOWb5GE4MXFGJ9yK70WPBVSevdW8w11JUV_4BU7wJ6Q6aZO4hvSpzzNFswaf25cD1nIdNtL3k1n6UF5QzI6vEX_oPmpJ-_bDeN0by-6YA-cnLVVJuVuvQ/s1600-h/tao.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 320px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3sUEaAHrlM3m0LgSrNc_8AREOWb5GE4MXFGJ9yK70WPBVSevdW8w11JUV_4BU7wJ6Q6aZO4hvSpzzNFswaf25cD1nIdNtL3k1n6UF5QzI6vEX_oPmpJ-_bDeN0by-6YA-cnLVVJuVuvQ/s320/tao.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5427451840412706194" border="0" /></a></p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">04. O Tao do ser</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Lao Tse (570 a.C.), que segundo reza a tradição, foi um dos iniciadores o Taoismo, nos legou o “Tao Te King” quando aos 80 anos tentava sair da China e ao ser reconhecido pela guarda da fronteira foi intimado a escrever, pois até então se recusara a escrever sobre o Tao. Suas reflexões sobre o Tao, assim como o pensamento de Heidegger, inspiram ao ser o Caminho do re-encontro com o mesmo. O sentido do Tao é a escuta do apelo do ser, o Tao é tão inatingível quanto o Logos e como ele impera.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">“O Tao é como um sonho cintilante. Sumindo, piscando, ele personifica formas e coisas. Parece recuar para longe e turvar-se. Contudo, há em seu âmago uma essência” (Tao Te King, 21).</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Para o pensamento de Heidegger sobre o Sendo foi fundamental o contato com o pensamento de Heráclito sobre o Logos, que é “o recolhimento que torna presente e manifesto tudo que é em sua totalidade enquanto ente. Logos é o nome que Heráclito dá ao Sendo” (HEIDEGGER, Hegel e os Gregos, 1973:408). Tao é um dos nomes que nomeia o Sendo no Oriente. O Tao é um Caminho que nos leva de volta sem sair, um espanto demorado que se renova, um movimento que precisa do crescimento e não do deslocamento e um crescimento que precisa do mesmo e não do novo.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Antes de alguém estudar o Zen, as montanhas são para ele montanhas e as águas são águas. Quando, porém, conseguir uma percepção da verdade do Zen, mediante as instruções ministradas por um bom mestre, as montanhas não são para ele mais montanhas, nem as águas são águas. Mais tarde, quando tiver alcançado o lugar de repouso (isto é quando tiver atingido o satori), as montanhas serão novamente montanhas para ele e as águas serão novamente águas. (SUZIKI, 1980:65).</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Nesta paisagem Zen citada por Suzuki, é possível re-encontrar a proximidade do mesmo de que nos fala Heidegger em sua conferência sobre “A Coisa” (1950). Na extrema dificuldade do simples, a distância do estar aqui que não é mais que o velamento do ser, subjetivado ou objetivado, que deixa a unidade e parte numa jornada sem fim. Oscilando, indo e vindo, no pensamento dicotômico que representa a diferença em opostos e esquece da mutiplicidade da unidade e da unidade da multiplicidade. A idéia que já tomamos da ‘coisa’ antes de pensar nela, mesmo antes de vê-la, o pressuposto de identificá-la como ‘coisa’, nos impede de aceitá-la enquanto ‘coisa’. Trazemos a ‘coisa’, antes da ‘coisa’, por isso está a ‘coisa’ sem ser. Fazemos com que o ser sem o Sendo se torne ‘coisa’ sem coisidade.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">“O passo de retorno de um pensar ao outro, não é, porém, uma simples mudança de posição. Nunca poderá ser algo semelhante, porque todas as posições, juntamente com os modos de suas mudanças, permanecem jungidas no âmbito do pensar que representa” (HEIDEGGER, A Coisa, s/d:173-4).</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">A representação ocupa o lugar da ‘coisa’, quando deveria nos trazer a coisidade da ‘coisa’. No grego antigo, antes da escrita, o símbolo personificava a própria ‘coisa’, não importando a distância física da ‘coisa’ mencionada. Nós esquecemos da pre-sença que está por trás do símbolo, tratamos a linguagem como se estivesse morta, falamos da ‘coisa’ como se ela não estivesse viva. A linguagem escrita parece ter contribuído neste sentido, tornando-se ela própria um ente.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Quando fala do Caminho do Campo, Heidegger parece falar do Logos. O caminhar e o pensar são semelhantes, pois do que pensamos nos afastamos quando queremos nos aproximar, assim como num Caminho o fim não se limita ao destino, mas ao trilhar: “Caminho: para cima, para baixo, um e o mesmo” (HERÁCLITO, §60). Cada passo ou pensamento retorna, se se tenta fixá-los, a mesmidade do ser e o Sendo. “Do Logos com que sempre lidam se afastam, e por isso as coisas que encontram lhes parecem estranhas” (Idem, §72). Nossa noção de tempo se confunde com a de espaço, o percurso do caminho não pode ser medido ou calculado; a própria representação que damos ao espaço se curva na totalidade de um círculo, só o espaço enquanto ente tem fim: “Princípio e fim se reúnem na circunferência do círculo” (Idem, §103). A reversidade do Caminho “assemelha-se ao tensionar do arco. O que está alto é trazido para baixo, e o baixo, puxado para cima. O comprimento é diminuído, e a largura, expandida” (Tao Te King, 77). Chega a ser possível imaginar um diálogo entre Lao Tse e Heráclito, que por sinal eram contemporâneos, mas o que esta proximidade nos diz?</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">“Pensando, de quando em vez, com os mesmos textos ou, em tentativas próprias, o pensamento, sempre de novo, anda na via que o Caminho do Campo traça pela campina.(…) O Caminho acolhe tudo que vigora à sua volta e restitui o seu a todos que o percorrem. Os mesmos campos e as mesmas encostas dos prados escoltam o Caminho do Campo em cada estação do ano, mas com uma proximidade sempre nova.” (HEIDEGGER, O Caminho do Campo, s/d:46-7)</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">No pensar está o Logos e no ser o caminhar, quando por um Caminho passamos seguidas vezes, se estivermos atentos notamos seu incessante renovar. Assim se dá também com o pensar que não se esgota numa conclusão. O ser está no caminhar, pois a proximidade está no mesmo. Caminhar e ser são o mesmo pensar.</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">Bibliografia:</p><div style="text-align: justify;"> </div><p style="text-align: justify;">HEIDEGGER, M. Sobre o “Humanismo”: carta a Jean Beaufret, Paris. In: Os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1973.<br />____________ . Hegel e os gregos. In: op. cit.<br />____________ . O Princípio da Identidade. In: Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1989.<br />___ . A Coisa. s/d. fotocopia<br />____________. O Caminho do Campo. Petrópolis: Vozes, s/d. fotocopia.<br />HERÁCLITO. ‘Fragmentos’. In: Os Pensadores Originários: Anaximandro, Parmênides e Heráclito. Petrópolis: Vozes, 1991.<br />SUZUKI, D. T. Introdução ao Zen-budismo. In: JUNG, C.G. Psicologia e Religião Oriental. Petrópolis, Vozes, 1980. p. 65<br />TSE, L. Tao Te King. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1989.</p><p style="text-align: justify;">FONTE: http://andrestangl.wordpress.com/2009/09/11/heidegger-e-o-pensamento-oriental/</p><p style="text-align: justify;"><br /></p><p style="text-align: justify;"><br /></p>Christiane Foricnitohttp://www.blogger.com/profile/15701277770166618026noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-82337747968232777.post-44579888558702559602010-01-15T12:10:00.000-08:002010-01-15T12:15:56.074-08:00Textos de Nietzsche<a onblur="try {parent.deselectBloggerImageGracefully();} catch(e) {}" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhj8fmuow9rRGSuPFZpjvCszOpUX6GsjTqRz8hE6nfdJPa2vPZFDT-JA_99PuO6imDY8LCow0pahu8BWjHQ0oc5-b5bHUjRiPYEDeIDLng27sVHKMkoDhrWO-jc7JcncZjC1XyJc3SzXz4/s1600-h/nietzsche.jpg"><img style="margin: 0px auto 10px; display: block; text-align: center; cursor: pointer; width: 293px; height: 320px;" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhj8fmuow9rRGSuPFZpjvCszOpUX6GsjTqRz8hE6nfdJPa2vPZFDT-JA_99PuO6imDY8LCow0pahu8BWjHQ0oc5-b5bHUjRiPYEDeIDLng27sVHKMkoDhrWO-jc7JcncZjC1XyJc3SzXz4/s320/nietzsche.jpg" alt="" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5427062874986519714" border="0" /></a><br /><p align="CENTER"><b> </b></p> <p align="JUSTIFY"><b><br /></b></p><p align="JUSTIFY"><b>Moral nobre e moral escrava - </b><i>Aqui, Nietzsche traça, com seu estilo direto e irreverente, as características que demarcam os dois tipos de vida, representados pelas duas morais: a nobre (ou dos senhores) e a escrava.</i></p> <p align="JUSTIFY">"Numa perambulação pelas muitas morais, as mais finas e as mais grosseiras, que até agora dominaram e continuam dominando na terra, encontrei certos traços que regularmente retornam juntos e ligados entre si: até que finalmente se revelaram dois tipos básicos, e uma diferença fundamental sobressaiu. Há uma <i>moral dos senhores e </i>uma <i>moral de escravos; </i>acrescento de imediato que em todas as culturas superiores e mais misturadas aparecem também tentativas de mediação entre as duas morais, e, com ainda maior freqüência, confusão das mesmas e incompreensão mútua, por vezes inclusive dura coexistência até mesmo num homem, no interior de <i>uma só </i>alma.</p> <p align="JUSTIFY">As diferenciações morais de valor se originaram ou dentro de uma espécie dominante, que se tornou agradavelmente cônscia da sua diferença em relação à dominada, ou entre os dominados, os escravos e dependentes de qualquer grau. No primeiro caso, quando os dominantes determinam o conceito de "bom", são os estados de alma elevados e orgulhosos que são considerados distintivos e determinantes da hierarquia. O homem nobre afasta de si os seres nos quais se exprime o contrário desses estados de elevação e orgulho: ele os despreza. Note-se que, nessa primeira espécie de moral, a oposição "bom" e "ruim" significa tanto quanto "nobre" e "desprezível"; a oposição "bom" e "mau" tem outra origem.</p> <p align="JUSTIFY">Despreza-se o covarde, o medroso, o mesquinho, o que pensa na estreita utilidade; assim como o desconfiado, com seu olhar obstruído, o que rebaixa a si mesmo, a espécie canina de homem, que se deixa maltratar, o adulador que mendiga, e, sobretudo, o mentiroso - é crença básica de todos os aristocratas que o povo comum é mentiroso. "Nós , verdadeiros" - assim se denominavam os nobres da Grécia antiga.</p> <p align="JUSTIFY">É óbvio que as designações morais de valor, em toda parte, foram aplicadas primeiro a <i>homens, </i>e somente depois, de forma derivada, a <i>ações: </i>por isso é um grande equívoco, quando historiadores da moral partem de questões como "por que foi louvada a ação compassiva?". O homem de espécie nobre se sente como aquele que determina valores, ele não tem necessidade de ser abonado, ele julga: "o que me é prejudicial é prejudicial em si", sabe-se como o único que empresta honra às coisas, que <i>cria valores. </i>Tudo o que conhece de si, ele honra: uma semelhante moral é glorificação de si.</p> <p align="JUSTIFY">Em primeiro plano está a sensação de plenitude, de poder que quer elevada, a consciência de uma riqueza que gostaria de ceder e presentear - também o homem nobre ajuda o infeliz, mas não ou quase não por compaixão, antes por um ímpeto gerado pela abundância de poder.</p> <p align="JUSTIFY">O homem nobre honra em <i>si </i>o poderoso, e o que tem poder sobre si mesmo, que entende de falar e calar, que com prazer exerce rigor e dureza consigo e venera tudo que seja rigoroso e duro.</p> <p align="JUSTIFY">"Um coração duro me colocou Wotan no peito", diz uma velha saga escandinava: uma justa expressão poética da alma de um orgulhoso <i>viking. </i>Uma tal espécie de homem se orgulha justamente de <i>não ser </i>feito para a compaixão: daí o herói da saga acrescentar, em tom<i> </i>de aviso, que "quem quando jovem não tem o coração duro, jamais o terá". Os nobres e bravos que assim pensam estão longe da moral que vê o sinal distintivo do que é moral na compaixão, na ação altruísta ou no <i>desintéressement </i>[desinteresse]; a fé em si mesmo, o orgulho de si mesmo, uma radical hostilidade e ironia face à "abnegação" pertencem tão claramente à moral nobre quanto um leve desprezo e cuidado ante as simpatias e o "coração quente".</p> <p align="JUSTIFY">São os poderosos que <i>entendem </i>de venerar, esta é sua arte, o reino de sua invenção. A profunda reverência pela idade e pela origem - todo o direito se baseia nessa dupla reverência -, a fé e o preconceito em favor dos ancestrais e contra os vindouros são algo típico da moral dos poderosos; e quando, inversamente, os homens das "idéias modernas" crêem quase instintivamente no progresso" e no "porvir", e cada vez mais carecem do respeito pela idade, já se acusa em tudo isso a origem não-nobre dessas "idéias"</p> <p align="JUSTIFY">O que faz uma moral dos dominantes parecer mais estranha e penosa para o gosto atual, no entanto, é o rigor do seu princípio básico de que apenas frente aos iguais existem deveres; de que frente aos seres de categoria inferior, a tudo estranho-alheio, pode-se agir ao bel-prazer ou como quiser o coração", e em todo caso "além do bem e do mal": aqui pode entrar a compaixão, e coisas do gênero. A capacidade e o dever da longa gratidão e da longa vingança - as duas somente com os iguais -, a finura na retribuição, o refinamento no conceito de amizade, de uma certa necessidade de ter inimigos (como canais de escoamento, por assim dizer, para os afetos de inveja, agressividade, petulância - no fundo, para poder ser bem <i>amigo): </i>todas essas são características da moral nobre, que, como foi indicado, não é a moral das "idéias modernas", sendo hoje difícil percebê-la, portanto, e também desenterrá-la e descobri-la.</p> <p align="JUSTIFY">É diferente com o segundo tipo de moral, a <i>moral dos escravos. </i>Supondo que os violentados, oprimidos, prisioneiros, sofredores, inseguros e cansados de si moralizem: o que terão em comum suas valorações morais? Provavelmente uma suspeita pessimista face a toda a situação do homem achará expressão, talvez uma condenação do homem e da sua situação. O olhar do escravo não é favorável às virtudes do poderoso: é cético<i> </i>e desconfiado, tem <i>finura </i>na desconfiança frente a tudo "bom" que é honrado por ele gostaria de convencer-se de que nele a própria felicidade não é genuína.</p> <p align="JUSTIFY">Inversamente, as propriedades que servem para aliviar a existência dos que sofrem são postas em relevo e inundadas de luz: a compaixão, a mão solícita e afável, o coração cálido, a paciência, a diligência, a humildade, a amabilidade recebem todas as honras - pois são as propriedades mais úteis no caso, e praticamente todos os únicos meios de suportar a pressão da existência.</p> <p align="JUSTIFY">A moral dos escravos é essencialmente uma moral de utilidade. Aqui está o foco de origem da famosa oposição <i>"bom" e "mau"</i><b> - </b>no que é mau se sente poder e periculosidade, uma certa terribilidade, sutileza e força que não permite o desprezo. Logo segundo a moral dos escravos o "mau" inspira medo; segundo a moral dos senhores e precisamente o "bom" que desperta e quer despertar medo, enquanto o homem "ruim" é sentido como desprezível. A opressão chega ao auge quando, de modo conseqüente à moral dos escravos, um leve aro de menosprezo envolve também o "bom" dessa moral - ele pode ser ligeiro e benévolo porque em todo caso o bom tem de ser, no modo de pensar escravo, um <i>homem inofensivo: é </i>de boa índole, fácil de enganar, talvez um pouco estúpido, ou <i>seja, un bonhomme [um </i>bom homem]. Onde quer que a moral dos escravos se torne preponderante, a linguagem tende a aproximar as palavras "bom" e "estúpido".</p> <p align="JUSTIFY">Uma última diferença básica: o anseio de <i>liberdade, </i>o instinto para a felicidade e as sutilezas do sentimento de liberdade pertencem tão necessariamente à moral e moralidade escrava quanto a arte e entusiasmo da veneração, da dedicação, sintoma regular do modo aristocrático de pensamento e valoração.</p> <p align="JUSTIFY">Com isso, pode-se compreender por que o amor-paixão - nossa especialidade européia - deve absolutamente ter uma procedência nobre: é notório que ele foi inven<i>ção </i>dos cavaleiros-poetas provençais, aqueles magníficos, inventivos homens do <i>gai saber </i>[gaia ciência], aos quais a Europa tanto deve, se não deve ela mesma." <i>(NIETZSCHE, Friedrich. Além do bem e do mal, § 260. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo, Companhia das Letras, 1992, p, 172-5)</i></p> <p align="JUSTIFY"><b>A moral como contra-natureza</b> - Todas as paixões têm uma época em que são meramente nefastas, durante a qual, com o peso da estupidez, arrastam as suas vítimas para uma depressão - e uma época mais tardia muito posterior, na qual desposam o espírito, na qual se "espiritualizam". Noutro tempo movia-se guerra à própria paixão, por causa da estupidez nela existente: as pessoas conjuravam-se para aniquilá-la, - todos os velhos monstros da moral coincidem unanimemente em que <i>il faut tuer les passions</i>.</p> <p align="JUSTIFY">A fórmula mais célebre desta idéia encontra-se no Novo Testamento, naquele Sermão da Montanha, no qual, diga-se de passagem, as coisas não são consideradas de modo algum <i>desde as alturas</i>. Nele se diz, por exemplo, aplicando-o na prática à sexualidade, "se o teu olho te escandaliza, arranca-o": por sorte nenhum cristão atua de acordo com esse preceito. <i>Aniquilar</i> as paixões e apetites meramente para prevenir a sua estupidez e as conseqüências desagradáveis desta é algo que hoje nos aparece simplesmente como uma forma aguda de estupidez. Já não admiramos os dentistas que <i>extraem</i> os dentes para que não continuem a doer... Com certa equidade concedamos, por outro lado, que o conceito "espiritualização da paixão" não podia ser concebido de forma alguma no terreno de que brotou o cristianismo. A Igreja primitiva lutou, com efeito, como é sabido, <i>contra</i> os "<i>inteligentes</i>" em favor dos<i> "pobres de espírito</i>": como esperar dela uma guerra inteligente contra a paixão? - A Igreja combate a paixão com a extirpação, em todos os sentidos da palavra: a sua medicina, a sua "cura" é a <i>castração</i>. Não pergunta nunca: "como espiritualizar, embelezar, divinizar um apetite?" - ela sempre carregou o acento da disciplina no extermínio (da sensualidade, do orgulho, da vontade de poder, da ânsia de posse, do desejo de vingança). - Porém atacar as paixões na sua raiz significa atacar a vida na sua raiz: a praxis da Igreja é <i>hostil à vida</i>...</p> <p align="CENTER">2</p> <p align="JUSTIFY">Esse mesmo remédio, a castração, o extermínio, é escolhido instintivamente, na luta contra um desejo, pelos que são demasiado débeis, pelos que estão demasiado degenerados para poderem impor-se moderação nesse desejo: por aquelas naturezas que, para falar em metáfora (e sem metáfora -), têm necessidade de <i>La Trappe</i> , de alguma declaração definitiva de inimizade, de um <i>abismo</i> entre elas e uma paixão. Os meios radicais afiguram-se indispensáveis tão-só aos. degenerados; a debilidade da vontade, ou, dito com mais exatidão, a incapacidade de não reagir a um estímulo é simplesmente outra forma de degenerescência. A inimizade radical, o ódio mortal contra a sensualidade. não deixa de ser um sintoma que induz a refletir: ele autoriza a fazer conjecturas sobre a saúde mental de quem comete tais excessos. - Essa hostilidade, esse ódio chega ao seu cúmulo, além disso, só quando tais naturezas não têm já firmeza bastante para a cura radical, para renunciar ao seu "demônio". Deite-se um olhar para a história inteira dos sacerdotes e filósofos, não esquecendo a dos artistas: as coisas mais venenosas contra os sentidos não foram ditas pelos impotentes, tão-pouco pelos ascetas, mas sim pelos ascetas impossíveis, por aqueles que teriam necessitado de ser ascetas...</p> <p align="CENTER">3</p> <p align="JUSTIFY">A espiritualização da sensualidade chama-se amor: ela é um grande triunfo sobre o cristianismo. Outro triunfo é a nossa espiritualização da <i>inimizade.</i> Consiste em compreender profundamente o valor que possui o ter inimigos: dito brevemente, em proceder e extrair conclusões ao inverso de como se procedia e extraia conclusões noutro tempo. A Igreja quis sempre a aniquilação dos seus inimigos: nós, nós os imoralistas e anticristãos, vemos a nossa vantagem em que a Igreja subsista. Também no âmbito político a inimizade se tornou agora mais espiritual, - muito mais inteligente, muito mais reflexiva, muito mais <i>indulgente</i>. Quase todos os partidos se dão conta de que para a sua própria autoconservação lhes interessa que o partido oposto não perca forças; o mesmo se deve dizer para a grande política. Especialmente uma criação nova, por exemplo o novo Reich, tem uma maior necessidade de inimigos que de amigos: só na antítese se sente necessário, só na antítese <i>chega a tornar-se</i> necessário... Não nos comportamos de outro modo com o nosso "inimigo interior": também aqui temos espiritualizado a inimizade, também aqui temos compreendido o seu <i>valor.</i> Só se é fecundo pelo preço de se ser rico em contradições; só se permanece jovem na condição de que a alma não se relaxe, não deseje a paz... Nada se nos tornou mais estranho que aquela aspiração de outrora, a aspiração à "paz de espírito", a aspiração cristã; nada nos causa menos inveja do que a moral ruminante e a sebosa felicidade da consciência tranqüila. Renunciou-se à vida grande quando se renunciou à guerra... Em muitos casos, desde logo, a "<i>paz de espírito</i>" não é mais do que um mal-entendido, - <i>outra coisa</i>, a que unicamente não se sabe atribuir um nome mais honrado. Sem divagações nem preconceitos aqui temos uns quantos casos. "Paz de espírito" pode ser, por exemplo, a plácida projeção de uma animalidade rica no terreno moral (ou religioso). Ou o começo da fadiga, a primeira sombra que traz o crepúsculo, qualquer espécie de crepúsculo. Ou um sinal de que o ar está úmido, de que se aproximam ventos do Sul. Ou o agradecimento, sem se o saber, por uma digestão feliz (chamado às vezes "filantropia"). Ou a calma do convalescente, para o qual todas as coisas têm um sabor e que está à espera... ou o estado que se segue a uma intensa satisfação da nossa paixão dominante, o sentimento de bem-estar próprio de uma saciedade rara. Ou a debilidade senil da nossa vontade, dos nossos apetites, dos nossos vícios. Ou a preguiça, persuadida pela vaidade a ataviar-se com adornos morais. Ou o advento de uma certeza, mesmo de uma certeza terrível, após uma tensão e tortura prolongadas devidas à incerteza. Ou a expressão da maturidade e a maestria na atividade, no criar, agir, querer, a. respiração tranqüila, a alcançada "liberdade da vontade"... Crepúsculo dos ídolos: quem sabe?, talvez também unicamente uma espécie de "paz de espírito"... </p> <p align="CENTER">4</p> <p align="JUSTIFY">Vou reduzir a fórmula um princípio. Todo o naturalismo em moral, quero dizer, toda a moral <i>sã</i> está regida por um instinto da vida, - um mandamento qualquer da vida é cumprido com um certo cânone de "deves" e "não deves", um obstáculo e uma inimizade qualquer no caminho da vida ficam com isso eliminados. A moral <i>contranatural</i>, ou seja, quase toda a, moral, até agora ensinada, venerada e pregada, dirige-se, pelo contrário, precisamente <i>contra</i> os instintos da vida - é uma condenação, por vezes encoberta, por vezes ruidosa e insolente, desses instintos. Ao dizer "Deus lê nos corações", a moral diz não aos apetites mais baixos e mais altos da vida e considera Deus <i>inimigo da vida</i>... O santo para quem Deus tem a sua complacência é o castrado ideal... A vida acaba onde <i>começa</i> o reino de Deus"...</p> <p align="JUSTIFY">(Friedrich Nietzsche, "<i>Crepúsculo dos ídolos, ou como se filosofa à marteladas</i>", Lisboa, Guimarães Editores, Lda, 1985)</p> <p align="JUSTIFY"><b>O ressentimento -</b> "O homem do ressentimento traveste sua impotência em bondade, a baixeza temerosa em humildade, a submissão aos que odeia em obediência, a covardia em paciência, o não poder vingar-se em não querer vingar-se e até perdoar, sua própria miséria em aprendizagem para a beatitude, o desejo de represália em triunfo da justiça divina sobre os ímpios. O reino de Deus aparece como produto do ódio e da vingança dos fracos. Incapaz de enfrentar o que o cerca, o homem do ressentimento inventa, para seu consolo, o outro mundo. Assim também procede o "filisteu da cultura’, que só pode afirmar-se através da negação do que considera seu oposto: a própria cultura. Ou então, o homem da ciência, que a si mesmo opõe um outro: o pesquisador, que pretende comportar-se de maneira impessoal, desinteressada e neutra diante do mundo, para chegar a abordá-lo com objetividade. E ainda o filósofo que, na elaboração de suas idéias, acredita poder desvinculá-las da própria vida, não se reconhecendo como advogado de seus preconceitos." ("Para além de Bem e Mal", parágrafo 2)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Os valores "Bom" e "Mau" -</b> torna-se possível... traçar um dupla história dos valores "Bem" e "mal". O fraco concebe primeiro a idéia de "mau", com que designa os nobres, os corajosos, os mais fortes do que ele - e então a partir da idéia de "mau", chega, como antítese, à concepção de "bom", que se atribui a si mesmo. O forte, por outro lado, concebe espontaneamente o princípio "bom" a partir de si mesmo e só depois cria a idéia de "ruim". Do ponto de vista do forte, "ruim" é apenas uma criação secundária, enquanto para o fraco "mau" é a criação primeira, o ato fundador da sua moral, a moral dos ressentidos. O forte só procede por afirmação e, mais, por auto-afirmação; o fraco só pode firmar-se negando o que considera ser o seu oposto.</p> <p align="JUSTIFY">"O levante dos escravos na moral começa quando o ressentimento mesmo se torna criador e pare valores: o ressentimento de seres tais, aos quais está vedada a reação propriamente dita, o ato, e que somente por uma vingança imaginária ficam quites. Enquanto a moral nobre brota de um triunfante dizer-sim a si próprio, a moral de escravos diz não, logo de início, a um "fora", a um "outro", a um "não-mesmo". E esse não é seu ato criador. Essa inversão do olhar que põe valores, essa direção necessária para fora, em vez de voltar-se para si próprio - pertence, justamente, ao ressentimento: a moral de escravos precisa sempre, para surgir, de um mundo oposto e exterior, precisa, dito fisiologicamente, de estímulos externos para em geral agir - sua ação é, desde o fundamento, por reação."("Para a Genealogia da Moral", Primeira dissertação, parágrafo 10)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Liberdade de vontade -</b> Onde um homem chega à convicção fundamental de que é preciso que mandem nele, ele se torna "crente"; inversamente seria pensável um prazer e uma força de autodeterminação, uma liberdade de vontade, em que um espírito se despede de toda crença, de todo desejo de certeza, exercitado, como ele está, em poder manter-se sobre leves cordas e possibilidades, e mesmo diante de abismos dançar ainda. Um tal espírito seria o espírito livre "par excellence" ("<i>A Gaia Ciência</i>", quinto livro, parágrafo 347)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Humildade -</b> O verme pisado encolhe-se. Atitude inteligente. Com isso reduz a probabilidade de ser pisado de novo. Na linguagem da moral: humildade." (Friedrich Nietzsche, "<i>Crepúsculo dos ídolos, ou como se filosofa à marteladas</i>", Lisboa, Guimarães Editores, Lda, 1985, pág. 16)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Moralidade e sucesso</b> - Não são apenas os espectadores de um ato que com freqüência medem o que nele é moral ou imoral conforme o seu êxito: não, o seu próprio autor faz isso. Pois os motivos e intenções raramente são bastante claros e simples, e às vezes a própria memória parece turvada pelo sucesso do ato, de modo que a pessoa atribui ao próprio ato motivos falsos ou trata motivos secundários como essenciais. E freqüente o sucesso dar a um ato o brilho honesto da boa consciência, e o fracasso lançar a sombra do remorso sobre uma ação digna de respeito. Daí resulta a conhecida prática do político que pensa: "Dêem-me apenas o sucesso: com ele terei a meu lado todas as almas honestas - e me tornarei honesto diante de mim mesmo". - De modo semelhante, o sucesso pode tomar o lugar do melhor argumento. Muitos homens cultos acham, ainda hoje, que a vitória do cristianismo sobre a filosofia grega seria uma prova da maior verdade do primeiro - embora nesse caso o mais grosseiro e violento tenha triunfado sobre o mais espiritual e delicado. Para ver onde se acha a verdade maior, basta notar que as ciências que nasciam retomaram ponto a ponto a filosofia de Epicuro, mas rejeitaram ponto a ponto o cristianismo. (Friedrich Nietzsche<i>, "Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 62, aforismo 68, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Execuções</b> - O que faz com que toda execução nos ofenda mais que um assassinato? É a frieza dos juízes, a penosa preparação, a percepção de que um homem é ali utilizado como um meio para amedrontar outros. Pois a culpa não é punida, mesmo que houvesse uma; esta se acha nos educadores, nos pais, no ambiente, em nós, não no assassino - refiro-me às circunstâncias determinantes. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 63, aforismo 71, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Saber esperar</b><i> - </i>Saber esperar é algo tão difícil, que os maiores escritores não desdenharam fazer disso um tema de suas criações. Assim fizeram Shakespeare em <i>Otelo </i>e Sófocles em <i>Ajax</i>; se este tivesse deixado o sentimento esfriar por um dia apenas, seu suicídio já não lhe teria parecido necessário, como indica a fala do oráculo; provavelmente teria zombado das terríveis insinuações da vaidade ferida e teria dito a si mesmo: quem, no meu lugar, já não tomou unia ovelha por um herói? será uma coisa tão monstruosa? Pelo contrário, é algo humano e comum; dessa forma Ajax poderia se consolar. A paixão não quer esperar; o trágico na vida de grandes homens está, freqüentemente, não no seu conflito com a época e a baixeza de seus semelhantes, mas na sua incapacidade de adiar por um ou dois anos a sua obra; eles não sabem esperar. - Em todos os duelos, os amigos que dão conselhos devem verificar apenas uma coisa: se as pessoas envolvidas podem esperar; se este não for o caso, um duelo é razoável, pois cada um diz a si mesmo: "Ou eu continuo a viver, e então ele deve morrer imediatamente, ou o contrário". Em tal caso, esperar significaria sofrer por muito tempo ainda o horrendo martírio da honra ferida, diante de quem a feriu; o que pode constituir mais sofrimento do que o que vale a própria vida. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 60, aforismo 61, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>A esperança</b><i> - </i>Pandora trouxe o vaso que continha os males e o abriu. Era o presente dos deuses aos homens, exteriormente um presente belo e sedutor, denominado "vaso da felicidade". E todos os males, seres vivos alados, escaparam voando: desde então vagueiam e prejudicam os homens dia e noite. Um único mal ainda não saíra do recipiente: então, seguindo a vontade de Zeus, Pandora repôs a tampa, e ele permaneceu dentro. O homem tem agora para sempre o vaso da felicidade, e pensa maravilhas do tesouro que nele possui; este se acha à sua disposição: ele o abre quando quer; pois não sabe que Pandora lhe trouxe o recipiente dos males, e para ele o mal que restou é o maior dos bens - é a esperança. - Zeus quis que os homens, por mais torturados que fossem pelos outros males, não rejeitassem a vida, mas continuassem a se deixar torturar. Para isso lhes deu a esperança: ela é na verdade o pior dos males, pois prolonga o suplício dos homens. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 63, aforismo 71, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Valor da diminuição</b> - Não poucos, talvez a maioria homens, têm necessidade de rebaixar e diminuir na sua imaginação todos os homens que conhecem, para manter sua autoestima e uma certa competência no agir. E, como as naturezas mesquinhas são em número superior, é muito importante elas terem essa competência. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 61, aforismo 63, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Deus -</b> É com seu próprio deus que as pessoas são mais desonestas: não lhe é permitido pecar. (Friedrich Nietzsche, "Além do Bem e do Mal", Cia das Letras, ano 2001, Aforismo 65a, pág. 67)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Mão que mata -</b> Fomos maus espectadores da vida, se não vimos também a mão que - delicadamente - mata. (Friedrich Nietzsche, "Além do Bem e do Mal", Cia das Letras, ano 2001, Aforismo 69, pág. 68)</p> <p align="JUSTIFY"><b>O enfurecido</b> - Diante<i> </i>de um homem que se enfurece conosco devemos tomar cuidado, como diante de alguém que já tenha atentado contra a nossa vida; pois o fato de ainda vivermos se deve à ausência do poder de matar; se os olhares bastassem, há muito estaríamos liquidados. É traço de uma cultura grosseira fazer calar alguém tornando visível a brutalidade, suscitando o medo. - Do mesmo modo, o olhar frio que os nobres têm para seus criados é resíduo daquela separação dos homens em castas, um traço de antigüidade grosseira; as mulheres, essas conservadoras do antigo, também conservaram mais fielmente essa <i>survival</i> [sobrevivência]. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 61, aforismo 64, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Medida para todos os dias</b> - Raramente se erra, quando se liga as ações extremas à vaidade, as medíocres ao costume e as mesquinhas ao medo. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 65, aforismo 74, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Ideal -</b> Quem alcança seu ideal, vai além dele. (Friedrich Nietzsche, "Além do Bem e do Mal", Cia das Letras, ano 2001, Aforismo 73, pág. 68)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Reputação -</b> Quem já não se sacrificou alguma vez - pela própria reputação? (Friedrich Nietzsche, "Além do Bem e do Mal", Cia das Letras, ano 2001, Aforismo 92, pág. 71)</p> <p align="JUSTIFY"><b>?Costumes e moral -</b> Ser moral, morigerado, ético" significa prestar obediência a uma lei ou tradição há muito estabelecida. Se alguém se sujeita a ela com dificuldade ou com prazer é indiferente, bastando que o faça, "Bom" é chamado aquele que, após longa hereditariedade e quase por natureza, pratica facilmente e de bom grado o que é moral, conforme seja (por exemplo, exerce a vingança quando exercê-la faz parte do bom costume, como entre os antigos gregos). Ele é denominado bom porque é bom "para algo"; mas como, na mudança dos costumes, a benevolência, a compaixão e similares sempre foram sentidos como "bons para algo", como úteis, agora sobretudo o benevolente, o prestativo, é chamado de "bom". Mau é ser "não moral" (imoral), praticar o mau costume, ofender a tradição, seja ela racional ou estúpida; especialmente prejudicar o próximo foi visto nas leis morais das diferentes épocas como nocivo, de modo que hoje a palavra "mau" nos faz pensar sobretudo no dano voluntário ao próximo. "Egoísta" e "altruísta" não é a oposição fundamental que levou os homens à diferenciação entre moral e imoral, bom e mau, mas sim estar ligado a uma tradição, uma lei, ou desligar-se dela. Nisso não importa saber como surgiu a tradição, de todo modo ela o fez sem consideração pelo bem e o mal, ou por algum imperativo categórico imanente, mas antes de tudo a fim de conservar uma comunidade, um povo; cada hábito supersticioso, surgido a partir de um acaso erroneamente interpretado, determina uma tradição que é moral seguir; afastar-se dela é perigoso, ainda mais nocivo para a comunidade que para o indivíduo (pois a divindade pune a comunidade pelo sacrilégio e por toda violação de suas prerrogativas, e apenas ao fazê-lo pune também o indivíduo). Ora, toda tradição se torna mais respeitável à medida que fica mais distante a sua origem, quanto mais esquecida for esta; o respeito que lhe é tributado aumenta a cada geração, a tradição se torna enfim sagrada, despertando temor e veneração; assim, de todo modo a moral da piedade é muito mais antiga do que a que exige ações altruístas. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 73, aforismo 96, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>O prazer no costume</b> - Um importante gênero de prazer, e com isso importante fonte de moralidade, tem origem no hábito. Fazemos o habitual mais facilmente, melhor, e por isso de mais bom grado; sentimos prazer nisso, e sabemos por experiência que o habitual foi comprovado, e portanto é útil; um costume com o qual podemos viver demonstrou ser salutar, proveitoso, ao contrário de todas as novas tentativas não comprovadas. O costume é, assim, a união do útil ao agradável, e além disso não pede reflexão. Sempre que pode exercer coação, o homem a exerce para impor e introduzir seus <i>costumes</i>, pois para ele são comprovada sabedoria de vida. Do mesmo modo, uma comunidade de indivíduos força todos eles a adotar o mesmo costume. Eis a conclusão errada: porque nos sentimos bem com um costume, ou ao menos levamos nossa vida com ele, esse costume é necessário, pois vale como a única possibilidade na qual nos sentimos bem; o bem estar da vida aprece vir apenas dele. Essa concepção do habitual como condição da existência é aplicada aos mínimos detalhes do costume: como a percepção da causalidade real é muito escassa entre os povos e as culturas de nível pouco elevado, um medo supersticioso cuida para que todos sigam o mesmo caminho; e até quando o costume é difícil, duro, pesado, ele é conservado por sua utilidade aparentemente superior. Não sabem que o mesmo grau de bem-estar pode existir com outros costumes, e que mesmo graus superiores podem ser alcançados. Mas certamente notam que todos os costumes, inclusive os mais duros, tornam-se mais agradáveis e mais brandos com o tempo, e que também o mais severo modo de vida pode ser tornar hábito e com isso um prazer. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 73-74, aforismo 97, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Dois tipos de igualdade</b> <b>-</b> A ânsia de igualdade pode se expressar tanto pelo desejo de rebaixar os outros até seu próprio nível (diminuindo, segregando, derrubando) como pelo desejo de subir juntamente com os outros (reconhecendo, ajudando, alegrando-se com seu êxito) (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 198, aforismo 300, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>A preferência por certas virtudes</b> <b>-</b> Não atribuímos valor especial à posse de uma determinada virtude, até que percebemos a sua ausência total em nosso adversário. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 199, aforismo 302, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Respeitosamente -</b> Não querer magoar, não querer prejudicar ninguém pode ser sinal tanto de um caráter justo como de um caráter medroso. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 201, aforismo 314, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Criança -</b> Maturidade do homem: significa reaver a seriedade que se tinha quando criança ao brincar. (Friedrich Nietzsche, "Além do Bem e do Mal", Cia das Letras, ano 2001, Aforismo 94, pág. 71)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Mundo às avessas -</b> Criticamos mais duramente um pensamento quando ele oferece uma proposição que nos é desagradável; no entanto, seria mais razoável fazê-lo quando sua proposição nos é agradável. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 265, aforismo 484, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Amor ao próximo -</b> Não o seu amor ao próximo, mas a impotência do seu amor ao próximo é que impede os cristãos de hoje de nos queimar. (Friedrich Nietzsche, "Além do Bem e do Mal", Cia das Letras, ano 2001, Aforismo 104, pág.73)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Amor -</b> Com freqüência a sensualidade precipita o crescimento do amor, de modo que a raiz permanece fraca e é facilmente arrancada. (Friedrich Nietzsche, "Além do Bem e do Mal", Cia das Letras, ano 2001, Aforismo 120, pág. 75)</p> <p align="JUSTIFY"><b>O laço da gratidão -</b> Existem almas servis, que levam a tal ponto o reconhecimento por benefícios, que estrangulam a si mesmas com o laço da gratidão. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 277, aforismo 550, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Confissão -</b> Esquecemos nossa culpa quando a confessamos a outro alguém, mas geralmente o outro não a esquece. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 280, aforismo 568, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Monstruosidades -</b> Quem combate monstruosidades deve cuidar para que não se torne um monstro. E se você olhar longamente para um abismo, o abismo também olha para dentro de você. (Friedrich Nietzsche, "Além do Bem e do Mal", Cia das Letras, ano 2001, Aforismo 146, pág. 79)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Atavismo -</b> O que uma época percebe como mau é geralmente uma ressonância anacrônica daquilo que um dia foi considerado bom - o atavismo de um antigo ideal. (Friedrich Nietzsche, "Além do Bem e do Mal", Cia das Letras, ano 2001, Aforismo 149, pág. 79)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Sinais de saúde -</b> O reparo, a travessura, a sorridente suspeita, a zombaria são sinais de saúde: todo absoluto pertence à patologia. (Friedrich Nietzsche, "Além do Bem e do Mal", Cia das Letras, ano 2001, Aforismo 154, pág. 80)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Loucura -</b> A loucura é algo raro em indivíduos - mas em grupos, partidos, povos e épocas é a norma. (Friedrich Nietzsche, "Além do Bem e do Mal", Cia das Letras, ano 2001, Aforismo 156, pág. 80)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Falar de si -</b> Falar muito de si pode ser um meio de se ocultar. (Friedrich Nietzsche, "Além do Bem e do Mal", Cia das Letras, ano 2001, Aforismo 169, pág. 82)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Elogio -</b> No elogio há mais indiscrição que na censura. (Friedrich Nietzsche, "Além do Bem e do Mal", Cia das Letras, ano 2001, Aforismo 170, pág. 82)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Desejo -</b> Por fim amamos o próprio desejo, e não o desejado. (Friedrich Nietzsche, "Além do Bem e do Mal", Cia das Letras, ano 2001, Aforismo 175, pág. 83)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Amor e reverência -</b> O amor deseja, o medo evita. Por causa disso não podemos ser amados e reverenciados pela mesma pessoa, não no mesmo período de tempo, pelo menos. Pois quem reverencia reconhece o poder, isto é, o teme: seu estado é de medo-respeito. Mas o amor não reconhece nenhum poder, nada que separe, distinga, sobreponha ou submeta. E, como ele não reverencia, pessoas ávidas de reverência resistem aberta ou secretamente a serem amadas. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 289, aforismo 603, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Bondade -</b> Há uma exuberância da bondade que pode parecer maldade. (Friedrich Nietzsche, "Além do Bem e do Mal", Cia das Letras, ano 2001, Aforismo 184, pág. 84)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Estar à altura de algo -</b> "Isso não me agrada" - Por quê? - "Não estou à altura disso." - Algum homem já respondeu assim? (Friedrich Nietzsche, "Além do Bem e do Mal", Cia das Letras, ano 2001, Aforismo 185, pág. 84)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Mau humor com os outros e com o mundo -</b> Quando, como é tão freqüente, desafogamos nosso mau humor nos outros, e na realidade o sentimos em relação a nós mesmos, o que no fundo procuramos é anuviar e enganar o nosso julgamento: queremos motivar esse mau humor a posterior, mediante os erros, as deficiências dos outros, e assim não ter olhos para nós mesmos. - Os homens religiosamente severos, juízes implacáveis consigo mesmos, foram também os que mais denegriram a humanidade: nunca houve um santo que reservasse para si os pecados e para os outros as virtudes; e tampouco alguém que, conforme o preceito do Buda, ocultasse às pessoas o que tem de bom e lhes deixasse ver apenas o que tem de mau. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 290, aforismo 607, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>A melancolia de tudo terminado -</b> Péssimo! Sempre a velha história! Ao terminar a construção da casa, notamos que sem nos dar conta aprendemos, ao construí-la, algo que simplesmente tínhamos de saber, antes de começar a construir. O eterno aborrecido "Tarde demais!" - a melancolia de tudo terminado!... '</p> <p align="JUSTIFY">.</p> <p align="JUSTIFY"><b>Confusão entre causa e efeito -</b> Inconscientemente buscamos os princípios e as teorias adequados ao nosso temperamento, de modo que afinal aparece que esses princípios e teorias criaram o nosso caráter, deram-lhe firmeza e segurança: quando aconteceu justamente o contrário. O nosso pensamento e julgamento, assim parece, é transformado posteriormente em causa de nosso ser: mas na realidade é nosso ser a causa de pensarmos e julgarmos desse ou daquele modo. - E o que nos induz a essa comédia quase inconsciente? A indolência e a comodidade, e também o desejo vaidoso de ser considerado inteiramente consistente, uniforme no ser e no pensar: pois isso conquista respeito, empresta confiança e poder. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 291, aforismo 608, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Perigo para o homem nobre -</b> ... Quem tem os desejos de uma alma elevada e exclusiva e raramente encontra sua mesa posta, seu alimento pronto, estará sempre em grande perigo; mas esse perigo é hoje extraordinário. Lançado numa época ruidosa e plebéia, com a qual não quer partilhar o mesmo prato, ele pode facilmente perecer de fome e sede ou, caso finalmente "se sirva" - de súbita náusea. - Todos nós, é provável, já nos sentamos junto a mesas a que não pertencíamos; e precisamente os mais espirituais entre nós, os mais difíceis de serem alimentados, conhecem aquela perigosa dispepsia, que vem de uma súbita percepção e desilusão da comida e dos vizinhos de mesa - a náusea da sobre-mesa. (Friedrich Nietzsche, "Além do Bem e do Mal", Cia das Letras, Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza, ano 2001, Aforismo 282, pág. 190)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Elogio -</b> Supondo que se deseje absolutamente elogiar, constitui um sutil e também nobre autodomínio elogiar somente quando não se está de acordo: - de outro modo se estaria elogiando a si mesmo, o que vai de encontro ao bom gosto - sem duvida, um autodomínio que traz boa instigação e ocasião para ser continuamente mal entendido. É preciso, para se dar a esse verdadeiro luxo de gosto e moralidade, não viver enter grosseirões do espírito, mas entre homens nos quais os mal-entendidos e equívocos divertem por sua sutileza - ou então se terá de pagar caro! - "Ele me elogia: portanto me dá razão" - essa dedução perfeitamente asinina nos estraga boa parte da vida, a nós, eremitas, porque atrai os asnos à nossa vizinhança e amizade. (Friedrich Nietzsche, "Além do Bem e do Mal", Cia das Letras, Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza, ano 2001, Aforismo 283, pág. 191)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Filosofia -</b> Toda filosofia é uma filosofia-de-fachada - eis um juízo-de-eremita: "Existe algo de arbitrário no fato de ele se deter aqui, de olhar para trás e em volta, de não cavar mais fundo aqui e pôr de lado a pá - há também algo de suspeito nisso". Toda filosofia também esconde uma filosofia, toda opinião é também um palavra também esconderijo, toda uma máscara. (Friedrich Nietzsche, "Além do Bem e do Mal", Cia das Letras, Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza, ano 2001, Aforismo 289, pág. 193)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Amor - ...</b> O amor é o estado em que os homens vêem as coisas como elas não são. A força da ilusão está no amor em toda sua potência, assim como a força de adoçar, de transfigurar.... (Friedrich Nietzsche, "O Anticristo - Maldição do Cristianismo", Edição Integral,1992, pág. 44)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Cristo (1) - ...</b> (Cristo) não tinha mais necessidade de fórmulas, de ritos para comunicar-se com Deus, nem mesmo da prece. Acabou com toda doutrina judaica de penitência e reconciliação, sabe que somente com a prática da vida o homem se sente "divino", "abençoado", "evangélico", em qualquer momento um "filho de Deus." "Penitência', "oração" e "absolvição" não são o caminho para Deus: somente a prática evangélica conduz a Deus, ela é propriamente "Deus"! O que foi destronado do Evangelho foi o judaísmo dos conceitos de "pecado", "absolvição dos pecados", "fé", "redenção dos pecados", toda doutrina da igreja judaica foi negada na "boa nova". (Friedrich Nietzsche, "<i>O Anticristo - Maldição do Cristianismo</i>", Edição Integral,1992, pág. 56)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Reino de Deus -</b> ... O "reino de Deus" não é o que se espera; não existe nem ontem nem depois do amanhã, não virá em "mil anos", é uma experiência do coração; está em toda parte, em parte alguma... (Friedrich Nietzsche, "<i>O Anticristo - Maldição do Cristianismo</i>", Edição Integral,1992, pág. 57)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Vida -</b> Quando não se coloca o peso da vida na própria vida, mas sim no "além", no nada, então retira-se da vida toda sua importância. A grande mentira da imortalidade pessoal destrói toda razão, todo instinto natural. Tudo que é benéfico, vital, promissor nos instintos, suscita cada vez maior desconfiança. Viver assim, de modo a esvaziar o sentido do viver, isso tornou-se atualmente o "sentido" da vida... (Friedrich Nietzsche, "<i>O Anticristo - Maldição do Cristianismo</i>", Edição Integral,1992, pág. 65)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Fé (1)-</b> ... a fé não move montanhas (na verdade coloca montanhas onde não há nenhuma) ... (Friedrich Nietzsche, "<i>O Anticristo - Maldição do Cristianismo</i>", Edição Integral,1992, pág. 75)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Fé (2) -</b> ... Fé significa não-querer-saber o que é verdadeiro. (Friedrich Nietzsche, "<i>O Anticristo - Maldição do Cristianismo</i>", Edição Integral,1992, pág. 77)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Cristianismo -</b> O cristianismo tem necessidade de doença, da mesma forma mais ou menos como os gregos tinham necessidade de excesso de saúde; criar doentes é a meta obscura de todo sistema de procedimentos de cura da Igreja. (Friedrich Nietzsche, "<i>O Anticristo - Maldição do Cristianismo</i>", Edição Integral,1992, pág. 75)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Mártires - ...</b> as mortes dos mártires, diga-se da passagem, foram uma grande infelicidade histórica: elas fascinavam.... Os mártires prejudicaram a verdade... Até hoje basta uma certa crueza na perseguição de uma seita insignificante para que esta conquiste um nome respeitável. Como? O valor de uma coisa por acaso muda só porque alguém desiste da vida.... Exatamente isso foi a maior idiotice histórica de todos os perseguidores, ter dado à questão dos oponentes uma aparência de honra, tê-la presenteado com a fascinação do martírio... A mulher continua ajoelhada ante um equívoco, porque disseram-lhe que por sua causa alguém morreu na cruz. É pois a cruz um argumento? ... Escreveram letras sangrentas no caminho que percorreram e sua loucura ensinava que a verdade se prova com sangue. Mas o sangue é a pior testemunha da verdade; o sangue envenena transformando o ensinamento puro em loucura e ódio dos corações. E quando alguém atravessa o inferno em nome da doutrina, o que isso prova? É mais verdadeiro quando a própria doutrina nasce da queimadura. (Friedrich Nietzsche, "<i>O Anticristo - Maldição do Cristianismo</i>", Edição Integral,1992, pág. 79)</p> <p align="JUSTIFY"><b>O homem</b> <b>de fé -</b> O homem de fé, o crente de qualquer espécie é obrigatoriamente um homem dependente, um desses que não pode colocar sua própria meta ou colocar metas para si mesmo. O crente não se pertence, só sabe ser um meio, tem de ser consumido, precisa de alguém que o consuma. Seu instinto fornece a honra mais alta à moral de auto-esvaziamento: tudo persuade para isso, sua inteligência, sua experiência, sua vaidade. Toda forma de crença é em si mesma uma expressão de auto-esvaziamento, e auto-afastamento. (Friedrich Nietzsche, "<i>O Anticristo - Maldição do Cristianismo</i>", Edição Integral,1992, pág. 80)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Homens atrasados e homens antecipadores -</b> O caráter desagradável, que é pleno de desconfiança, que recebe com inveja todos os êxitos de competidores e vizinhos, que é violento e raivoso com opiniões divergentes, mostra que pertence a um estágio anterior da cultura, que é então um resíduo: pois o seu modo de lidar com as pessoas era certo e apropriado para as condições de uma época em que vigorava o "direito dos punhos"; ele é um homem <i>atrasado</i>. Um outro caráter, que prontamente partilha da alegria alheia, que conquista amizades em toda parte, que tem afeição pelo que cresce e vem a ser, que tem prazer com as honras e sucessos de outros e não reivindica o privilégio de sozinho conhecer a verdade, mas é pleno de uma modesta desconfiança - este um homem antecipador, que se move rumo a uma superior cultura humana. O caráter desagradável procede de um tempo em que os toscos fundamentos das relações humanas estavam por ser construídos; o outro vive nos andares superiores destas relações, o mais afastado possível do animal selvagem que encerrado nos porões, sob os fundamentos da cultura, uiva e esbraveja. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 293-294, aforismo 614, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Alienado do presente -</b> Há grandes vantagens em alguma vez alienar-se muito de seu tempo e ser como que arrastado de suas margens, de volta para o oceano das antigas concepções do mundo. Olhando para a costa a partir de lá, abarcamos pela primeira vez sua configuração total, e ao nos reaproximarmos dela teremos a vantagem de, no seu conjunto, entendê-la melhor do que aqueles que nunca a deixaram. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 294, aforismo 616, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Viver -</b> Que significa viver? - Viver - é continuamente afastar de si algo que quer morrer; viver - é ser cruel e implacável com tudo o que em nós, e não apenas em nós , se torna fraco e velho. (Friedrich Nietzsche, "<i>A gaia Ciência</i>", Cia das Letras, ano 2001, Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza, Aforismo 26, pág. 77)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Ser profundo e parecer profundo</b> - Quem sabe que é profundo, busca a clareza; quem deseja parecer profundo para a multidão, procura ser obscuro. Pois a multidão toma por profundo aquilo cujo fundo não vê: ela é medrosa, hesita em entrar na água. (Friedrich Nietzsche, "<i>A gaia Ciência</i>", Cia das Letras, ano 2001, Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza, Aforismo 173, pág. 166)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Pobre -</b> Hoje ele é pobre; mas não porque lhe tiraram tudo, e sim porque jogou tudo fora - que lhe importa isso? Ele está habituado a encontrar. - Pobres são aqueles que não entendem a pobreza voluntária dele. (Friedrich Nietzsche, "<i>A gaia Ciência</i>", Cia das Letras, ano 2001, Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza, Aforismo 185, pág. 169)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Contra os que elogiam -</b> A: "Somos elogiados apenas por nossos iguais!". B: "Sim! E quem o elogia lhe diz: você é meu igual!" (Friedrich Nietzsche, "<i>A gaia Ciência</i>", Cia das Letras, ano 2001, Tradução, notas e posfácio de Paulo César de Souza, Aforismo 190, pág. 170)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Ter espírito filosófico -</b> Habitualmente nos empenhamos em alcançar, ante todas as situações e acontecimentos da vida, uma atitude mental, uma maneira de ver as coisas - sobretudo a isto se chama ter espírito filosófico. Para enriquecer o conhecimento, no entanto, pode ser de mais valor não se uniformizar desse modo, mas escutar a voz suave das diferentes situações da vida; elas trazem consigo suas próprias maneiras de ver. Assim participamos atentamente da vida e da natureza de muitos, não tratando a nós mesmos como um indivíduo fixo, constante, único. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 295, aforismo 618, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Sacrifício -</b> Havendo a escolha, deve-se preferir um grande sacrifício a um pequeno: pois compensamos o grande sacrifício com a auto-admiração, o que não é possível no caso do pequeno. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 295, aforismo 620, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Convicção - </b>Convicção é a crença de estar, em algum ponto do conhecimento, de posse da verdade absoluta. Esta crença pressupõe, então, que existam verdades absolutas; e, igualmente, que tenham sido achados os métodos perfeitos para alcançá-las; por fim, que todo aquele que tem convicções se utilize desses métodos perfeitos. Todas as três asserções demonstram de imediato que o homem das convicções não é o do pensamento científico; ele se encontra na idade da inocência teórica e é uma criança, por mais adulto que seja em outros aspectos. Milênios inteiros, no entanto, viveram com essas pressuposições pueris, e delas brotaram as mais poderosas fontes de energia da humanidade. Os homens inumeráveis que se sacrificaram por suas convicções acreditavam fazê-lo pela verdade absoluta. Nisso estavam todos errados: provavelmente nenhum homem se sacrificou jamais pela verdade; ao menos a expressão dogmática de sua crença terá sido não científica ou semicientífica. Mas realmente queriam ter razão, porque achavam que <i>deviam</i> ter razão. Permitir que lhes fosse arrancada a sua crença talvez significasse pôr em dúvida a sua própria beatitude eterna. Num assunto de tal extrema importância, a "vontade" era perceptivelmente a instigadora do intelecto. A pressuposição de todo crente de qualquer tendência era não <i>poder</i> ser refutado; se os contra-argumentos se mostrassem muito fortes, sempre lhe restava ainda a possibilidade de difamar a razão e até mesmo levantar o <i>credo quia absurdum est</i> [creio porque é absurdo] como bandeira do extremado fanatismo. Não foi o conflito de opiniões que tornou a história tão violenta, mas o conflito da fé nas opiniões, ou seja, das convicções. Se todos aqueles que tiveram em conta a sua convicção, que lhe fizeram sacrifícios de toda não pouparam honra, corpo e vida para servi-la, tivessem dedicado apenas metade de sua energia a investigar com que direito se apegavam a esta ou àquela convicção, por que caminho tinham a ela chegado: como se mostraria pacífica a história da humanidade! Quanto mais conhecimento não haveria! Todas as cruéis cenas, na perseguição aos hereges de toda espécie, nos teriam sido poupadas por duas razões: primeiro, porque os inquisidores teriam inquirido antes de tudo dentro de si mesmos superando a pretensão de defender a verdade absoluta; porque os próprios hereges não teriam demonstrado maior interesse por teses tão mal fundamentadas como as dos sectários e "ortodoxos" religiosos, após tê-las examinado. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 301, aforismo 630, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Convicções -</b> Quem não passou por diversas convicções, mas ficou preso à fé em cuja rede se emaranhou primeiro, é em todas as circunstâncias, justamente por causa dessa imutabilidade, um representante de culturas atrasadas; em conformidade com esta ausência de educação (que sempre pressupõe educabilidade), ele é duro, irrazoável, incorrigível, sem brandura, um eterno desconfiado, um inescrupuloso, que emprega todos os meios para impor sua opinião, por ser incapaz de compreender que têm de existir outras opiniões; assim considerado, ele é talvez uma fonte de força, e em culturas que se tornaram demasiado livres e frouxas é até mesmo salutar, mas apenas porque incita fortemente à oposição; pois a delicada estrutura da nova cultura que é obrigada a lutar contra ele se tornará forte ela mesma. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 302, aforismo 632, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Convicções -</b> Ainda somos, no essencial, os mesmos homens da época da Reforma: como poderia ser diferente? Mas o fato de já não no permitirmos certos meios de contribuir para a vitória de nossa opiniões nos diferencia daquele tempo, e prova que pertencemos a uma cultura superior. Quem ainda hoje combate e derruba opiniões com suspeitas, com acessos de raiva, como se fazia durante a Reforma, revela claramente que teria queimado o seus rivais, se tivesse vivido em outros tempos, e que teria recorrido a todos os meios da Inquisição, se tivesse vivido como adversário da Reforma. Essa Inquisição era razoável na época pois não significava outra coisa senão o estado de sítio que teve de ser proclamado em todo o domínio da Igreja, que, como todo estado de sítio, autorizava os meios mais extremos, com base no pressuposto (que já não partilhamos com aqueles homens) de que a Igreja <i>tinha </i>a verdade, e de que <i>era preciso</i> conservá-la para a salvação da humanidade, a todo custo e com todo sacrifício. Hoje em dia, porém, já não admitimos tão facilmente que alguém possua a verdade: os rigorosos métodos de investigação propagaram desconfiança e cautela bastantes, de modo que todo aquele que defende opiniões com palavras e atos violentos é visto como um inimigo de nossa presente cultura ou, no mínimo, como um atrasado. Realmente: o <i>pathos </i>de possuir a verdade vale hoje bem pouco em relação àquele outro, mais suave e nada altissonante, da busca da verdade, que nunca se cansa de reaprender e reexaminar. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 303, Aforismo 633, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Tempos felizes -</b> Uma época feliz é completamente impossível, porque as pessoas querem desejá-la, mas não tê-la, e todo indivíduo, em seus dias felizes, chega quase a implorar por inquietude e miséria. O destino dos homens se acha disposto para momentos felizes - cada vida humana tem deles -, mas não para tempos felizes. No entanto, estes perduram na fantasia humana como "o que está além dos montes", como uma herança dos antepassados; pois a noção de uma era feliz talvez provenha, desde tempos imemoriais, daquele estado em que o homem, após violentos esforços na caça e na guerra, entrega-se ao repouso, distende os membros e ouve o rumor das asas do sono. Há uma conclusão errada em imaginar, conforme aquele antigo hábito, que após <i>períodos inteiros de carência</i> e fadiga se pode partilhar também aquele estado de felicidade, <i>com intensidade e duração correspondentes.</i> (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 251, Aforismo 471, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="CENTER"><b>Nietzsche, Estado e Política</b></p> <p align="JUSTIFY"><b>O socialismo em vista de seus meios - </b>O socialismo é o visionário irmão mais novo do quase extinto despotismo, do qual quer ser herdeiro; seus esforços, portanto, são reacionários no sentido mais profundo. Pois ele deseja uma plenitude de poder estatal como até hoje somente o despotismo teve, e até mesmo supera o que houve no passado, por aspirar ao aniquilamento formal do indivíduo: o qual ele vê como um luxo injustificado da natureza, que deve aprimorar e transformar num pertinente órgão da comunidade. Devido à afinidade, o socialismo sempre aparece na vizinhança de toda excessiva manifestação de poder, como o velho, típico socialista Platão na corte do tirano da Sicília; ele deseja (e em algumas circunstâncias promove) o cesáreo Estado despótico neste século, porque, como disse, gostaria de vir a ser seu herdeiro. Mas mesmo essa herança não bastaria para os seus objetivos, ele precisa da mais servil submissão de todos os cidadãos ao Estado absoluto, como nunca houve igual; e, já não podendo contar nem mesmo com a antiga piedade religiosa ante o Estado, tendo, queira ou não, que trabalhar incessantemente para a eliminação deste - pois trabalha para a eliminação de todos os <i>Estados</i> existentes -, não pode ter esperança de existir a não ser por curtos períodos, aqui e ali, mediante o terrorismo extremo. Por isso ele se prepara secretamente para governos de terror, e empurra a palavra "justiça" como um prego na cabeça das massas semicultas, para despojá-las totalmente de sua compreensão (depois que esta já sofreu muito com a semi-educação) e criar nelas uma boa consciência para o jogo perverso que deverão jogar. - O socialismo pode servir para ensinar, de modo brutal e enérgico, o perigo que há em todo acumulo de poder estatal, e assim instilar desconfiança do próprio Estado. Quando sua voz áspera se junta ao grito de guerra que diz o máximo de Estado possível, este soa, inicialmente, mais ruidoso do que nunca: mas logo também se ouve, com força tanto maior, o grito contrário que diz: <i>O mínimo de Estado possível. </i>(Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 255-256, Aforismo 473, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>O homem europeu e a destruição das nações (elogio aos judeus) -</b> O comércio e a indústria, a circulação de livros e cartas, a posse comum de toda a cultura superior, a rápida mudança de lar e de região, a atual vida nômade dos que não possuem terra - essas circunstâncias trazem necessariamente um enfraquecimento e por fim uma destruição das nações, ao menos das européias: de modo que a partir delas, em conseqüência de contínuos cruzamentos, deve surgir uma raça mista, a do homem europeu. Hoje em dia o isolamento das nações trabalha contra esse objetivo, de modo consciente ou inconsciente, através da geração de hostilidades nacionais, mas a mistura avança lentamente, apesar dessas momentâneas correntes contrárias: esse nacionalismo artificial é, aliás, tão perigoso como era o catolicismo artificial, pois é na essência um estado de emergência e de sítio que alguns poucos impõem a muitos, e que requer astúcia, mentira e força para manter-se respeitável. Não é o interesse de muitos (dos povos), como se diz, mas sobretudo o interesse de algumas dinastias reinantes, e depois de determinadas classes do comércio e da sociedade, o que impele a esse nacionalismo; uma vez que se tenha reconhecido isto, não é preciso ter medo de proclamar-se um bom europeu e trabalhar ativamente pela fusão das nações: no que os alemães, graças à sua antiga e comprovada qualidade de intérpretes e mediadores dos povos, serão capazes de colaborar. - Diga-se de passagem que o problema dos judeus existe apenas no interior dos Estados nacionais, na medida em que neles a sua energia e superior inteligência, o seu capital de espírito e de vontade, acumulado de geração em geração em prolongada escola de sofrimento, devem preponderar numa escala que desperta inveja e ódio, de modo que em quase todas as nações de hoje - e tanto mais quanto mais nacionalista é a pose que adotam - aumenta a grosseria literária de conduzir os judeus ao matadouro, como bodes expiatórios de todos os males públicos e particulares. Quando a questão não for mais conservar as nações, mas criar uma raça européia mista que seja a mais vigorosa possível, o judeu será um ingrediente tão útil e desejável quanto qualquer outro vestígio nacional. Características desagradáveis, e mesmo perigosas, toda nação, todo indivíduo tem: é cruel exigir que o judeu constitua exceção. Nele essas características podem até ser particularmente perigosas e assustadoras; e talvez o jovem especulador da Bolsa judeu seja a invenção mais repugnante da espécie humana. Apesar disso gostaria de saber o quanto, num balanço geral, devemos relevar num povo que, não sem a culpa de todos nós, teve a mais sofrida história entre todos os povos, e ao qual devemos o mais nobre dos homens (Cristo), o mais puro dos sábios (Spinoza), o mais poderoso dos livros e a lei moral mais eficaz do mundo. E além disso: nos tempos mais sombrios da Idade Média, quando as nuvens asiáticas pesavam sobre a Europa, foram os livres pensadores, eruditos e médicos judeus que, nas mais duras condições pessoais, mantiveram firme a bandeira das Luzes e da independência intelectual, defendendo a Europa contra a Ásia; tampouco se deve menos aos seus esforços o fato de finalmente vir a triunfar uma explicação do mundo mais natural, mais conforme à razão e certamente não mítica, e de o anel da cultura que hoje nos liga às luzes da Antigüidade greco-romana não ter se rompido. Se o cristianismo tudo fez para orientalizar o Ocidente, o judaísmo contribuiu de modo essencial para ocidentalizá-lo de novo: o que, num determinado sentido, significa fazer da missão e da história da Europa uma continuação da grega. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 257-258, Aforismo<b> </b>475<b>, </b>ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Propriedade e Justiça -</b> Quando os socialistas demonstram que a divisão da propriedade, na humanidade de hoje, é conseqüência de inúmeras injustiças e violências, <i>e in summa</i> rejeitam a obrigação para com algo de fundamento tão injusto, eles vêem apenas um aspecto da questão. O passado inteiro da cultura antiga foi construído sobre a violência, a escravidão, o embuste, o erro; mas nós, herdeiros de todas essas situações, e mesmo concreções de todo esse passado, não podemos abolir a nós mesmos, nem nos é permitido querer extrair algum pedaço dele. A disposição injusta se acha também na alma dos que não possuem, eles não são melhores do que os possuidores e não têm prerrogativa moral, pois em algum momentos seus antepassados foram possuidores. O que é necessário não são novas distribuições pela força, mas graduais transformações do pensamento; em cada indivíduo a justiça deve se tornar maior e o instinto de violência mais fraco. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 244, Aforismo 452, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Os perigosos entre os subversivos -</b> Podemos dividir os que pretendem uma subversão da sociedade entre aqueles que desejam alcançar algo para si e aqueles que o desejam para seus filhos e netos. Esses últimos são os mais perigosos; porque têm a fé e a boa consciência do desinteresse. Os demais podem ser contentados com um osso: a sociedade dominante é rica e inteligente o bastante para isso. O perigo começa quando os objetivos se tornam impessoais; os revolucionários movidos por interesse impessoal podem considerar todos os defensores da ordem vigente como pessoalmente interessados, sentindo-se então superiores a eles. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 245, Aforismo 454, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Uma ilusão na doutrina da subversão -</b> Há visionários políticos e sociais que com eloquência e fogosidade pedem a subversão de toda ordem, na crença de que logo em seguida o mais altivo templo da bela humanidade se erguerá por si só. Nestes sonhos perigosos ainda ecoa a superstição de Rousseau, que acredita numa miraculosa, primordial, mas, digamos, soterrada bondade da natureza humana, e que culpa por esse soterramento as instituições da cultura, na forma de sociedade, Estado, educação. Infelizmente aprendemos, com a história, que toda subversão desse tipo traz a ressurreição das mais selvagens energias, dos terrores e excessos das mais remotas épocas, há muito tempo sepultados: e que, portanto, uma subversão pode ser fonte de energia numa humanidade cansada, mas nunca é organizadora, arquiteta, artista, aperfeiçoadora da natureza humana. - Não foi a natureza moderada de Voltaire, com seu pendor a ordenar, purificar e modificar, mas sim as apaixonadas tolices e meias verdades de Rousseau que despertaram o espírito otimista da Revolução, contra o qual eu grito: "<i>Ecrasez l'infâme</i> [Esmaguem o infame]!. Graças a ele o espírito do <i>Iluminismo e da progressiva evolução</i> foi por muito tempo afugentado: vejamos - cada qual dentro de si - se é possível chamá-lo de volta! (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 249, Aforismo 463, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Comedimento -</b> A completa firmeza de pensamento e investigação, ou seja, a liberdade de espírito, quando se tornou qualidade do caráter, traz comedimento na ação: pois enfraquece a avidez, atrai muito da energia existente, para promover objetivos espirituais, e mostra a utilidade parcial ou a inutilidade e o perigo de todas as mudanças repentinas. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 249, Aforismo 464, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Ressurreição do espírito -</b> No leito de enfermo da política, geralmente um povo rejuvenesce e redescobre seu espírito, que ele havia gradualmente perdido ao buscar e assegurar o poder. A cultura deve suas mais altas conquistas aos tempos politicamente debilitados. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 250, Aforismo 465, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY"><b>Instrução pública -</b> Nos grandes Estados a instrução pública será sempre, no melhor dos casos, medíocre, pelo mesmo motivo por que nas grandes cozinhas cozinha-se mediocremente. (Friedrich Nietzsche, "<i>Humano, demasiado humano</i>", Cia de Letras, p. 250, Aforismo 467, ano 2001, São Paulo)</p> <p align="JUSTIFY">Contra o feminismo - Em nenhuma época o sexo fraco foi tratado com tanto reaspeito pelos homens como na nossa - o que é parte da tendência democrática e seu gosto básico, do mesmo modo que </p> <p align="JUSTIFY"><b>Contra o feminismo -</b> Em nenhuma época o sexo fraco foi tratado com tanto respeito pelos homens como na nossa - o que é parte da tendência democrática e seu gosto básico, do mesmo modo que a falta de reverência pela velhice -: como admirar que logo se abuse desse respeito? Querem mais, aprendem a exigir, por fim acham quase ofensivo esse tributo de respeito, preferiam a competição por direitos, até mesmo a luta: em suma, a mulher perde o pudor. Acrescentemos logo que também perde o gosto. Desaprende a temer o homem: mas a mulher que "desaprende o temor" abandona seus instintos mais femininos. Que a mulher ouse avançar quando já não se quer nem se cultiva o que há de amedrontador no homem, mais precisamente o homem no homem, é algo de se esperar e também de compreender; o que dificilmente se compreende é que por isso mesmo a mulher - degenera. Isso acontece hoje: não nos enganemos! Em toda parte onde o espírito industrial venceu o espírito militar e aristocrático, a mulher aspira à independência econômica e legal de um caixeiro: "a mulher como caixeira" - está escrito no portal da sociedade moderna que se forma. Apoderando-se de tal maneira de novos direitos, buscando tornar-se "senhor" e inscrevendo o "progresso- feminino em suas bandeiras e bandeirolas, ela vê realizar-se o contrário, com terrível nitidez: a mulher está em regressão. Desde a Revolução Francesa a influência da mulher na Europa diminuiu, na proporção em que aumentaram seus direitos e exigências; e a "emancipação da mulher", na medida em que é reivindicada e promovida pelas próprias mulheres (e não só por homens de cabeça oca) resulta num sintoma curioso de progressivo enfraquecimento e embotamento dos instintos mais femininos. Há estupidez nesse movimento, uma quase masculina estupidez, da qual uma mulher bem lograda - que é sempre uma mulher sagaz - se envergonharia gravemente. Perder a intuição do terreno onde a vitória é mais segura; descuidar o exercício de sua verdadeira arma; pôr-se a anteceder o homem, chegando talvez "até o livro", quando antes praticava a reserva e uma sutil, astuta submissão; combater, com virtuosa audácia, a crença do homem num ideal radicalmente outro escondido na mulher, num eterno - e necessário - feminino; tentar dissuadir o homem, com insistência e parolice, de que a mulher deve ser cuidada, mantida, protegida, poupada como um animal doméstico bem delicado, curiosamente selvagem e freqüentemente agradável; a procura canhestra e indignada de tudo o que há de escravo e servil na posição da mulher na presente ordem social (como se a escravidão fosse um contra-argumento, e não uma condição de toda cultura elevada, de toda elevação da cultura) - que significa tudo isso, senão uma desagregação dos instintos femininos, uma desfeminização? Certamente não faltam idiotas amigos das senhoras e corruptores da mulher entre os doutos jumentos masculinos, que aconselham a mulher a se desfeminizar dessa maneira e imitar as estupidezes de que sofre o "homem" da Europa, a "masculinidade" européia - que gostariam de rebaixar a mulher á "educação geral" e mesmo à leitura de jornais e à política. Pensa-se inclusive, aqui e ali, em fazer das mulheres livres-pensadores e literatos: como se uma mulher sem religião não fosse, para um homem profundo e ateu, algo totalmente repugnante ou ridículo -: em quase toda parte arruinam os nervos delas com a mais doentia e perigosa espécie de música (nossa mais recente música alemã) e as tornam a cada dia mais histéricas e mais incapacitadas para sua primeira e última ocupação, que é gerar filhos robustos. Querem "cultivá-las" ainda mais e, como dizem, através da cultura tornar forte o "sexo fraco": como se a história não ensinasse, do modo mais premente, que o "cultivo" do ser humano e o enfraquecimento - isto é, enfraquecimento, fragmentação adoecimento da força de vontade - sempre andam juntos, e que as mais poderosas e influentes mulheres do mundo (por último a mãe de Napoleão) deveram seu poder e autoridade junto aos homens à sua força de vontade - e não aos professores! O que na mulher inspira respeito e com freqüência temor é sua natureza, que é "mais natural" que a do homem, sua autêntica astuciosa agilidade ferina, sua garra de tigre por baixo da luva, sua inocência no egoísmo, sua ineducabilidade e selvageria interior, o caráter inapreensível, vasto, errante de seus desejos e virtudes... O que, com todo o temor, desperta compaixão por esse belo e perigoso felino "mulher", é o fato de ela parecer mais sofredora, mais frágil, mais necessitada de amor e condenada à desilusão que qualquer outro animal. Temor e compaixão: Com estes sentimentos o homem colocou-se até agora diante da mulher, sempre com um pé na tragédia, que dilacera ao encantar. - Como? E isso estaria acabando? O desencantamento da mulher está em marcha? Estará surgindo o entediamento da mulher? .... (Para além do Bem e do Mal, Cia das Letras, 2001, nº 239, pág. 145)<br /></p><div style="text-align: left;"><i><p align="CENTER">(Trechos dos livros: "Para além do bem e do mal", "O crepúsculo dos ídolos", </p> <p align="CENTER">"A gaia ciência", "O anti-Cristo", "Humano, demasiado humano")</p></i></div><i> </i>Christiane Foricnitohttp://www.blogger.com/profile/15701277770166618026noreply@blogger.com0